PolĂ­cia Abuso Sexual

Meninas de 10 a 14 anos de idade são maioria das vítimas de estupros

Por Agência Brasil

21/02/2023 às 09:28:18 - Atualizado hĂĄ
Reprodução Redes Sociais

No Brasil, a maioria (67%) dos 69.418 estupros cometidos entre 2015 e 2019 tiveram como vĂ­timas meninas com idade entre 10 e 14 anos. É o que destaca o estudo Sem deixar ninguém para trĂĄs - gravidez, maternidade e violĂȘncia sexual na adolescĂȘncia, do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para SaĂșde (Cidacs), vinculado à Fundação Oswaldo Cruz Bahia (Fiocruz). Também assinam a pesquisa o Instituto de SaĂșde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

O que subsidiou o levantamento foram dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan-Datasus), do Ministério da SaĂșde. No perĂ­odo de anĂĄlise, adolescentes com idade entre 15 e 19 anos representam 33% do total de vĂ­timas de estupro.

Ainda sobre o perfil das vĂ­timas, o que se constata é que prevalecem as meninas pardas (54,75%). Logo depois, aparecem garotas brancas (34,3%), pretas (9,43%) e, por fim, indĂ­genas (1,2%).

Outro dado que se consolida mais uma vez, como em outros estudos, é o que diz respeito à relação entre as vĂ­timas e os agressores. De acordo com a pesquisa, 62,41% dos autores do crime eram conhecidos das vĂ­timas, contra apenas 17,22% de desconhecidos.

Por meio das notificações reunidas pelo governo federal, observam-se, ainda, trĂȘs dados de relevância. O primeiro é o fato de que o estupro costuma acontecer na casa das vĂ­timas. No total, 63,16% dos episódios se deram nesse contexto. Em 24,8% das vezes, o local era pĂșblico e, em 1,39% dos casos, o estupro ocorreu em uma escola.

"Evidencia-se que adolescentes nem sempre encontram na famĂ­lia um lugar de proteção", mostra o estudo.

Para a gestora do Projeto Bem Me Quer, do Hospital da Mulher, psicóloga Daniela Pedroso, é preciso ter em vista que, assim como em relacionamentos entre mulher e companheiro, em que ele a agride, as emoções das vĂ­timas menores de idade se misturam, quando o agressor é alguém de seu cĂ­rculo. Em muitos casos, o agressor causa confusão de sentimentos na vĂ­tima, inclusive por propor que ela guarde para si o ocorrido, como se se tratasse de um acordo de confiança que não pode ser rompido, jĂĄ que a consequĂȘncia seria perder o afeto do agressor.

"Estamos falando de agressores conhecidos, pessoas que muitas vezes também provĂȘm coisas boas, positivas para essas crianças. Por isso é que é tão importante cuidar disso, porque a gente estĂĄ falando de algo que é tratado pelo agressor sexual como um segredo, algo que não pode ser contado", alerta.

"O abuso sexual da criança é crônico e recorrente. A gente estĂĄ falando da pessoa que devia protegĂȘ-la. Esse é um dado que sempre surge e que ainda choca muito, porque é a ambivalĂȘncia não só do sentimento da criança, mas também da ambivalĂȘncia do comportamento do agressor", complementa Daniela, que hoje coordena o Ambulatório de ViolĂȘncia Sexual na unidade e que trabalha no local hĂĄ 26 anos.

Na avaliação da psicóloga, a qualidade no atendimento é um fator capaz de definir a permanĂȘncia das vĂ­timas no hospital, conforme as recomendações. Segundo ela, além de oferecer o tratamento de profilaxia, que as protege contra infecções sexualmente transmissĂ­veis (ISTs) e tem maior efeito em uma janela de 72 horas após o estupro, o Hospital da Mulher também oferece cuidados em outras ĂĄreas importantes. São eles o encaminhamento a assistentes sociais, que orientam e acolhem, e as consultas com pediatras ou ginecologistas da equipe do ambulatório e com psicólogos. As vĂ­timas tĂȘm direito a ter atendimento mesmo sem apresentar boletim de ocorrĂȘncia, ou seja, basta que se dirijam à unidade.

"A maneira como elas são recebidas pelo serviço vai impactar não só na adesão ao tratamento como também em todo o processo que passam com a gente", ressalta Daniela.

Sobre a contribuição dos psicólogos, a gestora avalia que se encontra em atenuar o sofrimento psĂ­quico, a partir da transformação da memória em torno do estupro que se vivenciou. "As pessoas perguntam, a minha filha vai esquecer? A gente não consegue fazer com que se apague isso da memória dessa criança, dessa adolescente, mas a gente precisa trabalhar da melhor forma possĂ­vel para que isso não se torne uma lembrança recorrente, cotidiana. Acho que isso é bem importante. E também que ela possa ressignificar esse trauma".

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