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HOMENAGEM - Nosso adeus ao mestre jornalista Benedito Francisquini

Um jornal inteiro seria pequeno para falar dele, Benedito Francisquini, Então, nós, funcionários, deixamos aqui um pouco de tudo o que ele representou, mas a principal lição foi a persistência, o cultivo da esperança e a facilidade de perdoar Gladys Santoro Me aposentei como jornalista e editora do Jornal Dário Tribuna do Vale de Santo Antônio da Platina, em 2018.

Por Da Redação

16/10/2023 às 19:32:33 - Atualizado há

Um jornal inteiro seria pequeno para falar dele, Benedito Francisquini, Então, nós, funcionários, deixamos aqui um pouco de tudo o que ele representou, mas a principal lição foi a persistência, o cultivo da esperança e a facilidade de perdoar

Gladys Santoro

Me aposentei como jornalista e editora do Jornal Dário Tribuna do Vale de Santo Antônio da Platina, em 2018. Hoje vou pedir licença para fugir das técnicas do jornalismo tradicional, onde atuei por 33 anos, para poder falar com o coração. Falar de meu eterno patrão, mestre, professor, amigo, e até inimigo em diversas situações, mas que a profunda amizade não deixou que nenhuma rusga perdurasse por muito tempo. Estou falando do jornalista e diretor do Jornal Tribuna do Vale, Benedito Francisquini, o Dito para muitos, Fran para outros, Francis para os mais íntimos, um jornalista apaixonado pela profissão e pela vida. Um homem que precisava amar para ser feliz!

Sem despedida

Na última terça-feira, 10, véspera do meu aniversário, ele me deu o pior presente do mundo: Foi embora, partiu (dessa pra melhor?), não disse adeus, não deu nenhuma esperança. Justo ele: o homem da esperança, o otimista, aquele que nadava contra a maré e, contra todas as perspectivas, chegava no lugar almejado. Às vezes, não como imaginou, mas como Deus quis e ele comemorava, sempre. Deus era tão bom com ele, que quando achávamos não tinha mais jeito, uma porta se abria sei lá de onde, e, Francisquicini, com toda a sua sensibilidade e fé, a enxergava e entrava nela sem medo, sem pudor, sem "talvez, quem sabe?". Ele simplesmente ia.

Essa sua coragem nos animava e, nós, os funcionários, embarcávamos nas suas aventuras. A secretária executiva e diagramadora, Priscila Simões e o fotografo Antônio de Picolli foram os mais crédulos. Eles ficaram e ficaram e ficaram, até o adeus final. E mesmo com sua cadeira vazia, eles continuam lá, esperando, talvez, que tudo não passe de mais uma brincadeira sem graça. "Francis tá aqui", afirma Priscila.

No Parque Gráfico, Paulo, Pedro e Argus também aguardam a hora de começar a rodar o jornal.

Amigos para sempre

Com a batuta firme nas mãos, Franciquini conseguia o inimaginável: Ele sempre contornava os entreveros entre funcionários e por fim, todos – os que ficaram, os que se foram – continuam amigos.

Mas nada era fácil. Fazer um diário era extremamente difícil. Tinha hora para entrar, mas nunca para sair. Os finais de tarde eram os piores horários. Tinha que fechar o jornal, tinha que diagramar, tinha que editar. Enquanto todos arrancavam os fios de cabelos, Fransciquini colocava músicas no volume mais alto do computador e deixava rolar. E a gente era obrigada a ficar gritando para que o outro pudesse ouvir. Às vezes, essa mania da música alta era irritante. Em outras ocasiões, era divertida e a gente caia na risada, cantava junto, fazia coro. E isso aconteceu por muitos anos seguidos.

Dificuldade em cima de dificuldade

Enquanto o mundo se tornava cada vez mais digital, Francisquini não abria mão do impresso. E hoje vemos que nem podia. Sua teimosia fez da Tribuna do Vale uma relíquia no Estado. No Norte Pioneiro, Francisquini era símbolo de respeito. Prefeitos, vereadores, associações, e a população regional sempre recorriam a ele para resolver problemas, para divulgar eventos, e até mesmo eleger candidatos aos mais diversos cargos públicos.

Mas nem tudo se transformava em dinheiro, e por diversas ocasiões, a situação ficava realmente "preta". Quando o aluguel dos prédios que ocupávamos acabava pesando demais, os funcionários (Priscila, Antônio, Luiz Guilherme e eu) tratávamos que resolver o problema. O jornal chegou a ser feito nos quartos da minha casa e na sala de estar da casa dos pais da Priscila. Um dia cheguei a quase desmaiar de cansaço e fome. Dona Nazaré e seo Simões (pais da Priscila) me socorreram, me colocaram em pé e pronta para terminar o jornal daquele dia. Nessa época, Francis lutava contra um câncer e nós assumimos tudo. O diretor do jornal online, Tá No Site, Luiz Guilherme Bannwart, se juntou a nós e devagar, aos poucos, conseguimos atravessar o deserto e chegar ao oásis.

