SaĂșde

Tratamentos sem medicação são alternativa promissora contra a demência

Por Notícias Ao Minuto

17/04/2023 às 21:00:25 - Atualizado hĂĄ
Notícias Ao Minuto

Rita Ferreira, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das ClĂ­nicas da USP (Universidade de São Paulo), afirma que esses procedimentos são tão importantes quanto o uso dos remédios. Por meio deles é possĂ­vel preservar habilidades cognitivas do paciente e evitar o surgimento de novos sintomas, sejam eles neuropsiquiĂĄtricos, psicológicos ou comportamentais.

Esses benefĂ­cios foram vistos também por pesquisadores chineses, que combinaram os resultados de 41 pesquisas cientĂ­ficas diferentes em uma meta-anĂĄlise. Publicado na revista cientĂ­fica Nursing Open, o artigo mostra que essas terapias podem melhorar tanto as funções cognitivas dos pacientes quanto sua condição psicológica.

Estima-se que entre 60 e 98% das pessoas com demĂȘncia experimentam problemas como depressão e ansiedade. Usando métodos estatĂ­sticos, os especialistas concluĂ­ram que recreação terapĂȘutica, massoterapia e, principalmente, terapia comportamental e enfermagem individualizada são técnicas eficientes para prevenir esses sintomas. JĂĄ em relação à cognição, o trabalho de reminiscĂȘncia foi aquele que se provou mais eficaz.

A técnica consiste em conversar com o paciente sobre as memórias do passado. Segundo os autores, é uma estratégia sensata recorrer às lembranças mais remotas se a pessoa tem dificuldade de se lembrar de acontecimentos mais recentes. Além de exercitar o cérebro, traz segurança para o idoso, que se sente confiante ao falar das experiĂȘncias anteriores.

Entre muitas intervenções disponĂ­veis, Ferreira chama a atenção para o papel da reabilitação cognitiva. Nos quadros mais leves, segundo ela, a pessoa com demĂȘncia consegue desenvolver ferramentas para lidar com as questões do cotidiano usando ferramentas como o celular ou um diĂĄrio. Em pacientes mais avançados, a estimulação cognitiva através de quebra-cabeças, terapia ocupacional e atividade fĂ­sica, por exemplo, tĂȘm papel prevalente.

Apesar das perspectivas promissoras, o professor Arthur Schelp, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), diz que é difĂ­cil comprovar a eficiĂȘncia dessas terapias em estudos cientĂ­ficos. Para algumas intervenções, não é possĂ­vel aplicar um ensaio clĂ­nico duplo-cego randomizado controlado por placebo, como é feito com medicamentos, e que garante a confiabilidade dos resultados. É o caso da fototerapia. A exposição controlada à luz artificial pode promover melhoria das funções cognitivas do paciente, como mostram estudos reunidos em uma meta-anĂĄlise publicada na revista cientĂ­fica Brain and Behavior.

Os autores do trabalho dizem que o tratamento pode compensar a perda sensorial dos pacientes e ajudar na regulação do ciclo circadiano, fundamental para o controle da função cerebral e para conter o avanço de demĂȘncias, inclusive o Alzheimer. Segundo o pesquisador da Unesp, entretanto, resultados positivos também podem ser obtidos com atitudes mais simples, como o banho de sol diĂĄrio.

A atenção às pessoas em torno dos pacientes também é uma intervenção importante. Um estudo recente comparou o custo-benefĂ­cio de planos de tratamento americanos para demĂȘncia que não fazem uso de remédio, mas são focados, sobretudo, na assistĂȘncia aos próprios cuidadores.

Os resultados, publicados na revista cientĂ­fica Journal of the Alzheimer's Association, mostrou, em primeiro lugar, que esses métodos melhoraram a qualidade de vida dos pacientes e reduziram o nĂșmero de internações em casas de repouso. Além disso, este tipo de intervenção permite uma economia de 3 a 13 mil dólares (de R$ 14 mil a R$ 64 mil ) em custos sociais.

Em termos financeiros, Rita Ferreira diz que a melhor alternativa é associar os dois tipos de tratamento, com e sem medicação. Mas os custos de implementação necessĂĄrios para construir uma infraestrutura e contratar os profissionais ainda são uma barreira.

"O ideal é que tivéssemos hospital-dia, onde ele pudesse ir de manhã e receber todo acompanhamento necessĂĄrio", afirma. A especialista destaca a importância de olhar também para a qualidade de vida dos cuidadores, muitas vezes familiares. No paĂ­s, a Associação Brasileira de Alzheimer oferece grupos de apoio e treinamentos para esse pĂșblico.

Os principais medicamentos tratam os sintomas da neurodegeneração, mas nos Ășltimos anos a indĂșstria farmacĂȘutica tem voltado sua atenção ao desenvolvimento de novos fĂĄrmacos para a prevenção da doença.

Os investimentos, porém, ainda não trazem os resultados esperados. A grande promessa dos Ășltimos anos, os anti beta-amiloides, começaram a apresentar resultados positivos no final de 2022, e ainda assim, aquém das perspectivas dos especialistas. No começo deste ano, a FDA (agĂȘncia americana reguladora de medicamentos e alimentos) aprovou o uso de mais uma dessas drogas, o lecanemab.

Por outro lado, avanços no diagnóstico precoce acendem um horizonte de mais esperança entre neurologistas. Quando detectadas ainda nos primeiros estĂĄgios, a maioria das demĂȘncias pode ser tratada e sua evolução diminuĂ­da a tempo de garantir qualidade de vida para pacientes e suas famĂ­lias.

"Alzheimer ainda não tem cura. O que podemos tentar fazer é retardar o avanço da doença", afirma o professor Schelp.

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