Educação Homofobia

Escola que fez postagem homofóbica contra publicidade de lanchonete é denunciada ao Ministério Público

Por Marco Zero

27/06/2021 às 20:31:16 - Atualizado hĂĄ

Quando o Ministério PĂșblico e a secretaria estadual de Educação reabrirem suas portas nesta segunda-feira, dia 28 de junho, e iniciarem o expediente, seus funcionĂĄrios irão se deparar com, pelo menos, 11 denĂșncias registradas em suas respectivas ouvidorias contra a escola Ecco Prime. No final de semana, a escola, sediada em Aldeia, publicou uma série de postagens homofóbicas pregando um clima de "guerra santa" contra a rede de lanchonetes Burger King, que levou ao ar uma campanha publicitĂĄria em que crianças afirmam, com naturalidade, não haver nada demais em conviver com homossexuais.

As postagens da escola incitam os pais a defenderem as crianças do "ataque" dos homossexuais: "FamĂ­lias cristãs, estejam atentas! Nossas crianças estão sendo atacadas (?) este é apenas um dos muitos ataques que enfrentam todos os dias sem antes estarem preparados". Em seguida ao alerta, usa uma linguagem bélica para anunciar a criação de um tal Centro de Treinamento de Pais Cristãos "com o intuito de nos armamos contra estas e outras setas inflamadas do inimigo".

As reações foram imediatas. Ainda no sĂĄbado pela manhã, o professor de Biologia da Universidade de Pernambuco e morador de Aldeia, Filipe Aléssio, foi um dos primeiros a pedir que seus seguidores nas redes sociais denunciassem a publicação ao Instagram. No domingo à tarde, as postagens ainda estavam disponĂ­veis no feed do perfil da escola, sugerindo que o Facebook, empresa que controla o Instagram, não considerou as denĂșncias.

A publicação homofóbicas e outras postagens jĂĄ tinham recebido mais de 3.300 comentĂĄrios, quando a média das demais publicações da escola não passa de poucas dezenas. Pelo menos 11 das pessoas que confrontaram a Ecco Prime nas redes sociais confirmaram a formalização das denĂșncias no MPPE e na secretaria de Educação.

Uma delas foi a jornalista Sylvia Siqueira Campos. No final da tarde de domingo, ela, que é vizinha da escola, estava finalizando uma denĂșncia formal que serĂĄ assinada por um coletivo de pessoas fĂ­sicas e jurĂ­dicas. "Não queremos moralizar a denĂșncia, porque este caminho é frĂĄgil. É preciso reivindicar os dispositivos legais nos quais se baseiam a educação de um estado laico, por isso estamos encontrando as bases na Lei Estadual de Educação e na jurisprudĂȘncia do STF, além dos argumentos sobre a incitação à violĂȘncia", afirma Sylvia.

Para a ativista, que integra a rede internacional pela educação articulada pela paquistanesa Malala Yousafzai, prĂȘmio Nobel da Paz. "o que a escola fez estĂĄ muito distante de "liberdade de opinião". A liberdade de opinião existe quando não fere o direito de existĂȘncia e de segurança da vida da outra pessoa.

Bolsonarismo e propaganda

Ao longo do domingo, foi a vez de parlamentares evangélicos, pastores fundamentalistas e perfis autodeclarados fascistas partirem para o contra-ataque, elogiando a iniciativa, atacando os hambĂșrgueres "comunistas" da franquia de lanchonetes e entupindo a seção de comentĂĄrios do perfil do coletivo Aldeia da Gente, que publicou nota de repĂșdio contra a Ecco Prime.

Alguns bolsonaristas, como a deputada estadual Ana Caroline Campagnolo, do PSL de Santa Catarina, também aproveitaram para romper o silĂȘncio em que estavam desde sexta-feira, quando foi revelado na sessão da CPI da Covid que Bolsonaro estaria a par do esquema de superfaturamento da vacina Covaxin.

Respaldada pelo apoio da extrema-direita, a escola também reafirmou seu posicionamento usando os versĂ­culos 26 a 32 do capĂ­tulo 1 da Carta aos Romanos como argumento: "A BĂ­blia diz que a homossexualidade é pecado, é não natural e não normal", concluindo com um pedido de orações pela escola. A nota da escola não faz referĂȘncia, contudo, aos versĂ­culos 23 e 24 do capĂ­tulo 7 da mesma carta de São Paulo aos Romanos nem ao segundo livro de Samuel, trechos frequentemente usados como argumento de que não hĂĄ pecado algum na homoafetividade.

Nas postagens originais, a Ecco Prime International Christian School (sim, esse é "nome completo" da escola), aproveitou para fazer propaganda de suas estratégias contra as tais "setas inflamadas" do inimigo. Para vencer a ameaça representada pelos sanduĂ­ches da norte-americana Burger King, a Ecco Prime anunciou que conta com aliados também vindos dos Estados Unidos: direto de Ohio, um pastor chamado Tedd Tripp, que vai até Aldeia para explicar presencialmente como os pais cristãos podem evitar que seus filhos e filhas se tornem gays, lésbicas ou trans por apenas R$ 267,00 ou em 12 vezes de R$ 26,00 no cartão de crédito.

Fonte: Marco Zero
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