PolĂ­tica

Sob pressão de PEC, órgão do MP analisa processo contra membros da Lava Jato do RJ

Por Da Redação

18/10/2021 às 17:44:50 - Atualizado hĂĄ
Notícias Ao Minuto

Além da proposta em debate na Câmara dos Deputados, dois conselheiros que analisam o caso aguardam a votação no Senado para recondução ao cargo -um deles jĂĄ votou pela abertura de processo e a favor da demissão do grupo.

Neste cenĂĄrio, o conselho analisa a reclamação disciplinar assinada pelos ex-ministros Romero JucĂĄ, Edison Lobão e seu filho MĂĄrcio Lobão contra os procuradores do Rio de Janeiro.

A discussão gira em torno de um release (texto da assessoria de comunicação do Ministério PĂșblico Federal) sobre uma denĂșncia da força-tarefa contra os trĂȘs sob acusação de recebimento de propina na construção da usina nuclear de Angra 3.

A defesa dos acusados alega que, no momento do oferecimento da denĂșncia, em 9 de março de 2021, as informações estavam sob sigilo, motivo pelo qual não poderiam ter sido divulgadas. O texto foi divulgado no dia seguinte à acusação, e a restrição só foi derrubada oito dias depois, por decisão judicial.

Os procuradores afirmam que a divulgação do oferecimento de denĂșncia é prĂĄtica comum no Ministério PĂșblico Federal, obedecendo o princĂ­pio da publicidade e do interesse pĂșblico.

Além disso, declaram que o perĂ­odo no qual a ação penal ficou sob sigilo decorreu de uma falha no sistema da Justiça Federal, que estendeu à acusação o mesmo status do processo de investigação, esta com acesso restrito.

No mĂȘs passado, o corregedor do CNMP, Rinaldo Reis Lima, votou favoravelmente à abertura do processo e sugeriu a demissão dos procuradores ao fim do procedimento.

Ele afirmou que entre o oferecimento da denĂșncia, no dia 9 de março, e o fim do sigilo do processo, no dia 18 de março, a juĂ­za Caroline Figueiredo ratificou temporariamente a manuntenção da restrição de acesso.

"Ao receber a denĂșncia no dia 16 de março, a juĂ­za determinou a manutenção do sigilo nĂ­vel 3 até o cumprimento de medidas cautelares. [...] Estamos diante do descumprimento de dever legal de sigilo sobre algo alcançado em razão da função exercida na atividade fim", disse o corregedor.

A força-tarefa juntou na defesa um ofĂ­cio da magistrada responsĂĄvel pelo processo no qual afirma não haver na denĂșncia "qualquer dado ou informação de natureza sigilosa". Ela diz que o sigilo mantido tinha como Ășnico objetivo "garantir a medida cautelar de indisponibilidade de bens".

O julgamento foi interrompido por um pedido de vista (mais tempo para anĂĄlise) e deve ser retomado nas sessões previstas para esta segunda-feira (18) e terça-feira (19). A expectativa é que o caso seja analisado, jĂĄ que o mandato de sete conselheiros se encerra esta semana.

Dois deles aguardam a aprovação do Senado para a recondução: o corregedor Reis Lima, que jĂĄ votou contra os procuradores, e o conselheiro Oswaldo D'Albuquerque.

Na Câmara, o CNMP é alvo da PEC que amplia o nĂșmero de membros do Conselho de 14 para 17, aumentando de 2 para 5 as cadeiras para indicação pelo Congresso.

Uma das vagas para indicação do Legislativo seria justamente a de corregedor, responsĂĄvel pela anĂĄlise das denĂșncias contra membros dos ministérios pĂșblicos.

Defensores da alteração afirmam que é necessĂĄrio tornar o órgão mais eficiente e rigoroso em relação às infrações cometidas por procuradores. Associações de classe do Ministério PĂșblico, por sua vez, dizem que ela representa uma tentativa de ingerĂȘncia polĂ­tica no órgão.

O presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da RepĂșblica), Ubiratan Cazetta, afirma que o debate sobre a PEC e a indefinição sobre a recondução podem interferir no julgamento dos procuradores da Lava Jato do Rio, ainda que não haja informações objetivas sobre essa influĂȘncia.

"É um órgão sob intensa crĂ­tica na questão da PEC e tem o contexto de que qualquer movimento em falso pode significar uma leitura do Senado de que o conselheiro não representa confiança. Mas é só uma percepção", disse ele.

O advogado de Lobão e JucĂĄ, FĂĄbio Medina Osório, descarta a possibilidade de influĂȘncia.

"O debate da PEC não deve influenciar. Os julgamentos do CNMP tĂȘm sido totalmente técnicos e baseados na prova dos autos. Se algo diferente disso acontecesse, seria uma surpresa", afirmou.

O defensor dos procuradores, EugĂȘnio Pacelli, acredita que a crĂ­tica aos abusos cometidos por procuradores da Lava Jato de Curitiba também contamina o processo contra os membros do MPF fluminense.

"A crĂ­tica pós-Lava Jato, merecida em vĂĄrios pontos, contribui para que se forme na elite polĂ­tica uma resistĂȘncia meio arbitrĂĄria aos membros do MP. O que eu vejo neste caso é que hĂĄ uma mĂĄ vontade pós-lavajatista, e contribui um desejo permanente de retaliação", disse o advogado.

"Os procuradores do Rio não fizeram nada além do que é feito em todo o Brasil. Subiram release sobre processos, sobre conteĂșdo sem omitir nomes", afirmou Pacelli.

Medina Osório afirma que o sigilo imposto à investigação deveria ter sido mantido na denĂșncia até uma decisão judicial que autorizasse a publicidade. Ele criticou o ofĂ­cio expedido pela juĂ­za, usado na defesa dos procuradores.

"Não cabe à juĂ­za fornecer informações para suplementar fundamentações fora dos autos para suas próprias decisões. Acreditamos que ela prestou esse depoimento com o intuito de, talvez, trazer um ponto de vista favorĂĄvel aos procuradores", disse o advogado dos acusados.

Na sexta-feira (15), a Câmara de Combate à Corrupção do MPF aprovou uma orientação para que procuradores em todo o paĂ­s divulguem suas denĂșncias, independentemente do grau de sigilo durante a fase de investigações. A diretriz sugere apenas que as informações de natureza restrita sejam suprimidas dos dados divulgados.

Para Cazetta, a orientação reforça a regularidade da atuação dos procuradores do Rio de Janeiro no caso. Medina Osório criticou a aprovação da diretriz às vésperas do julgamento que trata do tema.

"Essa matéria não estĂĄ prevista nas atribuições legais naquela Câmara. O sigilo não é matéria especĂ­fica de membros especializados no tratamento à corrupção, mas de toda a carreira do MPF e de todo o Ministério PĂșblico brasileiro. A orientação acaba por favorecer uma das teses dos investigados. Constitui um desrespeito ao CNMP", afirmou ele.

Fonte: NotĂ­cias Ao Minuto
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