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PodParaná #45: Criada em plena ditadura militar, Universidade Estadual de Londrina completa 50 anos

Por Da Redação

01/10/2021 às 06:19:28 - Atualizado há
Criada por lei estadual em 1969, junto com a UEM e UEPG, universidade vivenciou ativamente os anos de repressão tendo professores e alunos vigiados constantemente. Ex-reitor e professora aposentada contam como foram as primeiras décadas da universidade. Há 50 anos, a Universidade Estadual de Londrina (UEL), no norte do Paraná, foi reconhecida pelo Ministério da Educação como instituição superior.

Junto com a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), as três instituições estaduais foram criadas em plena ditadura militar, em 1969.

No 45º episódio do PodParaná, publicado nesta sexta-feira (1°), o ex-reitor João Carlos Thomson e a professora aposentada da UEL Maria Luiza Macedo Abbud comentam sobre o início da universidade e como era trabalhar em uma instituição de ensino durante o regime militar.

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Arte/RPC

Oferta de vagas no regime

A professora Maria Luiza Macedo Abbud abre o episódio explicando que a ampliação de vagas no ensino superior foi uma estratégia adotada pelo regime para realizar um desenvolvimento com segurança.

A ideia era formatar as novas gerações com uma nova ideologia e também de lidar com a crise estudantil que existia na época.

Muitos jovens deixavam o Ensino Médio, mas não conseguiam fazer um curso superior porque as faculdades não tinhas vagas suficiente.

“O governo militar decidiu criar as universidades, mas elas seriam criadas se na cidade já existissem cinco faculdades distintas. Londrina tinha as faculdades de Filosofia, Direito, Odontologia, Medicina e Ciências Contábeis. As universidades então nascem com uma mudança no sistema acadêmico, as turmas deixam de ser anuais e passam a ser seriadas, e também se extingue a função de professor catedrático ou titular, que era considerado o dono da disciplina”, contou a professora aposentada da UEL.

O ex-reitor e professor aposentado João Carlos Thomson, que começou a dar aulas no curso de medicina em 1971, lembra que a instituição trouxe muitos professores de fora do estado, docentes novos com muitos ideais e que tinham desejo de crescer.

“Nem sempre a ditadura deixava esse crescimento acontecer. O período da ditadura foi muito difícil porque existia a disputa política, militar e na própria universidade. O período mais difícil foi quando demitiram cinco professores. Foi nessa época que criamos a associação dos professores e batalhamos muito mais pela democracia”, lembrou o ex-reitor da UEL.

Fiscalização no regime

Além de toda a repressão que o regime impôs, o governo militar ainda criou as Assessorias Especiais de Segurança e Informação (AESI) e a UEL foi a única universidade do interior do estado a ter uma equipe desse órgão atuando no campus.

Os agentes acompanhavam e fiscalizavam todas as atividades que ocorriam no campus universitário. Eles também emitiam relatórios que eram enviados para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).

Muitos professores e alunos descobriram que eram vigiados somente na década de 90, quando a universidade teve acesso a esses relatórios.

Foi na gestão do ex-reitor João Carlos Thomson que o decreto que permitia os trabalhos da AESI foi extinto.

“A democracia chegou, mas o estatuto e regimento não eram democráticos. Na minha gestão, desmontamos o entulho autoritário e adequamos a democratização do país. A ideia era que fazer com que todos vestissem a camisa da universidade”, explicou o ex-reitor.

Repressão contra estudantes e professores

E assim como os professores, muitos alunos eram vigiados, assim como o Diretório de Estudantes e o jornal “Poeira”, que nasceu para informar os estudantes sobre as notícias da universidade e acabou se tornando uma ferramenta de resistência e de luta por uma universidade pública e gratuita.

O ex-aluno Tadeu Felismino lembra que a impressora do jornal foi apreendida pela polícia porque a universidade não queria mais as edições circulassem pelo campus. Equipamento que foi comprado depois que os estudantes não conseguiram mais mandar imprimir 6 mil exemplares na Folha de Londrina e em gráficas de Maringá e Ourinhos, no interior de São Paulo.

“Fazíamos tudo de forma muito democrática e sem atacar ninguém. As reuniões eram abertas e sempre acompanhadas pelos integrantes da AESIs”, contou.

“Lembro uma vez que um diretor do Centro de Saúde foi preso durante uma operação para prender comunistas no Paraná. Isso aconteceu entre a eleição e a posse da nova diretoria do DCE. No dia da posse da nova diretoria, umas 200 pessoas estavam reunidas na cerimônia. Estavam lá o reitor e os diretores de departamento, menos o professor que havia sido preso. No discurso de posse, o presidente eleito para o DCE denunciou a prisão desse professor, na época ninguém falava sobre isso. O discurso foi memorável e feito por muitas mãos”, detalhou Tadeu Felismino.

Décadas depois da redemocratização, a UEL é reconhecida por avanços tecnológicos, pelo pioneirismo na discussão sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e também pelo desenvolvimento de uma comunidade.

Para os ex-professores, a ditadura deixou algumas marcas, mas isso não se sobrepôs aos avanços conquistados pela instituição.

O desafio agora é fazer que com a UEL continue sendo um espaço de aprendizagem e de colaboração entre professores, alunos e a comunidade.

Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Reprodução/RPC

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Fonte: G1
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