Geral katia najara

O pão que a jacaroa amassou

Por Da Redação

22/05/2022 às 07:04:43 - Atualizado há

O pão da minha memória de menina é ficção e fantasia zoomórfica.

Eu largava da mão dos meus pais e entrava na padaria sempre esbaforida com aqueles meus olhões curiosos – onde todo mundo parecia enxergar jaboticabonas brilhantes – à procura daquele ser fantástico e sinuoso, com dorso de gomos piramidais, brilho de açúcar, e olhar ameaçador de frutas cristalizadas ou uva-passa, aprisionado na vitrine bem à altura do meu olhar de ponta de pé. E imediatamente já me punha a planejar por onde começaria a devorá-lo: se pela dança da cauda peçonhenta, ou se engoliria logo a expressão ameaçadora de sua cabeça, numa deliciosa mistura de aventura, desafio e pão de açúcar.

Ainda não fui buscar o pão de jacaré que Bel gentilmente se propôs a fazer para ilustrar essa coluna, já que hoje em dia ele só faz esse pão de caju em caju e por encomenda na centenária Padaria Ribeiro aqui de São Gonçalo dos Campos - interior do Recôncavo Baiano, onde mora mainha. Não sei o quão ameaçador, vivo e brilhante ele vai me parecer, mas tenho pra mim que alguma emoção haverá. 

Pão de Jacaroa (Foto: Kátia Najara)

Quando não tinha pão de jacaré o jeito era afogar a frustração no espiral de chocolate do pão fatia, no amarelo do pão de creme, na farofa doce do carioca ou no conforto do coco. Mas só quando chegasse em casa! E lá íamos nós na rural azul e branca de Tio Garcez, curvando no limite máximo de velocidade para chegar em casa com a vara de sal ainda quente em tempo de passar o café e ainda ver derreter sobre o pão o amarelo-manteiga. No dia seguinte, uma certeza: pão com ovo de quintal no café da manhã.

De lá para cá a minha relação com o pão teve alguns altos e baixos, muito mais altos que baixos. É que eu entrei numas de algumas dietas, me deixei afetar ligeiramente pela demonização do glúten (tenho até vergonha de dizer isso), mas graças à grande deusa Jacaroa encontrei Jesus nas padeiras extraordinárias que me alimentam com os melhores pães de fermentação natural que eu poderia sonhar para mim e para vocês. 

E como não poderia falar de pão sem trazê-las comigo, por serem amigas queridas e de longa data, chamei as três para essa ciranda no meu quintal e pedi que: 1) completassem a frase PÃO É e 2) dessem cada uma a sua dica preferida de aproveitamento de pão, porque é sabido: pão a gente sempre compra um bocadinho a mais, que é para não faltar na vida, né não?

Um beijo loooooongo de fermentação natural ainda para a minha queridíssima professora de pão, Vânia Carvalho do @quintaldaurelia, lááá da Vila Madalena de São Paulo, dona do último ¼ de pão do meu coração.

Com amor e glúten,

Katita

Pão é...

Andrea Albuquerque (Foto: Divulgação)

Andrea Albuquerque
Divino Pão

CARINHO E CROUTON DE COPIOBA
"Pão é muito mais do que uma massa feita de farinha, água e fermento. Pão é o carinho no dia-a-dia do ofício de ser uma padeira.
Minha receita favorita para aproveitar o pão é aquele prático e rápido crouton. Como puro, tipo snack, ou na salada de folhas para dar aquele croc.
Desde o clássico, feito com cubinhos de pão temperados com sal, pimenta moída na hora e um fio de azeite de oliva, ao meu favorito, com pão de Copioba e manteiga de garrafa. O difícil é sobrar pão de Copioba aqui em casa!
Coma o pão que Andréa amassou na @divino.pao

Maria Eme Bê (Foto: Zeza Maria)

Maria Eme Bê
Ahorita Padaria Artesanal

PRESENÇA E FATIA DE PARIDA
“Pão é presença. Pra fazer, te ensinando sobre atenção e paciência. Pra comer, experimentando sensações incríveis com um alimento de três ingredientes. Pra compartilhar, num ritual que associa prazer a pessoas, lugares, momentos. É memória, história, afeto, vida.
Meu aproveitamento preferido são fatias de parida, com pão "dormido", embebidas no leite adoçado, passadas no ovo batido e depois fritas na manteiga e polvilhadas com açúcar e canela, que me remetem à infância e lugar de aconchego.”
Coma o pão que Maria amassou em @ahoritapadaria

Salete Alves (Foto: Milena Paladino)

Salete Alves 
Saletial Pães Artesanais

ANCESTRALIDADE E VATAPÁ
“Pão é transformar simplicidade em alimento pro mundo. Ancestralidade em mãos presentes, amor e paciência.
Receita com aproveitamento? Vatapá, que tem um lugar especial na minha memória afetiva, e o de mainha é o melhor do mundo. Tem gente que faz com farinha de trigo, eu faço com pão que deixo de molho no leite de coco. O bom é que dá pra aproveitar aquele pão que já não tá mais tão molinho. A simplicidade desse prato engana o quão elaborado ele é. E ainda tem o azeite mágico: dendê. Eu amo!”
Coma o pão que Salete amassou em  @saletialcozinha

Kátia Najara é cozinheira e empreendedora criativa do @piteu_cozinhafetiva

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