Geral Política

Contextualizando a II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, na linha de frente contra o Marco Temporal - 3ª parte

Por Da Redação

19/09/2021 às 13:23:07 - Atualizado há

(Asi/UnB), Secretaria de Saude do Distrito Federal e Hospital Universitario de Brasilia (HUB).

O acampamento conta, ainda, com uma estrutura propria de seguranc?a que passa em vigilia por todo acampamento, com uma quadro de pelo menos 40 profissionais ligados a? causa. Uma equipe de advogados da APIB presta assiste?ncia juridica em uma tenda especializada para atendimento. Ha ainda a tenda da comunicac?a?o que recepciona jornalistas, fotografos e midiativistas do Brasil e de todo o mundo. Ha refeic?o?es gratuitas (cafe da manha?, almoc?o, lanche e janta) para todos indigenas e credenciados, banheiro com chuveiro na capacidade de atender todos, onde ve?-se carros-pipas os abastecerem as caixas varias vezes ao dia, alem de tanques para lavar roupas.

No entanto, ha um tensionamento evidente, desde o inicio de setembro, com a chegada das comemorac?o?es e desfiles militares do Dia 7 de setembro, foi anunciada a vinda de caravanas do Brasil para o apoio do presidente da republica. Na madrugada do dia 6 para o dia 7 de setembro, apoiadores do presidente Bolsonaro tentaram invadir o acampamento, destilando racismo e injurias contra os indigenas presentes. “Todos os ataques que se enquadram em crimes de racismo, injuria, calunia e difamac?a?o sera?o devidamente denunciados para que sejam tomadas medidas cabiveis, bem como as condutas de intimidac?a?o e ofensas”, assegura a coordenac?a?o da II Marcha Nacional das Mulheres Indigenas. Desde enta?o a Policia Militar do Distrito Federal foi acionada e montam guarita nas saidas para garantir a seguranc?a dos mais 5.000 indigenas presentes.

foto: Ramon Vellasco

Atos e agenda da II Marcha Nacional das Mulheres Indigenas

Na abertura da II Marcha das Mulheres Indigenas, a principal lideranc?a da APIB, So?nia Guajajara, no palco principal do evento, sintetizou o tema deste ano, que e "reflorestar mentes": “nos somos resiste?ncia, mas tambem somos beleza. E com este espirito de luta, de forc?a, de coletividade e de resiste?ncia que estamos aqui juntas para fazer este chamado ao mundo para reflorestar as suas mentes, reflorestar pensamentos, reflorestar corac?o?es, porque so assim nos vamos reflorestar os nossos territorios. E por isso que nos somos as mulheres originarias reflorestando mentes para cura da terra”. Apos calorosos aplausos, a marcha seguiu sua programac?a?o de atos politicos.

No Dia da Amazo?nia, 5 de setembro, um ato simbolico realizado pela juventude de diversas etnias da Amazo?nia brasileira, ocupou a frente do Ministerio do Meio Ambiente, na Esplanada dos Ministerios, no final da tarde. Projec?o?es sobre o edificio do ministerio expuseram denuncias contra o desmatamento e as queimadas e o impacto sobre a fauna, a minerac?a?o e o garimpo ilegais, assassinatos de indigenas. Tambem foram realizadas manifestac?o?es semelhantes no Acre, Amapa, Amazonas, Maranha?o, Para, Rondo?nia, Roraima e Tocantins, mas tambem nos paises da Pan-Amazo?nia, como Peru, Colo?mbia, Equador e Bolivia, alem da Franc?a e na Alemanha.

Dia 5 de setembro, antes de tudo, e o Dia Internacional da Mulher Indigena, instituido em 1983 no II Encontro de Organizac?o?es e Movimentos da America, reunido em Tiwanaku, Bolivia. Neste dia, em 1782, foi executada, pelos colonizadores, Bartolina Sisa, lideranc?a aimara que no seculo XVIII liderou revoltas e acampamentos militares indigenas contra o julgo espanhol na regia?o de Charcas, hoje Bolivia.

