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Os desafios da Natura na venda da The Body Shop

De volta à mesa e sangrando caixa, valuation deve ser desafio – mas com recursos da venda da Aesop, Natura tem mais espaço para negociar Quatro meses após divulgar a conclusão da venda da marca Aesop para a L'Oréal por um montante de US$ 2,5 bilhões, a Natura comunicou hoje que está atualmente explorando “opções estratégicas” para a The Body Shop.

Por Da Redação

30/08/2023 às 04:13:43 - Atualizado há

De volta à mesa e sangrando caixa, valuation deve ser desafio – mas com recursos da venda da Aesop, Natura tem mais espaço para negociar

Quatro meses após divulgar a conclusão da venda da marca Aesop para a L'Oréal por um montante de US$ 2,5 bilhões, a Natura comunicou hoje que está atualmente explorando “opções estratégicas” para a The Body Shop. Isso indica ao mercado que a empresa está considerando a venda desse ativo, especialmente em um momento em que o foco principal está na região da América Latina.

No entanto, ao contrário da transação anterior envolvendo a Aesop, a venda da The Body Shop, uma empresa fundada por Anita Rodrick, poderia ser mais desafiadora. Sustentada principalmente por operações de varejo físico, essa unidade empresarial tem enfrentado dificuldades há anos, não demonstra crescimento significativo e tem sido afetada pelos desdobramentos da Guerra na Ucrânia na Europa, que é seu principal mercado.

Não é a primeira vez que a Natura tenta vender a The Body Shop. Antes de concretizar a venda da Aesop, que era uma joia da coroa com índices de crescimento expressivos, a Natura já havia buscado compradores para a empresa sediada no Reino Unido, de acordo com fontes consultadas pela EXAME IN.

Entretanto, as ofertas naquela época não foram consideradas adequadas, e os recursos obtidos provavelmente não seriam suficientes para reduzir o endividamento e fornecer o impulso necessário para a Natura &Co.

A distinção agora reside no fato de que a Natura não está mais limitada em sua estratégia e possui mais flexibilidade financeira para buscar soluções mais vantajosas.

“O desafio aqui é o planejamento e o timing. O negócio foi impactado substancialmente pela situação na Ucrânia, e o momento atual não é o mais favorável”, observa um analista.

Em análises preliminares de valuation, especialistas estimam que a empresa poderia ser vendida por cerca de US$ 500 milhões, o que é um pouco mais da metade dos US$ 900 milhões que a Natura desembolsou em 2017 para adquiri-la. Em um relatório, o J.P. Morgan sugere uma avaliação em torno de R$ 2,5 bilhões para a The Body Shop.

Contudo, para investidores mais cautelosos, um acordo nesse valor ainda poderia ser considerado bem-sucedido. Há incertezas sobre o interesse de compradores estratégicos, o que poderia significar que os compradores mais prováveis seriam fundos de private equity, focados em reverter situações difíceis no setor de varejo.

Na ocasião da aquisição da The Body Shop há seis anos, a Natura competiu com empresas como CVC e Advent para adquirir a companhia.

“Normalmente, essas empresas não costumam oferecer os preços mais agressivos”, pondera um analista que já teve envolvimento com a Natura. “Além disso, elas geralmente realizam operações alavancadas, o que significa que teriam que obter financiamento em um mercado de dívidas que está caro.”

No mercado, a divulgação do intuito da venda foi recebida de forma positiva, apesar da abordagem pouco convencional, já que normalmente as empresas só anunciam esse tipo de transação quando já têm um comprador em vista. Isso resultou em um aumento de cerca de 3% no preço das ações da Natura.

“O aspecto mais relevante aqui é que a venda potencial da The Body Shop elimina uma distração e possibilita que a empresa concentre seus esforços e recursos na integração das operações da Natura e Avon na América Latina”, aponta um analista com participação na empresa.

