PolĂ­tica Senado Federal

Para servidores, reforma administrativa reforça privatização das finanças públicas federais

Por Senado Federal

09/11/2021 às 11:42:36 - Atualizado hĂĄ
Senado Federal

Estudo apresentado pelo Fórum Nacional Permanente de Carreiras TĂ­picas de Estado (Fonacate) na Comissão de Direitos Humanos (CDH), nesta quarta-feira (8), aponta que a reforma administrativa (PEC 32/2020), em tramitação na Câmara dos Deputados, é uma iniciativa para reforçar a "financeirização" e privatização das finanças pĂșblicas federais.

O grupo é contrĂĄrio à aprovação da proposta e, desde 2016, vem realizando estudos sobre as reformas apresentadas pelo atual governo, reunidos no livro "Rumo ao Estado NecessĂĄrio: crĂ­ticas à proposta de governo para a reforma administrativa e alternativas para um Brasil republicano, democrĂĄtico e desenvolvido".

Durante a reunião, os participantes discorreram sobre o capĂ­tulo "Financeirização e Privatização das Finanças PĂșblicas no Brasil: arranjo institucional e implicações econômicas e sociais". De acordo com o presidente da Fonacate, Rudinei Marques, as finanças pĂșblicas estão sendo "capturadas por interesses privados", de forma contrĂĄria ao desenvolvimento nacional e ao atendimento da população.

"Resumidamente, sabe-se que desde os anos 1990 estĂĄ em curso no Brasil um processo de financeirização e privatização das finanças pĂșblicas federais, que se manifesta por meio da liberalização financeira, da consolidação de regras fiscais disfuncionais à gestão da demanda agregada e do pleno emprego, da desindustrialização e do impulso à reprodução fictĂ­cia da riqueza expressa nas altas lucratividades das atividades de intermediação financeira e na centralidade dos ganhos de tesouraria para as atividades produtivas. As implicações disso são perniciosas para a dinâmica de crescimento econômico, bem como para as condições de reprodução social adequada e digna da população", diz um trecho do relatório.

Coordenador da Comissão de Estudos da Fonacate, José Celso Cardoso JĂșnior avaliou que a reforma administrativa se destina menos a promover qualquer tipo de melhoria das formas de funcionamento e organização do Estado brasileiro e muito mais a viabilizar recursos para o rentismo e para o setor privado. Para ele, esses setores tendem a se apropriar das ĂĄreas rentĂĄveis das polĂ­ticas pĂșblicas, desmistificando a justificativa do governo de que a medida atuaria no sentido de ajudar a sanar a quebra estrutural das finanças pĂșblicas.

— Esses estudos buscam justamente desmistificar esse discurso, essa narrativa, e apontar para os verdadeiros problemas relativos às finanças brasileiras. Um dos problemas revelado pelos estudos é esse: o da financeirização das finanças pĂșblicas, por meio dessa forma de apropriação privada das finanças pĂșblicas que deveriam servir para o conjunto das polĂ­ticas e da população. Na verdade, recentemente, [essa iniciativa] vem servindo a interesses menores e privilegiados no seio do Estado brasileiro.

O senador Paulo Paim (PT-RS), que presidiu a reunião, concordou com a exposição do Fórum.

— Quem estĂĄ ganhando nesse momento é a especulação financeira. Não é o mercado produtivo, não é o trabalhador, não é o social, não é a educação, não é a distribuição de renda, não é a PrevidĂȘncia. Mas que sirva de alerta o que vocĂȘs hoje demonstraram aqui.

Degradação das polĂ­ticas pĂșblicas

Na opinião do professor, Miguel Bruno, que também colaborou com o relatório, a financeirização se apresenta com muito maior peso na degradação das polĂ­ticas pĂșblicas, nas condições de vida, no rebaixamento das taxas de crescimento econômico. Isso porque, de acordo com ele, as taxas de juros vigentes no paĂ­s são exorbitantes e completamente fora dos padrões internacionais. Além disso, ele aponta que a atual polĂ­tica tem favorecido apenas dois setores: o mercado financeiro e o de commodities.

— O crescimento do capital rentista no Brasil é exorbitante. Isso significa um poder polĂ­tico econômico do setor bancĂĄrio financeiro e seu principal sócio atualmente, que é o setor do agronegócio. Os dois principais setores ganhadores, sem nenhum preconceito contra esses dois setores. Mas não se pode desenvolver o paĂ­s quando apenas um ou dois setores ganham e os demais perdem. E quando se pensa em qualquer reforma isso tem que estĂĄ em pauta.

Endividamento das famĂ­lias

Outro mecanismo caracterĂ­stico do processo de financeirização apontado pela professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Lobato Gentil, é o endividamento das famĂ­lias pobres e de classe média no Brasil. De acordo com ela, a combinação dessa estratégia de polĂ­tica macro econômica ultra neoliberal "retrógrada" com um mercado de trabalho desregulamentado e precarizado, juntamente com o desmantelamento do estado de bem estar social, foi articulada com a expansão do crédito de consumo como ferramenta compensatória.

No entanto, ela avaliou que o endividamento do trabalhador de baixa renda e de classe média não vai funcionar como mecanismo de alĂ­vio e de adiamento dos efeitos da crise sobre as famĂ­lias.

— Foi a expropriação dos direitos sociais e a degradação dos serviços pĂșblicos que fizeram com que as famĂ­lias fosses forçadas a recorrer a planos de saĂșde, a fundos de previdĂȘncia abertos, a educação privada, seguros de toda espécie, para buscar no mercado a preços elevadĂ­ssimos uma proteção que antes era assegurada de forma gratuita pelo Estado.

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