A Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Novo Coronavírus na UFPR se reuniu remotamente no dia 5 de maio para avaliar os números da doença no estado, os índices de ocupação de leitos hospitalares, de distanciamento social de casos e óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A análise oferece subsídios para tomada de decisões sobre a pandemia por parte das autoridades sanitárias.
Os dados analisados na reunião estão presentes na nota técnica nº09. O documento recomenda a adoção de medidas conscientes para conter a elevação da curva de infecção no estado, o que pode gerar pressão no sistema de saúde ainda abalado pela alta de casos a partir de março de 2021.
A comissão reforça que as medidas conscientes do distanciamento social responsável, do uso de máscaras e de higiene com álcool apropriado são os primeiros passos para conter a pandemia. O descumprimento das medidas não restritivas acarreta uma reação em cadeia para o aumento dos índices de infecção, nas taxas de internamento e de mortes. Consequentemente as autoridades são obrigadas a adotar medidas mais restritivas, que podem afetar o comércio e a economia.
Leia a íntegra da nota abaixo.
Nota Técnica nº 09
05/05/2021
Comissão de acompanhamento e controle de propagação do novo Coronavírus na UFPR sobre a evolução da COVID-19 no Paraná
A Comissão reuniu-se remotamente para avaliar o estado atual da pandemia da COVID-19 no Estado do Paraná em 05/05/21. Os principais parâmetros avaliados foram a) índices de ocupação de leitos hospitalares, b) índices de distanciamento social, c) números da doença no Estado do Paraná, d) índices de casos e óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), e e) positividade de testes detecção de SARS-CoV-2 por RT-PCR.
A Comissão levou em conta os dados apresentados pela Secretaria de Estado da Saúde do Paraná sobre a pandemia, dados de diversas fontes públicas e as diretrizes da Instrução Normativa número 109, de 29 de outubro de 2020, do governo federal, que estabelece orientações à administração pública federal sobre o retorno gradual e seguro ao trabalho presencial.
a) ÍNDICE OCUPAÇÃO DE LEITOS DE UTI
No boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do PR de 05/05/2021 foi registrada ocupação média de 93% (sendo que apenas a região oeste foi de 90% e as demais regiões entre 93 e 94%). Esses números ainda representam a virtual saturação da capacidade de atender novos pacientes de Covid-19 no estado do Paraná.
Obs: no dia de fechamento dessa nota (18/05), os dados oficiais já registravam aumento sensível e a média já estava em 95% e a região Leste do PR estava com 96%.
b) ÍNDICE DE DISTANCIAMENTO SOCIAL
Dados do boletim da SESA sobre o distanciamento social mostraram claramente que o índice diário de distanciamento social tem flutuado entre 45 e 52%, abaixo do necessário para conter a alta da taxa de contaminação.
Em outra análise utilizando dados do Laboratório de Estatística e Geoinformação da UFPR, a Comissão observou que a taxa de mobilidade no PR (vermelho) apresenta tendência de alta discreta, mas consistente, em atividades de “varejo/lazer”, enquanto apresenta queda em “residência”. Como é possível observar nos gráficos, o aumento de mobilidade e redução do distanciamento social refletem em maior risco de aumento da taxa de infecção, com consequente aumento nas taxas de internamentos.
c) EVOLUÇÃO DA COVID-19 NO PARANÁ
De acordo com os dados obtidos dos boletins e informes epidemiológicos da SESA/PR, o número de novos casos e de óbitos após o pico na 9a semana epidemiológica, quando foram alcançados quase 40 mil casos, teve um sensível decréscimo, estabilizando em aproximadamente 20 mil casos a partir da 13a semana epidemiológica. O número de casos voltou a crescer na 16a semana epidemiológica e continua em trajetória ascendente. Esse padrão muito provavelmente está ligado às medidas restritivas adotadas que aumentaram temporariamente o distanciamento social. A resistência na continuidade da queda de número de casos provavelmente se deve ao aumento na mobilidade e a redução do distanciamento social. O número de mortes segue um padrão semelhante, mas com um atraso de 2 a 3 semanas. O pico de número de mortes foi atingido na 11a e 12a semanas, seguido de queda até a 16a semana quando atingiu 768 mortes por semana e aparentemente estabilizando nesse patamar até a 18a semana.
