Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba, voltou aos holofotes, mas não por boas razões. Nesta semana, a Justiça Eleitoral realizou uma visita à Câmara Municipal, o que levantou uma série de dúvidas sobre o que estaria sendo investigado. A cidade, marcada por escândalos políticos que vão desde compra de votos até o famigerado "mensalinho", vê mais um capítulo se desenrolar em sua tumultuada trajetória política.
A visita causou um rebuliço nos bastidores da política local. Não foram divulgados detalhes sobre o objetivo da ação, mas, considerando o histórico de denúncias e processos contra vereadores da cidade, os rumores cresceram rapidamente. Entre as suspeitas que já pesam sobre parlamentares, estão abuso de poder econômico, compra de votos e fraudes na cota de candidaturas femininas, onde candidatas laranja teriam sido usadas apenas para preencher a exigência legal de 30% de mulheres na chapa. Caso a fraude seja confirmada, vereadores podem perder seus mandatos e abrir espaço para novos vereadores.
Tentei contato com o diretor da Câmara Municipal para entender o teor da visita da Justiça Eleitoral, mas ele não prestou esclarecimentos à imprensa. Também sigo aguardando informações oficiais da Justiça Eleitoral sobre o caso.
A cidade de Almirante Tamandaré está longe de ser um município pacato. Além de enfrentar graves problemas com o tráfico de drogas e altos índices de criminalidade, a política local frequentemente aparece nas manchetes por corrupção e ilegalidades. A história recente está recheada de episódios vergonhosos.
Um dos casos mais emblemáticos foi o "mensalinho" da Câmara Municipal, em que vereadores foram filmados recebendo dinheiro vivo das mãos do então presidente da Câmara, João Marcelo Bini. Na época, os vídeos mostraram cenas dignas de filme de máfia, com notas sendo distribuídas a parlamentares sem qualquer pudor. E o mais impressionante? Hoje, Bini não só continua na política, como ocupa o cargo de secretário municipal de Família e Desenvolvimento Social na gestão do prefeito Daniel Lovato (MDB), que, aparentemente, não vê problemas em manter figuras investigadas no seu governo.
Outro escândalo que marcou a política da cidade foi o caso Donha, um crime político que chocou a população e revelou a disputa sangrenta pelo poder em Almirante Tamandaré. O presidente do PPS na época, Miguel Donha, foi brutalmente assassinado com um tiro na perna. Os envolvidos na morte disseram que foi um erro e teriam sido contratados para dar um susto do político, que pretendia disputar o cargo de prefeito nas eleições. Eles disseram que o pagamento seria um cargo comissionado na Prefeitura. O caso gerou grande comoção e levantou suspeitas sobre os reais mandantes do crime, mas, como muitos episódios na política brasileira, as investigações não chegaram a uma conclusão que satisfizesse a população. O irmão do prefeito foi preso e condenado por ser o mandante do crime.
Além desses episódios, as eleições municipais de 2020 e 2024 também não passaram sem polêmicas. Candidatos foram denunciados por abuso do poder econômico, compra de votos e até uso de influenciadores digitais para espalhar fake news contra adversários. Agora, com a visita da Justiça Eleitoral, cresce a expectativa de que novos escândalos venham à tona e que alguns vereadores possam perder seus mandatos. Isso sem falar no crime de fraude eleitoral, onde partidos usaram candidaturas laranjas de mulheres apenas para cumprir os 30% legais e manter os homens no Poder. Vereadores ainda respondem por supostamente fraudar a fila do SUS e por rachadinhas dentro da Câmara Municipal. Quer mais?
Enquanto a política da cidade se desenrola como um roteiro de série policial, a população segue refém da violência e da falta de infraestrutura. O tráfico de drogas impera em vários bairros, com confrontos frequentes entre facções e execuções a sangue frio. Os feminicídios também ocorrem com frequência, refletindo a ineficiência das políticas públicas para proteger as mulheres. A cidade já esteve entre as mais violentas do Paraná, e mesmo com a redução recente nos números de homicídios dolosos, a sensação de insegurança segue alta.
O fato da Justiça Eleitoral ter visitado a Câmara Municipal sem um aviso prévio ou esclarecimento oficial só aumenta o mistério e levanta a questão: vem bomba por aí? Se há algo que a história política de Almirante Tamandaré nos ensina, é que não faltam motivos para investigações e que a cada novo escândalo, há sempre algo mais sombrio por trás.
Aguardamos as próximas movimentações da Justiça, mas uma coisa é certa: o eleitor tamandareense precisa acordar e exigir mais transparência de seus representantes. E, se há vereadores devendo explicações, está mais do que na hora de colocá-los contra a parede.
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