PolĂ­tica Geral

Diretor da CIA disse em julho ao governo brasileiro que Bolsonaro deveria parar de questionar integridade das eleições

Por Por Gabriel Stargardter e Matt Spetalnick

05/05/2022 às 09:32:16 - Atualizado hĂĄ
Isto É

RIO DE JANEIRO/WASHINGTON (Reuters) – O diretor da AgĂȘncia Central de InteligĂȘncia dos Estados Unidos (CIA) disse a autoridades de alto escalão do Brasil no ano passado que o presidente Jair Bolsonaro deveria parar de questionar o sistema eleitoral do paĂ­s antes do pleito de outubro, segundo disseram fontes à Reuters. Os comentĂĄrios do diretor da CIA, William Burns, que ainda não haviam sido levados a pĂșblico, foram feitos em uma reunião a portas fechadas em julho, segundo duas pessoas com conhecimento do assunto, que falaram sob condição de anonimato. Burns era, e continua sendo, a autoridade de maior escalão dos EUA a se reunir em BrasĂ­lia com o governo Bolsonaro desde a eleição do presidente norte-americano, Joe Biden. Uma terceira pessoa em Washington com conhecimento do assunto confirmou que a delegação liderada por Burns havia dito a assessores importantes de Bolsonaro que o presidente deveria parar de minar a confiança do sistema eleitoral do Brasil. A fonte não tinha certeza se foi o próprio diretor da CIA quem expressou a mensagem. A CIA se recusou a comentar. O gabinete de Bolsonaro não respondeu ao pedido por comentĂĄrio. Burns chegou a BrasĂ­lia seis meses depois da invasão de 6 de janeiro ao Capitólio, após a derrota do ex-presidente norte-americano Donald Trump na eleição norte-americana. Bolsonaro, que idolatra Trump, ecoou as alegações sem fundamento do ex-lĂ­der norte-americano de que houve fraude nas eleições de 2020 nos EUA. Ele também fez questionamentos similares sobre o sistema eletrônico de votação do Brasil, classificando-o como suscetĂ­vel a fraudes, sem apresentar evidĂȘncias. Isso gerou medo entre seus adversĂĄrios de que Bolsonaro, perdendo para o ex-presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva nas pesquisas de opinião, estĂĄ semeando a dĂșvida para que possa seguir o exemplo de Trump, rejeitando uma possĂ­vel derrota na votação de outubro. Em vĂĄrias ocasiões, Bolsonaro ventilou a ideia de não aceitar os resultados e atacou repetidas vezes o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Semana passada, em seu mais recente ataque, Bolsonaro sugeriu que os militares deveriam conduzir sua própria contagem de votos, paralelamente ao tribunal. Duas fontes alertaram para uma possĂ­vel crise institucional se Bolsonaro perdesse por uma margem pequena, com muita atenção voltada às Forças Armadas do Brasil, que governaram o paĂ­s entre 1964 e 1985 durante uma ditadura militar celebrada por Bolsonaro. Durante a sua viagem que não foi anunciada, Burns, um diplomata de carreira indicado por Biden ano passado, se reuniu no PalĂĄcio do Planalto com Bolsonaro e dois assessores de alto escalão de inteligĂȘncia –o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e o então chefe da AgĂȘncia Brasileira de InteligĂȘncia (Abin), Alexandre Ramagem. Ambos foram nomeações de Bolsonaro.Burns também jantou na residĂȘncia do embaixador dos EUA com Heleno e o então ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, dois ex-generais. O Exército brasileiro é historicamente próximo da CIA e de outros serviços de inteligĂȘncia dos EUA. No jantar, de acordo com uma das fontes, Heleno e Ramos buscaram minimizar o significado das repetidas alegações de fraude eleitoral feitas por Bolsonaro. Em resposta, segundo a fonte, Burns disse a eles que o processo democrĂĄtico é sagrado, e que Bolsonaro não deveria falar daquela maneira. "Burns estava deixando claro que as eleições não eram uma questão em que eles deveriam se intrometer", disse a fonte, que não estava autorizada a falar em pĂșblico. "Não foi um sermão, foi uma conversa."

ENVIADO DE BIDENNão é comum que diretores da CIA enviem mensagens polĂ­ticas, disseram as fontes. Mas Biden deu poder a Burns, um dos mais experientes diplomatas norte-americanos, para ser um porta-voz discreto da Casa Branca. MĂȘs passado, por exemplo, Burns disse em um discurso pĂșblico que em novembro, quatro meses depois de visitar BrasĂ­lia, Biden o enviou a Moscou "para transmitir diretamente ao (presidente russo Vladimir) Putin e vĂĄrios de seus conselheiros próximos a profundidade da nossa preocupação sobre seus planos de guerra e as consequĂȘncias à RĂșssia" caso eles seguissem em frente. O conteĂșdo dos seus comentĂĄrios em BrasĂ­lia foi reforçado este mĂȘs, após sua viagem, quando o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, visitou Bolsonaro e expressou preocupações similares sobre os ataques à confiança das eleições. No entanto, a mensagem da delegação de Burns foi mais forte que a de Sullivan, disse a fonte que mora em Washington, sem entrar em mais detalhes. "É importante que brasileiros tenham confiança nos seus sistemas eleitorais", disse uma autoridade do Departamento de Estado dos EUA em comunicado, em resposta a um pedido por comentĂĄrios, acrescentando que os Estados Unidos confiam nas instituições brasileiras, incluindo eleições livres, justas e transparentes. No Ășltimo sĂĄbado, no entanto, em mais um sinal de inquietação entre o establishment da polĂ­tica externa de Washington, o ex-cônsul dos EUA no Rio de Janeiro escreveu em um jornal brasileiro que os Estados Unidos deveriam deixar claro a Bolsonaro que qualquer tentativa de minar as eleições deveria gerar sanções multilaterais.

Biden e Bolsonaro ainda não comentaram.

Durante a campanha presidencial norte-americana de 2020, os dois entraram em conflito em relação ao histórico ambiental de Bolsonaro, e ele foi um dos Ășltimos lĂ­deres mundiais a reconhecer a vitória de Biden sobre Trump. Autoridades em Washington tentaram melhorar os laços com BrasĂ­lia nas Ășltimas semanas, e os presidentes das duas maiores nações do Hemisfério Ocidental podem se reunir em pessoa em breve, se Bolsonaro comparecer à CĂșpula das Américas, marcada para junho em Los Angeles.

Fonte: Isto É
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