Segundo o urologista e cirurgião oncológico Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do IUCR e coordenador geral dos Departamentos CirĂșrgicos Oncológicos do grupo BP-A BeneficĂȘncia Portuguesa de São Paulo, as substâncias tóxicas do cigarro são eliminadas pelo rim e agridem a parede da bexiga.
"O caminho percorrido no corpo pela fumaça do cigarro é devastador para a bexiga e para os demais órgãos por onde passa", afirma o médico.
"O fumo tem centenas de produtos quĂmicos ligados a ele. Pelo menos 40 são comprovadamente cancerĂgenos. O tabaco in natura jĂĄ é ruim, mas trabalhado pela indĂșstria é ainda pior, porque hĂĄ uma concentração maior desses carcinógenos, que pela respiração vão para o pulmão, para a corrente sanguĂnea e circulam pelo corpo inteiro", explica Guimarães.
Os efeitos do tabaco são de longo prazo. Mesmo que a pessoa pare de fumar, o corpo pode demorar de 10 a 20 anos para eliminar essas substâncias cancerĂgenas. "O fumante ativo e o passivo estão sob um risco enorme de doenças. Quanto maior o consumo e o tempo de consumo, maior esse risco", diz o especialista.
De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), as estimativas para cada ano do triĂȘnio 2023-2025 é que pouco mais de 11,3 mil pessoas recebam o diagnóstico de câncer de bexiga no Brasil, sendo 7.800 homens e 3.500 mulheres.
O fato de a doença ser mais frequente em homens também pode ter o cigarro como uma das explicações: eles fumam mais.
O câncer de bexiga acomete, principalmente, pessoas a partir dos 55 anos -com pico de incidĂȘncia entre os 60 e 70 anos- e é duas vezes mais comum em brancos do que em negros.
Tumores na bexiga são, em grande maioria, assintomĂĄticos. Quando hĂĄ sintomas iniciais, são leves: um pouco de irritação ao urinar e sangramento discreto.
É importante ressaltar que identificar sangue na urina não significa ter câncer na bexiga. A causa pode ser uma infecção, pedras nos rins ou doenças renais benignas. Por isso, a avaliação médica é indispensĂĄvel.
Outros sinais de alerta são dificuldade para urinar ou fluxo de urina fraco, dor, ardĂȘncia, desconforto, micção frequente e urgĂȘncia em urinar, mesmo quando a bexiga não estĂĄ cheia. Podem aparecer os indĂcios de metĂĄstase, como dor nos ossos e dificuldade respiratória. O câncer de bexiga tende a se espalhar para os gânglios linfĂĄticos, os ossos e pulmões.
"Tumores na bexiga tĂȘm alta possibilidade de retorno. Eles são altamente mortais, mas, se descoberto no inĂcio e for superficial, as chances de cura são acima de 90%, 95%", afirma o urologista.
"Quando o tumor infiltra na musculatura da bexiga, mesmo com cirurgia, quimioterapia e radioterapia, essas chances caem drasticamente -50% dos pacientes morrem em cinco anos", diz Guimarães.
Em caso de metĂĄstase, a possibilidade de cura fica abaixo de 10%, segundo levantamento da American Cancer Society.
Segundo a OMS (Organização Mundial da SaĂșde), o uso do tabaco é fator de risco para doença cardiovascular, doença respiratória crônica, câncer e diabetes. Estima-se que a mortalidade atribuĂda especificamente ao tabaco é de 12% em todo o mundo e de 16% nas Américas.
OUTRAS CONSEQUĂNCIAS DO TABACO
Segundo o pneumologista Paulo CorrĂȘa, coordenador da Comissão CientĂfica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, o cigarro é responsĂĄvel por 30% de todos os cânceres -bexiga, pulmão, esôfago, lĂĄbio, colo de Ăștero e outros.
"As doenças cardiovasculares são as que mais matam pelo cigarro, também os AVCs. Nas doenças respiratórias hĂĄ um aumento da suscetibilidade a infecções das mais variadas naturezas, da DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica). Em fumantes, cresce a mortalidade por tuberculose", afirma.
CorrĂȘa explica que qualquer nĂvel de exposição ao cigarro é considerado inseguro. "É como se fosse uma caderneta de poupança de doenças. VocĂȘ vai investindo na sua poupança até que o copo transborda."
De acordo com o pneumologista, parar de fumar até os 35 anos não altera a expectativa de vida. Após essa idade, diminui progressivamente a quantidade e qualidade dos anos vividos.
"O cigarro alonga o perĂodo de limitação da qualidade de vida para as coisas do dia a dia. Quem tem DPOC, por exemplo, não consegue pegar uma mala no armĂĄrio, tomar um banho ou amarrar um sapato sem sentir falta de ar", diz CorrĂȘa.
O que causa a dependĂȘncia do cigarro?
A nicotina, presente em qualquer derivado do tabaco, possui propriedades psicoativas. Ao ser inalada, pode induzir ao abuso e dependĂȘncia. Apesar de ser a principal substância presente no cigarro que cria dependĂȘncia, ela não age sozinha. HĂĄ outras que potencializam esse efeito, como por exemplo, o acetaldeĂdo, também presente no cigarro eletrônico.
Além da nicotina, a heroĂna e a cocaĂna são as que mais causam dependĂȘncia. Toda droga fumada chega muito rĂĄpido ao cérebro. Leva de 6 a 10 segundos, segundo Paulo CorrĂȘa.
"Parar de fumar significa diminuir o risco das doenças associadas ao tabaco. O problema é que para cada doença hĂĄ um tempo diferente para igualar ao risco de quem nunca fumou", explica o médico.
O SUS (Sistema Ănico de SaĂșde) oferece tratamento gratuito a quem deseja parar de fumar. Interessados devem se informar em uma UBS (Unidade BĂĄsica de SaĂșde) ou Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas).