O tempo passa, o tempo voa mas nem tudo que o vento leva nos deixa numa boa.
O tempo passa, o tempo voa mas nem tudo que o vento leva nos deixa numa boa. Conforme nossa vida passa, ele vai nos tirando alegrias e nos impõe mudanças radicais em nome de um mundo novo.
Quem vive em Umuarama há muito tempo e aqueles que aqui nasceram, tem consciência de que o tempo voa rápido pois desde meados do século passado, quando a Capital da Amizade foi fundada, ele causou mudanças marcantes na vida da cidade e de sua gente.
Basta observar, quando se anda pela nossa urbe vê que quase nada restou daquele tempo. Como retocando uma pintura, o tempo foi redesenhando nossos cenários urbanos. Quase absolutamente tudo sumiu do mapa – basta comparar fotografias antigas com atuais e verão que aquela cidadela pacata não existe mais.
Muitos ambientes que marcaram a nossa infância e juventude simplesmente desapareceram nessa ventania causada pelos anos voando velozmente. Vendo a realidade, sem se atormentar chorando saudosismo que faça mal à saúde mental, cito um espaço que era um de meus preferidos na minha fase jovem guarda: o inesquecível Cine Umuarama.
Ele foi construído em 1968 a poucos passos da moderna Praça Santos Dumont. Tinha uma estrutura arquitetônica imponente e se destacava entre as outras construções do comércio daquela época na área mais nobre da cidade.
E seguia os padrões dos cinemas das capitais, com bilheterias e atendimento que agradavam o público, bela sala de recepção, bomboniere chique, ampla galeria expondo cartazes dos próximos filmes, palco e telona gigantes com uma cortina vermelha que causava esplendor aos cinéfilos que chegavam para ocupar mais de 1.500 cadeiras. E, no alto, de frente para o palco, a sala de projeção com equipamentos hiper modernos em som e imagem da época.
Se comparada com as salas de cinema atuais, ela era realmente gigante. E isso era reconhecido quando a imprensa classificava o Cine Umuarama como um dos maiores e mais modernos do Paraná – comparando-os inclusive com os da capital, Curitiba! Exemplificando em números, ele tinha uma área total de 1.700 metros quadrados!!!
A rede de cinemas paulista Araújo Passos se interessou em investir em Umuarama por causa do grande sucesso do Cine Guarani – que funcionava há mais de dez anos na cidade.
E, claro, estávamos na Era de Ouro do Cinema, que era a diversão artística-cultural preferida no mundo inteiro. As redes de televisão ainda não haviam virado paixão nacional. E não existia internet nem TV a cabo, enfim, a Sétima Arte reinava absoluta no planeta!
Quando o Cine Umuarama iniciou as atividades foi uma verdadeira explosão no centro da cidade. Todo mundo queria estar lá curtindo a novidade. Formavam-se multidões na Avenida Paraná em frente ao cinemão e filas quilométricas viravam o quarteirão até quase rodear a praça. Eram famílias inteiras lá esperando a sua vez para comprar ingressos.
Para se ter uma ideia do sucesso de faturamento vale registrar que nessa fase ele fazia duas sessões por dia – lotando as 1.500 poltronas que o cinema tinha. E, pasmem!, aos domingos e feriados eram quatro sessões – duas vespertinas e duas à noite – e todas elas com 'casa lotada'.
E não era apenas por ser uma novidade na cidade que o Cine Umuarama atraía milhares de pessoas. É preciso reconhecer que a sua programação só tinha super lançamentos da época, principalmente filmes vencedores do Oscar, os de bangue-bangue e os do todo-poderoso James Bond, o 007!!! Também 'bombavam' na telona as produções brasileiras com os astros mais amados de nossa terra. O maravilhoso Mazzaropi, o engraçadíssimo Grande Otelo e o Rei Roberto Carlos com seus filmes em ritmo de aventura enlouqueciam as plateias. Seus filmes chegavam a ficar mais de três semanas em exibição
Mas, como disse antes: o tempo passa, o tempo voa e nem tudo acaba numa boa! E foi isso que aconteceu! Em meados de 1995 a administração do Cine Umuarama anunciou que a empresa encerraria suas atividades aqui na Capital da Amizade. E que o prédio estava à venda.
Por incrível que pareça, a notícia não causou impacto, não teve repercussão. Afinal, o motivo de que o cinema fecharia as portas era público e notório. A paixão pelo cinema aqui em Umuarama o vento levou
Vamos aos detalhes: a situação era angustiante, o público tinha sumido Se antes as sessões lotavam, agora no final da história na bilheteria passavam menos de 50 frequentadores Ou seja, uma imensa sala com 1.500 poltronas ficava deserta e melancólica!!!
Mas como esse desastre aconteceu? Essa forte mudança foi causada pelas inovações tecnológicas, que conquistaram a nova geração e até mesmo atraíram a simpatia da geração anterior da época da Jovem Guarda.
Nesse momento a 'vídeomania' dominava todo mundo e a moda era passar nas videolocadoras e alugar superlançamentos para assistir em casa, junto com a família tomando cerveja e saboreando pipocas. Além de mais divertido, tinham mil e uma opções de escolha de grandes filmes.
Outra rival do cinema foi a TV por assinatura (a cabo) que chegou em Umuarama com força total na década de 90, com programação repleta de atrativos que prendiam as famílias no conforto de suas casas.
Acrescente-se a esses motivos o crescimento e modernização dos bares, lanchonetes e restaurantes da cidade, oferecendo divertidos momentos de socialização para a população, que trocou o cinema pela 'arte de botekar'.
E no final de 1995, como já era esperado, o Cine Umuarama fechou as cortinas e uma história de quase 30 anos. Trinta anos marcados de sucesso, que fique bem claro isso, provando que mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, a humanidade adora as mudanças e quer permanentemente viver novas experiências.
Outra prova disso é no atual cenário planetário que estamos vivendo abraçados à internet e prontos para embarcar numa nova era – a da revolucionária Inteligência Artificial. Essas eu acho que o vento não vai levar, não!!! (ITALO FÁBIO CASCIOLA)