Após períodos de baixo isolamento social, as taxas de casos aumentam e depois as mortes se mostram também crescentes. Em concordância com esse corolário, a análise de média móvel do número de casos diários no estado do Paraná (casos por data de diagnóstico) indica tendência de crescimento, enquanto a média do número de mortes ainda continua indicando leve decréscimo. Esse comportamento é esperado uma vez que a variação de número de mortes apresenta um atraso de 2 a 3 semanas em relação a variação de número de casos. Os dados de Curitiba são concordantes com os do estado, mostrando tendência de aumento discreto de número de casos diários e de número de pacientes com doença ativa, mas estabilidade de número de mortes (boletim diário SMS de Curitiba, 13/05/2021). A positividade de testes realizados no Paraná, um indicador precoce de tendência da pandemia, depois de atingir 51% na 9a semana epidemiológica, iniciou queda a partir da 10a semana até estabilizar na 13a semana em 40%, voltando a crescer a partir da 16a semana. Em conjunto esses dados apontam para um recrudescimento da pandemia no estado do Paraná nas próximas semanas, um provável efeito da redução da adoção de medida básica de enfrentamento da pandemia, o distanciamento social.
É importante notar que a taxa de ocupação de UTIs continua muito alta. Por exemplo, em Curitiba a taxa de ocupação de UTIs exclusiva Covid-19 é superior a 90% e o sistema trabalha a plena capacidade há quase 3 meses. No resto do estado do Paraná a situação é semelhante, com todas as macrorregiões apresentando ocupação de leitos de UTI exclusiva para Covid-19 também acima de 90%. A taxa de ocupação no dia 05/05 era de 93%, em média no estado. Em 18/05, dia de fechamento dessa nota, esse índice já mostrou elevação e está em 95% no estado.
O atual virtual esgotamento leitos de UTI Covid-19 demonstra que o sistema de saúde não suportará uma nova escalada nos números de internamento e, por isso, reforçamos a necessidade de esforços para conter a taxa de transmissão do SARS-CoV-2.
Por outro lado, a melhoria constante na qualidade dos serviços de saúde prestados em nosso estado e o aumento gradual do espectro de pessoas vacinadas, ainda que não em número desejável, tanto com 1ª e 2ª dose, podem ter um impacto positivo, impedindo que os índices alcancem níveis como os de março passado.
É importante notar que os números de casos e de internamentos na população mais jovem têm apresentado elevação. Essa tendência observada nos últimos meses (ver nota técnica número 08) pode ser devido à maior susceptibilidade dessa população à variante P1, que se tornou mais prevalente no Estado desde fevereiro, e também, em menor grau, ao aumento da cobertura vacinal nas faixas etárias acima de 60 anos. Assim a taxa de internamento de pacientes de faixa etária menor tem aumentado, bem como a incidência de mortes na faixa etária de zero a 60 anos, com redução de participação relativa de faixas etárias superiores.
Na figura acima pode-se observar que a partir de fevereiro o número de óbitos nas faixas etárias 90+, 80-90, 70-80 e 60-70 vêm caindo, enquanto a fração de mortes do grupo de 0 a 60 aumentou a partir de março.
Essa mudança de tendência também pode ser observada no número acumulado de mortes em 2020 comparado com 2021. Quando se compara o número de mortes agregado por faixa etária ocorridas em 2020 e 2021 nota-se que em 2020 a porcentagem de mortes nos grupos 80-89 e 90+ é substancialmente maior que 2021. Em contrapartida, em 2021 a porcentagem de mortes de pacientes nas faixas 40-49, 50, 50-59 e 60-69. A Comissão prevê que haverá um deslocamento cada vez maior de mortes nas faixas etárias menores.
d) TAXA DE REPRODUÇÃO DO NOVO CORONAVÍRUS
A análise do número de reprodução efetivo (Rt) é importante, pois mostra o declínio ou expansão da doença na comunidade.
O Rt médio semanal no Paraná, calculado pelo do Laboratório de Estatística e Geoinformação da UFPR, indica que o valor está se mantendo acima de 1 desde final do mês de abril, indicando aumento de novos casos. Em Curitiba o Rt tem se mantido acima de 1 desde 27 de abril. Importante ressaltar que a Covid-19 mostra tendência de expansão a partir de patamares muito altos, um cenário que pode se levar a aumento exponencial do número de infectados no estado do Paraná.
e) IMPACTO DA COVID-19 EM TRABALHADORES DA ÁREA DE SAÚDE
O sistema de saúde público no estado do Paraná está funcionando em capacidade máxima desde fevereiro de 2021. O reflexo do estresse do sistema de saúde pode ser monitorado pelo número de profissionais da área de saúde infectados e mortos por Covid-19, levando ao esgotamento físico e emocional das equipes de saúde.
f) FILA DE ESPERA POR LEITOS
A lista de espera para leitos Covid-19 vinha caindo desde aproximadamente a metade de março, mas essa tendência foi interrompida por volta do dia 20 de abril e desde o começo do mês de maio mostra uma tendência de aumento.
CONCLUSÃO
A Comissão ressalta que as medidas adotadas pelo Governo do estado do Paraná e pelas Prefeituras conseguiram conter o avanço da onda que se estabeleceu em fevereiro, março e abril/2021, mas os indicadores de alerta já apontam para que se tenha extrema atenção com uma possível retomada na escalada de casos. Esses indicadores são: aumento de positividade, aumento de lista de espera para leito Covid-19, manutenção de níveis elevados de ocupação hospitalar, número de reprodução efetivo acima de 1,0 e aumento de mobilidade. É importante ressaltar que, se houver retomada de crescimento exponencial da Covid-19, essa ocorrerá a partir de índices de infecção que ainda se mantêm altos no estado.
