Educação objetivos do desenvolvimento susten

"Precisamos zerar desmatamento e degradação da Amazônia antes de 2030", alerta climatologista Carlos Nobre

Por Da Redação

30/11/2021 às 19:28:58 - Atualizado há

Anna Tempesta é coordenadora de cooperação internacional na Agência UFPR Internacional e articuladora do SEE-U na Universidade. Para ela, as instituições de pesquisa têm muito a contribuir, porque os ODSs têm pautado a agenda dos programas internacionais para investimentos em pesquisa e desenvolvimento. “A UFPR pode verificar o quanto a pesquisa desenvolvida em suas unidades contribui para atingir as metas dos ODSs, aumentando suas chances em chamadas nacionais e internacionais para projetos de pesquisa. Pode também, inspirada nos ODSs, desenvolver projetos de extensão em parceria com ONGs e/ou com a administração pública”.

Participarão do evento a professora Fengling Zhang, da Universidade de Linköping (Suécia); professor Guillermo Anlló, da Universidade Nacional de Quilmes (Argentina); professor Johan Schot, da Universidade de Utrecht (Holanda); Omar Hernadez, oficial de informação pública na Academia de Impacto das Nações Unidas; professora Silvia Saboia Martins, da Universidade de Columbia (Estados Unidos); Vanessa Nadali, pesquisadora no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e vários professores da UFPR e outras instituições, como você pode conferir clicando aqui.

O professor Carlos Afonso Nobre, pesquisador durante 37 anos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), fará uma apresentação às 14h desta quarta-feira (1º) sobre a Amazônia. Ele tem décadas de experiência como pesquisador sobre a Amazônia e modelos climáticos, meteorologia e mudanças climáticas. Carlos Nobre concedeu uma entrevista para a Agência Escola UFPR sobre o potencial de desenvolvimento sustentável da Amazônia e o que precisamos fazer para preservar o bioma. Confira abaixo:

Bruno Caron – O que precisamos fazer enquanto sociedade para contribuir com uma Amazônia mais preservada e ainda promover o desenvolvimento sustentável da floresta?
Carlos Nobre – Precisamos mudar radicalmente o modelo de desenvolvimento da Amazônia, que é prevalente nos últimos 50 anos, principalmente na Amazônia brasileira, porque é o primeiro lugar com um enorme risco cruzarmos o chamado ponto de inflexão ou ponto de não retorno. Isso significa que há uma grande chance de a floresta desaparecer e se tornar um ecossistema muito degradado. No sul da Amazônia já estamos muito próximos disso. Há sinais de que o clima e a vegetação estão mudando, a estação seca está ficando mais longa, mais quente e com menos chuva. Parte das florestas estão perdendo carbono em vez de retirar carbono da atmosfera como a maior parte das florestas do mundo. É essencial nos países amazônicos, e principalmente no Brasil, zerar os desmatamentos, a degradação florestal e os incêndios. Para isso é preciso implementar políticas em todos os países amazônicos para que possamos, antes de 2030, zerar o desmatamento e a degradação.
Também é necessário buscar um novo novo modelo de desenvolvimento com a floresta em pé, mantendo o potencial muito grande da biodiversidade e da sociodiversidade, valorizando os conhecimentos dos povos indígenas e das comunidades locais, que é um conhecimento muito valioso. E juntar isso com inovações, trazendo a ciência moderna e inovações tecnológicas para desenvolver uma nova bioeconomia para a Amazônia. Isso é urgente, todos os países amazônicos precisam entrar nessa nova trajetória sustentável, porque estamos muito próximos desse ponto de não retorno.

Bruno – Como o Brasil e os outros países amazônicos podem implementar a bioeconomia de floresta em pé e garantir um desenvolvimento sustentável para a floresta?
Carlos – O potencial econômico de uma bioeconomia de floresta em pé é muito alto. Hoje já há vários exemplos na Amazônia de cooperativas que utilizam sistemas agroflorestais e que produzem inúmeros produtos da floresta, como o açaí, cacau, castanha, buriti, tucumã e cupuaçu. Esses produtos geram um rendimento muito melhor do que os que substituem a floresta por pecuária ou por agricultura, que é principalmente soja, e ocupam áreas maiores. Os bons sistemas agroflorestais da Amazônia já têm uma renda que é dez vezes maior do que a da pecuária, de quatro a cinco vezes maiores do que a da soja. Portanto, faz todo sentido econômico você começar a desenvolver essa nova bioeconomia que melhora muito a qualidade de vida das pessoas na Amazônia. O modelo da expansão acelerada da pecuária e da soja beneficia poucas pessoas da Amazônia, concentra muito a renda e com uma rentabilidade muito menor por hectare do que sistemas agroflorestais.
Essa bioeconomia precisa ser desenvolvida, abrir capacitação para muitas populações, bioindustrialização, agregação de valor desses produtos da indústria na Amazônia para gerar empregos de qualidade. O sistema educacional precisa estar voltado para essa nova bioeconomia também, capacitando jovens para se tornarem empreendedores e para acontecer desenvolvimento científico-tecnológico. Esse grande desafio de combinar os conhecimentos científicos e inovações tecnológicas com os conhecimentos tradicionais dos povos amazônicos ainda não foi vencido em nenhum lugar da Amazônia, mas precisamos coletivamente atuar para vencer isso.

Bruno – Quando o assunto é meio ambiente, o Brasil está nos holofotes da mídia internacional por causa do desmatamento e dos incêndios florestais na Amazônia. Como um evento internacional como o SEE-U pode trazer uma visibilidade para uma comunidade científica do país e de fora que está preocupada com o desenvolvimento sustentável?
Carlos – A ciência está muito preocupada com esse assunto. O relatório que fizemos do Painel Científico para Amazônia transmite uma mensagem muito clara de que precisamos zerar o desmatamento e a degradação da floresta imediatamente – então são importantes esses eventos científicos internacionais. O Brasil por muitos anos tem sido o país que mais devasta florestas tropicais do mundo e, infelizmente, praticamente não tem nenhum dia que não vem uma má notícia sobre a Amazônia.
O Brasil desde 2019 virou um pária ambiental no mundo, então eventos internacionais que trazem essa questão, uma discussão científica muito séria, são importantes até para gente se preparar para uma nova fase. Vamos torcer para sair dessa encruzilhada que tem sido esse modelo dos últimos anos do governo atual que retoma aquele modelo arcaico da década de 1970, que sempre via a floresta como obstáculo ao desenvolvimento. A ciência evoluiu muito e o maior valor econômico, social e ambiental é manter a floresta de pé e tem mais sentido para melhorar a qualidade de vida das populações amazônicas e também melhorar a economia dos países amazônicos.

Serviço
Evento internacional SEE-U, Sustainable Development Goals (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), organizado pela UFPR
De 1º a 3 de dezembro
Online e gratuito
Programação completa neste link
Inscrições até o último dia do evento neste link

Por Bruno Caron
Edição por Chirlei Kohls
Parceria Superintendência de Comunicação e Marketing (Sucom) e Agência Escola de Comunicação Pública da UFPR

Fonte: UFPR
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