O Estado Islâmico (EI) usou seu canal no Telegram para reivindicar a autoria do ataque terrorista que deixou dois cidadãos suecos mortos na segunda-feira (16) em Bruxelas, na Bélgica.
O Estado Islâmico (EI) usou seu canal no Telegram para reivindicar a autoria do ataque terrorista que deixou dois cidadãos suecos mortos na segunda-feira (16) em Bruxelas, na Bélgica. As informações são da agência Reuters.
O autor do atentado, um tunisiano que vivia ilegalmente na Bélgica após ter seu pedido de asilo negado, chegou a gravar um vídeo antes do ataque. Ele se identificou como Abdesalem Al Guilani e disse ter se inspirado no EI, que agora oficializou a relação.
Segundo autoridades, nas imagens ele diz também que foi motivado a atacar cidadãos suecos devido aos recentes protestos ocorridos na Suécia nos quais cópias do Alcorão foram queimadas. No vídeo, o terrorista diz que o livro sagrado é "uma linha vermelha" pela qual estaria "pronto para se sacrificar."
O ataque de segunda foi filmado, com diversos vídeos circulando na internet. Eles mostram um indivíduo vestindo blusa laranja e portando um rifle, que desce de uma moto e dispara algumas vezes. Depois, ele segue algumas pessoas para dentro de um prédio e faz novos disparos.
The moment of gunman attack in Brussels, an eyewitness on X says he targets the Swedish citizens to avenge insults against Islam https://t.co/Whs7uUOPcO
— Ragıp Soylu (@ragipsoylu) October 16, 2023
Os suecos estavam em Bruxelas para um jogo de futebol entre Bélgica e Suécia válido pelas Eliminatórias da Eurocopa 2024, o campeonato europeu da modalidade. A partida foi suspensa no intervalo, quando os atleta das duas seleções tomaram conhecimento do ataque e optaram por não voltar ao gramado.
Três vítimas foram confirmadas, duas delas fatais. Uma terceira foi ferida, levada ao hospital e está fora de risco. O terrorista conseguiu fugir, dando início a uma caçada humana. Na terça (17), ele foi identificado por uma pessoa que alertou as autoridades. Cercado, foi morto pelas forças de segurança belgas.
O EI passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do "califado" criado pela facão extremista na Síria.
De acordo com relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o EI "continua a comandar entre cinco mil e sete mil membros em todo o Iraque e na República Árabe da Síria, a maioria dos quais combatentes." No entanto, "adotou deliberadamente uma estratégia para reduzir os ataques, a fim de facilitar o recrutamento e a reorganização."
Atualmente, a maioria dos líderes do EI permanece no noroeste da Síria, mas "o grupo realocou algumas figuras-chave para outros lugares." Um continente de forte presença da organização é a África, com afiliados locais representando uma ameaça constante aos governos da região.
Um desses afiliados é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali e, em menor escala, em Burkina Faso e no Níger. Recentemente, tem feito esforços para estabelecer "um corredor para a Nigéria para fins logísticos, de abastecimento e recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP" (Estado Islâmico da África Ocidental).
A avaliação da equipe de monitoramento da ONU, entregue ao Conselho de Segurança no final de julho, surge em meio a mais um momento crucial da luta contra o terrorismo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo.
O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.
"Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente", diz o relatório, citando a África como uma região de particular preocupação.
Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama'a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista Veja mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam "preocupação enorme", vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
"A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real", diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro "Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin" (editora Escrituras). "O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país". Saiba mais.