Com os recursos provenientes dessa transação previstos para entrar neste trimestre, é esperado que a empresa possua um saldo líquido de caixa. Segundo o J.P. Morgan, os fundos obtidos com a venda poderiam até mesmo ser utilizados para uma distribuição extraordinária de dividendos, uma ação que poderia ser favorável para reconfortar os investidores que sofreram com os desafios recentes que levaram a uma queda significativa nas ações da empresa.

“Essa é uma possibilidade, embora não seja a mais provável, já que a empresa provavelmente precisará de uma reserva para enfrentar eventuais contratempos tanto no cenário macroeconômico quanto no processo de integração da Natura com a Avon”, comenta um acionista que acompanha de perto a empresa.

A eventual venda da The Body Shop representaria o momento mais marcante na desarticulação de uma estratégia de internacionalização que não obteve os resultados esperados. Essa estratégia visava transformar a Natura em uma plataforma global de marcas semelhante à L’Oréal.

Quando adquiriu a empresa da gigante francesa seis anos atrás, a Natura planejava alavancar as afinidades entre as duas empresas – ambas fundadas na década de 1970 e com uma forte ênfase em ingredientes naturais e preservação do meio ambiente. O objetivo era revitalizar a The Body Shop e expandir sua presença no varejo físico, onde a empresa ainda era relativamente inexperiente.

Inicialmente, houve algum progresso nesse sentido, com alguns resultados positivos derivados de um processo de reestruturação que incluiu o fechamento de lojas não rentáveis. Contudo, a empresa foi impactada pela pandemia, que teve um efeito adverso sobre a The Body Shop, uma vez que a empresa não estava bem estabelecida no comércio eletrônico.

Posteriormente, a empresa enfrentou os desafios da Guerra na Ucrânia, que foi particularmente prejudicial devido à produção significativa da empresa na Polônia e às vendas na Europa Oriental. Tudo isso ocorreu enquanto a empresa também estava absorvendo a aquisição complexa da Avon, realizada em 2020.

“Foi uma combinação de execução deficiente e uma dose considerável de má sorte. A realidade é que a Natura acabou se concentrando em cortes de custos e não conseguiu implementar a reestruturação de marca necessária para revigorar o apelo da The Body Shop junto aos consumidores”, afirma um analista que monitora a empresa.

No presente, a The Body Shop opera aproximadamente 2.300 pontos de venda, incluindo lojas próprias e franquias, o que representa um terço a menos do que as 3 mil unidades registradas em 2017. Naquela época, o faturamento da unidade estava em torno de 920 milhões de euros (cerca de R$ 3,5 bilhões na conversão daquele ano).

No ano passado, a receita da The Body Shop totalizou R$ 4,4 bilhões, um declínio de 25% em relação a 2021, enquanto o Ebitda ficou em R$ 363 milhões, uma redução de 64% em comparação com o ano anterior.

Essa tendência de declínio persistiu no ano corrente, embora com margens um pouco mais saudáveis. A empresa recrutou Ian Bickley, ex-CEO da Coach e membro do conselho da Natura &Co, para liderar o processo de reestruturação.

Outra questão que desvia o foco da América Latina é a Avon International, que é responsável por todas as operações da empresa fora dessa região e dos Estados Unidos (os quais ficaram de fora do acordo de compra em 2020). Essa unidade é considerada a parte mais desafiadora do portfólio.

Com vendas substanciais na Rússia e na Europa Oriental, a empresa está enfrentando uma queda tanto nas receitas quanto na rentabilidade, e as fontes consultadas pela EXAME IN afirmam que uma venda desse negócio é improvável.

“Não há compradores evidentes, e os contratos nos países onde opera são bastante desfavoráveis. Encerrar as operações seria mais dispendioso do que mantê-las, mesmo nas condições atuais. A única alternativa é tentar reestruturar o negócio”, comenta uma fonte próxima à situação.

Uma possível abordagem seria a venda de segmentos específicos em países pontuais, sugere outra fonte com conhecimento do assunto.

Fonte: Exame

Fonte: Biznews
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