Lanche da tarde e aniversários

Com o tempo, Francisquini estabeleceu um horário para o lanche da tarde. Ele saia e voltava com lanches deliciosos. Saúde, nossa eterna diarista e a Rozana, nossa recepcionista, se encarregavam do café.

Quando um de nós fazia aniversário, a festa era garantida, com bolo e salgadinhos. Nem que fosse para comer em frente ao computador, mas era obrigatório comemorar.

O começo e o fim

Cheguei na Tribuna do Vale em janeiro de 2005. A ideia era transformar o bissemanário em diário. Em março do mesmo ano, atingimos a meta. Naquela época, trabalhavam o jornalista Marco Antônio Martins (falecido) – alma gêmea do Francisquini. Os dois falavam alto, e agitavam os funcionários. Eu, recém–chegada, não sabia que aquela gritaria era o jeito deles, e tive sérias dúvidas em permanecer naquele "hospício".

Naquela época, Dayse Orsine ainda era casada com Fransciquini e cuidava dos contatos regionais e da contadoria da empresa. Seus filhos, Andrei (já falecido) e Luigi entraram de cabeça na história e também deram um duro danado. Nádia, a mais nova, não tinha interesse pelo jornal, mas estava sempre lá.

Lúcia Valentim, fiel escudeira, começou trabalhar com Francisquini desde 1988. O acompanhou quando ele era jornalista da sucursal da Folha de Londrina, depois na sucursal do Estado do Paraná e depois, quando Francisquini e Dayse deram início à Tribuna do Vale – inicialmente, com publicações mensais, depois quinzenais, semanais, depois bissemanais e em março 2005, em Diário. Lúcia esteve junto por décadas. Mesmo tendo saído do jornal, já por volta de 2018, ela continuou ajudando em tudo o que era necessário.

Outra que ficou até o fim foi Maria Saúde, a Saúde para os íntimos. Sua alegria era contagiante e Fransciquini se divertia com ela. Mesmo com o altos e baixos, Saúde ficou até o fim, igualmente o jornalista e radialista Juninho Queiroz, companheiro de todas as horas, e Francielle Alexandre, a 'Franzinha', como era carinhosamente chamada por Francisquini.   

Com o tempo, vários profissionais passaram pelo Jornal: Celso Felizardo, Fábio Galhardi, Felipe Peres, Aguinaldo Vilas Boas, Waleska Roth (falecida), Aline Damásio, Dayse Miranda, Luís Bragança de Pina, Maurício Reale (já falecido), Luiz Guilherme Bannwart, entre outros.

Na recepção, Rozana Barbosa, na diagramação, Leonardo Mari, Rafael Setti, e depois, definitivamente, Priscila Simões. Na impressão: Paulo de Melo, Luís Romão, Marinho.   

Os que ficaram até o fim

A diagramadora Priscila e o fotógrafo Antônio (Tonho), tocaram o jornal nos tempos bons e ruins. Nunca abandonaram Francisquini e ocupavam inúmeras funções para que o jornal pudesse atravessar suas crises sem precisar fechar as portas.

Luiz Guilherme Bannwart não abandonou o ex-patrão em hora alguma. Apesar de ter seu próprio negócio, ajudava a Tribuna sempre que podia e fazia visitas constantes ao Francisquini.

Eu, Gladys Santoro, não fiquei até o fim. Trabalhei no jornal de 2005 a 2018, quando me aposentei e retornei à minha terra natal, no estado de São Paulo, mas um laço inexplicável nos manteve sempre por perto. Tivemos altos e baixos, rimos, cantamos e brigamos na mesma proporção, mas o amor fraterno era maior que tudo. Dias antes de nos deixar, Francis me ligou. Conversamos bastante e até fizemos planos. "Vem pra cá pra gente tomar uma cervejinha", convidou ele. Não deu tempo.

Por todos nós

Me pediram para escrever uma homenagem a ele. Se Francis estivesse vivo, faria qualquer um chorar com seus textos, mas eu não sou tão boa quanto ele. Só estou atendendo ao pedido de meus antigos colegas de trabalho. É difícil falar do meu amigo e mestre. É difícil dizer Adeus. Então, meu querido, agora que você se foi de verdade, deixo aqui nossas eternas saudades, agradecemos por todo o aprendizado, por toda aula que tínhamos diariamente convivendo com você, pela sua persistência, que nos ensinou a lutar sempre, e por todo o carinho que sabemos que nutria por cada um que esteve com você. Até um dia meu mestre!

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