Para homenagea-la, Celia Xakryaba compo?s uma poesia intitulada “Somos a Voz da resiste?ncia Sementeiada Por Guerreiras como Bartolina Sisa” e lida na plenaria do acampamento indigena na Funarte neste mesmo dia 5.

A II Marcha Nacional das Mulheres indigenas segue com ampla programac?a?o sobre direitos das mulheres indigenas e uma agenda de politicas publicas reivindicadas desde a sua fundac?a?o. Dia 6 houve a Roda de conversa entre as mulheres indigenas de diversos biomas e a 6a Ca?mara de Coordenac?a?o e Revisa?o do Ministerio Publico Federal, que aborda Populac?o?es Indigenas e Comunidades Tradicionais.

Joe?nia Wapichana, a primeira mulher indigena eleita a deputada federal, Pelo Rede Sustentabilidade, em 2018, esteve presente tambem no palco da plenaria: “primeiramente esta luta e continua, na?o e so das mulheres, e dos povos indigenas que ve?m travado todos os dias. Apesar de dizerem que os povos indigenas sa?o respeitados, o processo de colonizac?a?o na?o parou. Se tivesse parado nos na?o estariamos aqui para garantir o que esta escrito na Constituic?a?o, nosso direito a? vida, o direito de ter a terra demarcada, o direito de na?o ser assassinada, estuprada, o direito de ter politicas publicas para terras indigenas”.

Parem de matar as originarias da terra

O tema do feminicidio tambem subiu o palco. “Quem matou Daiane Kainganq?”, “Parem de matar as mulheres indigenas”, “Raissa presente!”, eram os cartazes abertos no palco, no segundo dia, pela manha? na tenda da plenaria principal. O protesto memorava Daiane Kaigang, de apenas 14 anos, foi encontrada morta e nua, proximo a sua Terra Indigena Guarita, no municipio de Redentora (RS), no me?s de agosto ultimo. Investigac?o?es da Policia Civil sa?o inconclusivas mas indicam sinais de estrangulamento e marcas de pneus de carro ao lado do corpo.

Outro caso no mesmo me?s chocou o movimento indigena. No 9 de agosto, Raissa Guarani Kaiowa, de 11 anos, foi encontrada morta nua tambem, proximo a? sua aldeia Bororo, municipio de Dourados (MS). Ela foi jogada do alto de uma pedreira desativada apos ter sido vitima de estupro coletivo. Dos cinco suspeitos presos, um era o tio que confessou violenta-la desde seus cinco anos de idade.

Segundo relatorio da Comissa?o Pastoral da Terra (CPT), “Conflitos No Campo Brasil 2020”, publicado em maio de 2021, “Foram 37 estupros em uma decada, sendo as principais vitimas mulheres quilombolas e das etnias originarias”. De acordo com a professora de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e assessora juridica popular Tatiana Emilia Dias Gomes, “a noc?a?o de patriarcado patronal branco para compreender uma racionalidade e como um "corpo elaborado de teorias e praticas" que operam sobre os corpos das mulheres, notadamente negras e das etnias originarias, promovendo viole?ncias fisicas interpessoais, mas tambem aniquilando seus projetos de mundo e existe?ncia”.

Gostou da matéria?

Contribuindo na nossa campanha da Benfeitoria você recebe nosso jornal mensalmente em casa e apoia no desenvolvimento dos projetos da ANF.

Basta clicar no link para saber as instruções: Benfeitoria Agência de Notícias das Favelas

Conheça nossas redes sociais:

Instagram: https://www.instagram.com/agenciadenoticiasdasfavelas/
Facebook: https://www.facebook.com/agenciadenoticiasdasfavelas
Twitter: https://twitter.com/noticiasfavelas

Comunicar erro
Jornalista Luciana Pombo

© 2024 Blog da Luciana Pombo é do Grupo Ventura Comunicação & Marketing Digital
Ajude financeiramente a mantermos nosso Portal independente. Doe qualquer quantia por PIX: 42.872.330/0001-17

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

Jornalista Luciana Pombo
Acompanhantes Goiania