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Ex-político das Ilhas Salomão afastado do cargo revela que recusou "subornos chineses"

Daniel Suidani, um político de postura crítica à relação cada vez mais estreita entre os governos das Ilhas Salomão e da China, fez revelações quase três meses após ser destituído do cargo de primeiro-ministro da província de Malaita, na pequena nação insular.

Por Da Redação

03/05/2023 às 18:16:33 - Atualizado há

Daniel Suidani, um político de postura crítica à relação cada vez mais estreita entre os governos das Ilhas Salomão e da China, fez revelações quase três meses após ser destituído do cargo de primeiro-ministro da província de Malaita, na pequena nação insular. Atualmente nos Estados Unidos, ele contou que sua expulsão foi coordenada por agentes do Estado chinês após ele recusar uma oferta de suborno. As informações são da rede Radio Free Asia.

“Parece ser uma coisa normal eles virem ao meu escritório com muito dinheiro”, disse ele. “Uma vez fechei uma loja chinesa por não seguir os procedimentos para operar na província, e eles me deram muito dinheiro, dizendo ‘esse dinheiro é para você e seus filhos, para permitir que nosso negócio continue, porque empregamos mais de seu pessoal'”, contou.

O premiê provincial deixou o cargo devido a uma moção de desconfiança baseada em acusações de que ele se apropriou indevidamente de verbas públicas. Antes da votação, apoiadores de Suidani fizeram um protesto pelas ruas de Auki, a capital regional, para defender a manutenção dele no cargo.

Premiês das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare (esq.), e da China, Li Keqiang (Foto: fmprc.gov.cn)

Ele contou que teve oferta de propina de empresas chinesas e que, diante da recusa em “cooperar”, enfrentou como consequência o afastamento do cargo.

“Eu disse que não, não posso permitir desonestidade em minha província”, lembrou, acrescentando que o suborno totalizava cerca de US$ 120 mil (R$598 mil). “Depois que recusei e [fui] contra a vontade deles, eles fizeram o possível para me tirar do cargo de primeiro-ministro de Malaita, apresentando três moções de censura contra mim”.

Segundo Suidani, para conter as manifestações populares contrárias à sua destituição, o governo central usou barcos de patrulha, armas de fogo e policiais.

“Agora não há ninguém na província que tenha coragem de defender a democracia, a liberdade”, disse, acrescentando que uma organização de mídia na capital, Honiara, tem um oficial chinês instalado em sua sede para garantir que a cobertura da imprensa esteja alinhada com os objetivos de propaganda de Beijing.

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e também ao movimento para estreitar laços com a China. O governo local evidenciou o bom relacionamento com os chineses há três anos, ao trocar a aliança diplomática com Taiwan por uma com Beijing.

Nesse contexto de crescente influência financeira e política de Beijing no país, Suidani observa que a democracia e a liberdade de imprensa estão se deteriorando, e os tentáculos chineses estão alcançando outras áreas.

Suidani sempre pendeu para o lado ocidental e refutou a decisão de redirecionamento democrático para Beijing. Inclusive, vetou projetos financiados pela China em sua província, alegando que as propostas de ajuda feitas por Washington são mais interessantes.

Ele havia prometido benefícios de um projeto de ajuda ao desenvolvimento dos EUA na província, mas demorou a produzir resultados tangíveis.

Uma das medidas do premiê provincial que contrariaram Beijing foi recusar a instalação em Malaita de torres de telefonia móvel da chinesa Huawei, empresa alvo de desconfiança global devido à suposta proximidade com o Partido Comunista Chinês (PCC).

O deputado de Malaita, Glen Waneta, criticou em outubro a recusa da província em aceitar torres móveis da gigante chinesa das telecomunicações, alegando que elas melhorariam as comunicações irregulares na ilha.

Segurança

De acordo com Suidani, também há preocupações sobre movimentos relacionados à segurança na ilha, que também passam pela forte presença chinesa.

“Há muitas coisas acontecendo na polícia e na segurança”, disse ele. “Vimos algo como a polícia [chinesa] treinando a polícia local, e eles vão às aldeias e treinam as pessoas nas aldeias sobre autodefesa”.

“Além disso, eles têm trazido veículos e equipamentos, veículos grandes que não vimos antes no país”, disse ele. “A questão é para que servem todas essas coisas?”

Em março de 2022 vazou uma carta de intenções indicando que o governo chinês planeja estabelecer uma base militar na nação insular, que assinou com a China um acordo de segurança que prevê, entre outras coisas, o envio de policiamento para ajudar as autoridades locais em caso de turbulência popular.

Em março, o comandante do Indo-Pacífico dos EUA, almirante John Aquilino, disse que as incursões da China nas Ilhas Salomão foram um “alerta” para Washington, acrescentando que os laços de segurança da Casa Branca com o país estavam “de volta aos trilhos”.

População insatisfeita

A relação comercial com a China é considerada predatória também por parte da população das Ilhas Salomão. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

Fonte: A Referência
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