Geral Karin Romanó

Caiobá de antigamente

Por Da Redação

21/04/2023 às 11:26:16 - Atualizado há

O ano era 1940 e o mês era início de novembro. Não era comum a ida à praia nessa época. O período das férias escolares ainda não havia começado.

 

E viajar para a praia não era tarefa simples, que podia ser decidida de última hora.

 

O percurso levava umas 5 horas para os que tinham carro.

 

A descida era pela Estrada da Graciosa, já com pequenos trechos de paralelepípedos mas boa parte de macadame.

 

Muita poeira e dificuldades. Ao término da descida, passando por dentro das cidades como Morretes e já alcançando as retas, havia muita banana sempre à venda em cachos.

 

A gente comprava um cacho enorme de banana bem verde e aquilo ia rápido.

 

Uns 5 km antes de chegar ao centro de Paranaguá, pegava-se uma estradinha à direita que ia até Praia de Leste.

 

Eram 25 kilometros de areia fofa e terra. Assim como o estepe, a pá era presença obrigatória no porta malas. Ao chegar em Praia de Leste, fim da estradinha.

 

Para chegar em Matinhos e Caiobá, agora tinha que ser pela areia da praia mesmo.

 

E exigia o conhecimento das marés. O ideal era passar logo após a maré alta, quando a areia estava molhada e firme. Se bobeasse e pegasse o horário que a maré estava subindo, corria-se o risco da areia da praia sumir e ter que esperar o dia seguinte no meio da restinga.

 

Se encalhava, todos saiam do carro para empurrar. Mulheres e crianças maiores também.

 

Colocava-se gravetos e pedaços de galhos quase debaixo das rodas, que afundavam cada vez mais ao se acelerar.

 

Alguns caboclos sempre apareciam para ajudar esperando alguns trocados. Com mais experiência, levantavam o carro na traseira enquanto empurravam para a frente tentando tirar a roda afundada na areia.

 

E tinha os vários riozinhos que atravessavam a faixa de areia e desaguavam no mar. Sempre uma armadilha!

 

Em um deles, mais largo e volumoso (Rio Perequê ou Pequerê), já ficava um carro de boi à espera para amarrar uma corda no pára-choques do motorista encalhado.

 

Ao chegar finalmente em Caiobá era tudo calmaria. Ventinho frio (vento sul) no mês de julho exigia sempre agasalhos.

 

No começo só se ia mesmo para Caiobá e Matinhos no mês de julho. Por causa da malária, ou maleita, como chamavam. O Lico, que aparece na foto, pegou a maleita certa vez.

 

Com o tempo e com o uso de alguns remédios preventivos e curativos como a Atebrina, o uso de telas nas janelas, o costume de fechar todas as janelas e portas ao entardecer e não sair de casa depois do crepúsculo, encorajou as pessoas a irem também nos meses quentes.

 

A luz elétrica era fornecida durante 2 horas por um motor à diesel. Ligava às 19h00 e desligava as 21h00.

 

Depois, somente dormir e para as necessidades noturnas e os insones, somente a luz de velas ou lampiões à querosene. A oferta era restrita e servia só para lâmpadas. Não dava para ligar nada elétrico. Bom, quase não se tinha nada elétrico mesmo.

 

Dona Bertha Nickel, mãe do Lico (o mais novo loirinho da foto) levava no carro até uma gaiola com galinhas. Assim tinha ovos, podia fazer bolos e sobremesas e até cozinhar uma, às vezes.

 

Na calmaria de Caiobá dos anos 40, onde havia somente umas vinte casas de famílias conhecidas, uma charrete provavelmente fabricada pelos Marchiorato (ou ao menos as rodas), os primos passeiam pelas areias.

 

O cavalo leva os arreios que eram fabricados pelos seleiros, devidamente ferrado com ferraduras protegendo os cascos. Esse trabalho era feito pelos ferreiros. Profissões que foram desaparecendo.

 

Os antolhos era para o cavalo não se dispersar olhando em volta. Também para não se assustar e proteger os olhos da claridade do sol.

 

Na verdade, não fosse a claridade, nem precisava. Servia mais como um óculos de sol mesmo pois parecia ser um daqueles cavalos mansos acostumados ao trajeto, que já faziam sozinhos o caminho de ida e volta sem nem precisar conduzir.

 

Nessa época os quatro rapazes eram primos. Depois viraram também cunhados, quando o mais novinho casou com a irmã dos outros. Isso era costume comum entre as famílias tradicionais.

 

Em pé está o Luiz Alberto Romanó. Sentado de casaco está o meu pai, Ney Romanó. O loiro sentado era o Ruy Romanó e o louro de pé, menor, era o Luis Guilherme Nickel Neto (Lico).

 

De todos, somente está vivo o Ruy – 95 anos – mas quem contou a história foi o Lico (Luiz Guilherme Nickel Neto) e algumas informações que tinha esquecido e outras mais peguei no texto escrito por Affonso Groetzner (i.m) no texto: O Caminho do Mar.

 

DIA DAS MÃES chegando e sugestão: Livro MEMÓRIAS DE CURITIBA (R$ 44). Envio qualquer cidade do Brasil (R$ 11,65). Fone (41) 99810-0423

 

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Fonte: Hoje PR
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