O ex-prefeito de Palmeira, Edir Havrechaki, foi denunciado pelo Ministério PĂșblico do ParanĂĄ (MPPR) pelos crimes de prevaricação e falsidade ideológica. Conforme o documento, as irregularidades foram observadas em processos referentes à compra de postes junto à Companhia Paranaense de Energia (Copel). A investigação também envolve a empresa Feltrin Construções Elétricas.
A denĂșncia aponta que Havrechaki teria, em cinco oportunidades, inserido declarações falsas em documentos pĂșblicos. Os ofĂcios simulavam a aquisição dos materiais pela Prefeitura. No entanto, os postes eram pagos e efetivamente retirados por representantes da empresa privada. Para o crime de falsidade ideológica, o artigo nÂș 299 do código penal prevĂȘ, em caso de condenação, uma pena de reclusão de um a cinco anos, e multa, se o documento é pĂșblico.
O Ministério PĂșblico também aponta que o ex-prefeito praticou nove vezes o crime de prevaricação. Nestas oportunidades, além dos cinco documentos citados anteriormente, o ex-prefeito teria expedido quatro autorizações para retirada dos materiais em nome de dois funcionĂĄrios da Feltrin. O MPPR aponta que Havrechaki teria realizado esse processo a fim de propiciar o acesso da empresa ao material adquirido irregularmente, a fim de satisfazer interesse ou sentimento pessoal, o que configura a prĂĄtica de prevaricação. Segundo o artigo nÂș 319 do Código Penal, em caso de condenação, a pena prevista para o crime é de detenção, de trĂȘs meses a um ano, e multa.
Relembre o caso
Segundo as informações apuradas pelo Portal aRede e Jornal da Manhã, as irregularidades teriam ocorrido entre os dias 15 de dezembro de 2016 e 15 de junho de 2020. Neste perĂodo, o municĂpio teria realizado a compra de 13,1 mil metros lineares de postes de concreto e madeira junto à Copel. No entanto, os materiais, bem como os documentos que comprovariam o pagamento, não foram localizados. A fiscalização foi conduzida inicialmente pelo então presidente da Câmara, Egon Krambeck, e apresentada pelo Legislativo ainda em 2021.
A partir da atuação da Câmara, a Copel forneceu todos os documentos referentes às compras registradas no perĂodo de 2016 a 2020. Eles afirmam que toda parte burocrĂĄtica da negociação foi feita pela Prefeitura Municipal de Palmeira, e o pagamento foi efetuado por empresas privadas. Além disso, o dossiĂȘ traz documentos assinados pelo então prefeito, Edir Havrechaki, autorizando veĂculos para fazer a retirada dos materiais.
Ao todo, houve 41 entregas de postes para a Prefeitura registradas em notas fiscais, onde constam todos os dados das operações, inclusive canhotos de entregas assinados por pessoas indicadas pelo ex-prefeito. A denĂșncia criminal feita ao Ministério PĂșblico traz um eventual benefĂcio à empresa em questão, uma vez que ela teria adquirido os postes em quantidades personalizadas e em valores potencialmente mais baixos.
Acordos firmados trazem multas e punições
A reportagem teve acesso aos Acordos de Não Persecução Civil (ANPC) firmados entre o Ministério PĂșblico e os envolvidos nas irregularidades. O primeiro, firmado com Edir Havrechaki, impôs a ele o pagamento de multa civil no valor de R$ 18 mil e indenização por danos morais coletivos, no valor de R$ 5 mil, além da suspensão de direitos polĂticos por seis meses. O segundo, junto à empresa, prevĂȘ multa de R$ 7 mil e indenização de R$ 5 mil por danos morais.
Gestão municipal se pronunciou a respeito dos termos estabelecidos em Acordos de Não Persecução Civil | Foto: Arquivo/aRede
Prefeitura é contra os valores estabelecidos
A Prefeitura Municipal de Palmeira se manifestou de maneira contrĂĄria aos valores estabelecidos no Acordo de Não Persecução Civil (ANPC), elaborado entre os acusados no processo de compra irregular de postes e o Ministério PĂșblico. Um ofĂcio assinado pelo atual prefeito, Sérgio Belich (União), aponta que houve uma redução considerĂĄvel nos valores que previam pagamento de multa civil e de indenização por danos morais coletivos. Além disso, o documento questiona a redução do perĂodo de suspensão de direitos polĂticos de Edir Havrechaki.
