As políticas educacionais abusivas do Taleban estão prejudicando tanto jovens do sexo masculino quanto feminino no Afeganistão, conforme relatório da ONG Human Rights Watch (HRW) divulgado nesta quarta-feira (6).
As políticas educacionais abusivas do Taleban estão prejudicando tanto jovens do sexo masculino quanto feminino no Afeganistão, conforme relatório da ONG Human Rights Watch (HRW) divulgado nesta quarta-feira (6). As informações são da agência Associated Press.
Apesar do foco na condenação global pela proibição a meninas e mulheres de entrarem em uma sala de aula, a organização jihadista que controla o país também está causando sérios danos à educação dos rapazes. Isso se deve principalmente à saída de professores qualificados, mudanças regressivas no currículo e aumento dos castigos corporais. Esses fatores resultam em maior receio de frequentar a escola e na redução da frequência escolar, relatou a HRW em seu estudo.
Os talibãs demitiram todas as professoras em escolas masculinas, deixando muitos alunos com professores não qualificados ou sem nenhum. Nesse cenário, estudantes e pais ouvidos pela ONG relatam aumento de castigos corporais na frente de toda a escola, como agressões relacionadas a corte de cabelo ou vestuário.
Para embasar o estudo, a Human Rights Watch entrevistou 22 rapazes e cinco pais em várias províncias, e constatou, também, a eliminação de disciplinas como arte, educação física, inglês e educação cívica pelos insurgentes.
O sistema escolar afegão está comprometido, podendo resultar em uma geração sem acesso a uma educação de qualidade, conforme a jornalista e ativista de direitos humanos afegã Sahar Fetrat, autora do relatório. Estudantes afirmam que, por falta de professores substitutos, há períodos sem aulas durante o dia. Os talibãs priorizam o conhecimento islâmico em detrimento da literacia (habilidade de ler, escrever e compreender informações escritas) e numeracia (habilidade de entender e usar números de maneira eficaz) básicas, concentrando-se em escolas religiosas.
O governo extremista mantém fora da escola cerca de três milhões de meninas acima da sexta série, sob o argumento de que as escolas só serão reabertas quando os radicais tiverem a certeza de um "ambiente seguro". A repressão de gênero abrange a proibição das mulheres de trabalharem ou saírem de casa desacompanhadas. Além disso, há relatos de mulheres solteiras e viúvas sendo coagidas a se casar com combatentes.
Segundo a agência da ONU para a infância (Unicef), mais de 1 milhão de meninas são afetadas pela proibição, mas estima-se que, antes do controle dos talibãs, cerca de cinco milhões já estavam fora da escola por falta de instalações e outras razões.
A repressão de gênero é um das razões citadas pelas nações de todo o mundo para não reconhecerem o Taleban como governantes de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza. O reconhecimento internacional fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza.
O relatório da HRW insta os governos e as agências da ONU (Organização das Nações Unidas) devem pressionar os talibãs a encerrar a proibição discriminatória na educação de meninas e mulheres, além de garantir a educação segura e de qualidade para os meninos. Isso inclui recontratar todas as professoras, ajustar o currículo conforme padrões internacionais de direitos humanos e abolir os castigos corporais.
Os porta-vozes do governo talibã não comentaram o relatório.