A análise da Comissão mostra que após um pico de casos e óbitos em março de 2021, seguiu-se um decréscimo no número de casos, e alívio do sistema público de saúde observado principalmente pela redução aguda da lista de espera para leitos exclusivos Covid-19. Porém, a manutenção dos patamares elevados nas taxas de ocupação de leitos (atualmente em ~95%) no Paraná e do número de casos diários (ao redor de 300 novos casos por dia e por milhão de habitantes) evidenciam o alto grau de comprometimento do sistema de saúde e manutenção de alto níveis de transmissão comunitária, respectivamente. Assim, o relaxamento do afastamento social observado pelo aumento das taxas de mobilidade é preocupante, apontando para possibilidade de elevação rápida das taxas de infecção nas próximas 3 semanas, internamento e, na sequência, possíveis óbitos.
O número efetivo de reprodução calculado por diferentes grupos de pesquisa tem ficado levemente superior a 1,0 há aproximadamente 2 semanas. Isso demonstra uma evidente curva ascendente no número de casos com potencial para impactar a capacidade de atendimento da rede hospitalar que já se encontra funcionando em capacidade máxima, tanto na região metropolitana de Curitiba como no Estado do Paraná. O aumento de número de casos e internamentos pode ser ainda ser agravado pela dominância da variante P1 do SARS-CoV-2 nos casos de infecção do Estado do Paraná. A variante P1 já mostrou que tem transmissibilidade muito maior e alguns trabalhos sugerem também maior letalidade e maior capacidade de acometer com gravidade a população mais jovem. No contexto de altas taxas de infecção não se pode descartar o aparecimento de novas variantes ainda mais virulentas e nem da importação de novas variantes como as recentemente descritas na Índia.
Embora as medidas de restrição adotadas pelo Governo do Estado e pela Prefeitura, tenham se mostrado eficientes em conter o avanço em ritmo acelerado em março e abril, os sinais de inversão de tendência com o relaxamento das medidas, que foi acompanhado pelo rápido aumento das taxas de mobilidades, demonstra que a retomada de atividades após período de medidas restritivas compulsórias deve obrigatoriamente ser acompanhado de campanhas renovadas e massivas de distanciamento social responsável, conscientização do uso de máscara e higienização com álcool gel com objetivo de manter reduzida a taxa de mobilidade, com um mínimo de efeito sobre as atividades econômicas. Isso permitiria conter uma nova curva ascendente de casos que poderia retardar a readoção das medidas restritivas.
A previsão de aumento do número de casos, nessa análise da Comissão, indica que os cuidados necessários (mobilidade consciente e só quando necessária, distanciamento social responsável, conscientização do uso de máscara e higienização com álcool gel) para conter novo aumento de casos têm sido implementados de forma ineficientes. Há a necessidade de novas estratégias que sejam efetivas no controle da transmissibilidade nos períodos pós picos, de forma a assegurar a redução do número de casos e pressão do sistema de saúde de forma contínua e progressiva. Desta forma, haveria oportunidade de atuação com medidas que trazem menor impacto negativo sócio-econômico como as geradas por medidas mais restritivas, buscando assim evitar a adoção súbita de medidas mais severas.
Outro fator de estresse do sistema de saúde é o número ainda alto de profissionais de saúde que contraíram Covid-19, uma vez que os efeitos da vacinação ainda não foram completamente sentidos, e que tem reflexos diretos na qualidade do atendimento. Os afastamentos por suspeita, infecções confirmadas e mortes decorrentes por Covid-19 atuam exaurindo física e emocionalmente as equipes. Adicionalmente, a carga de trabalho extenuante por vários meses tem levado a falta de profissionais na linha de frente, o que tem sido o maior limitador da expansão de novos leitos para Covid-19.
As medidas de restrição social têm impacto também sobre as atividades econômicas, porém são o último, e necessário, recurso na eminência de colapso do sistema de saúde e aumento de número de mortes. Assim, no contexto atual a Comissão conclui que é prudente recomendar a adoção de medidas para conter elevação da curva de infecção, com consequente redução da pressão sobre o sistema de saúde. Considerando o tempo de incubação e tempo de internação dos doentes, é provável que o pico de número de casos da nova onda ocorra nas próximas 2 ou 3 semanas e sobre as internações e óbitos, pelos próximos 30 dias.
A Comissão também decide manter as seguintes recomendações anteriores:
As recomendações de distanciamento social e higiene das mãos, bem como de etiqueta respiratória permanecem https://coronavirus.saude.gov.br/.