"Considerando ambos os investigados, a proposta inicial previa um total de multa civil e indenização a tĂtulo de danos morais coletivos de R$ 200 mil, sendo que os acordos firmados, somados, atingem a monta de R$ 35 mil, uma redução total de 82,5%", diz um trecho do documento. "Relativamente à suspensão de direitos polĂticos, considerando a proposta de 24 meses (2 anos), a redução para 6 meses representa uma diminuição de 75% da proposta inicial. Neste particular observo que a medida não representa absolutamente nenhuma punição, posto que, neste perĂodo, o infrator sequer serĂĄ tolhido de participar de votação, não serĂĄ impedido de concorrer a qualquer cargo pĂșblico eletivo", contesta.
No ofĂcio, a gestão também alega que o representante legal do MunicĂpio de Palmeira, que acompanhou o ato de elaboração do ANPC, muito embora ocupe o cargo de Procurador-Geral, não detém alçada para celebração de acordos superiores a 20 salĂĄrios mĂnimos. "Certamente uma das razões pelas quais se eximiu de anuir com o acordo", disse.
Combate à corrupção
Por fim, o poder Executivo de Palmeira entende que "o acordo firmado acaba por minimizar as graves condutas que restaram indubitavelmente comprovadas, não serve para punir, tampouco para desencorajar condutas ilĂcitas de agentes pĂșblicos e, em Ășltima anĂĄlise, desacreditar a efetividade da justiça". O municĂpio solicitou a não homologação dos acordos firmados entre os acusados e o Ministério PĂșblico Estadual.
Procurador-geral se manifesta
O procurador-geral de Palmiera, Carlos Mezzadri, se manifestou a respeito do posicionamento adotado na elaboração do ANPC. Ele destacou que, muito embora entenda que não detenha competĂȘncia especĂfica sobre os termos do ANPC, o municĂpio, como interessado direto, dispõe da prerrogativa de anuir ou não com os termos, posto que a lei expressamente prevĂȘ a possibilidade de oitiva do Ente Federativo, anterior ou posteriormente à celebração do acordo.
Ex-prefeito Edir Havrechaki esteve à frente do Executivo de Palmeira por dois mandatos, entre 2013 e 2016; e 2017 e 2020 | Foto: Reprodução / Redes Sociais
Havrechaki se pronuncia sobre as acusações
Ao Jornal da Manhã e Portal aRede, o ex-prefeito Edir se manifestou sobre as acusações. "O acordo jĂĄ foi feito e proposto no Ministério PĂșblico. Toda essa execução não causou prejuĂzo ao municĂpio. O municĂpio não teve desembolso nenhum. A empresa adquiria, pagava e retirava os postes. A Copel também não teve prejuĂzo, pois ela vendia pelo valor estipulado. A prefeitura ainda tinha o benefĂcio de ficar com alguns postes da empresa. Inclusive, algumas das estruturas foram utilizadas pela prefeitura", disse.
Na sequĂȘncia, Edir se defende. "É uma denĂșncia essencialmente polĂtica. Infelizmente, sou ex-prefeito e tenho de responder. Não vejo como algo errado. Como jĂĄ disse, a prefeitura não teve dolo e foi a Ășnica beneficiada com esse processo. Acredito que a prefeitura não deveria nem receber os valores das multas. Se alguém deveria receber alguma indenização, seria a Copel. A Prefeitura é a Ășnica que lucrou com essa operação. Enquanto gestor, apenas busquei privilegiar o municĂpio. Se a atual gestão tem algum questionamento, deve recorrer ao Ministério PĂșblico. Fiz o acordo para "passar uma régua" nesta situação. Se for para uma ação civil pĂșblica, tenho certeza que não serei condenado", concluiu. A reportagem não conseguiu contato com a empresa envolvida e mantém aberto o espaço para esclarecimentos.