Geral Paraná

Espetáculo Karaíba abre porta no Festival de Curitiba com participação indígena histórica; 'Ação concreta de luta', diz diretor

Por Da Redação

26/03/2023 às 06:02:21 - Atualizado há
Das 27 pessoas da ficha técnica, 17 descendem de povos originários. Todos os atores são indígenas. Musical baseado no livro de Daniel Munduruku fala de existência, resistência e de luta. Espetáculo Karaíba: em busca de mais representatividade

Divulgação/Brigiti Bandini

A busca por uma maior representatividade foi um ponto central para a curadoria desta edição do Festival de Curitiba. Um dos destaques é o espetáculo "Karaíba: um musical originário", que traz de forma inédita em um festival de teatro brasileiro a maior participação indígena em cena .

Das 27 pessoas que constam na ficha técnica, 17 descendem dos povos originários. Os quatro atores em cena são indígenas.

A peça será apresentada dias 28 e 29 de março na Mostra Lúcia Camargo. O g1 conversou com a produção, elenco e direção da peça sobre o trabalho.

A produtora Juliana Gonçalves conta que na pandemia se deparou com o livro do escritor e ativista indígena Daniel Mundurukum “O Karaíba: uma história do pré-Brasil”. A leitura a fez pensar em adaptar a obra para o palco.

Ela conta que enviou um email "tímido" para o escritor contando o desejo, mas sem acreditar que seria respondida. Porém, disse ter sido surpreendida por uma resposta do próprio autor. “Desde então o espetáculo Karaíba tem sido sonhado”, comemora.

Para tornar o sonho concreto, outros artistas se engajaram ao projeto com o comprometimento ético de formar uma equipe majoritariamente composta por profissionais indígenas.

A atriz Ludimila D"Angelis reforça quantas histórias carregam e que precisam ser contadas.

“Ainda estamos aqui e precisamos ser ouvidos. Este espetáculo permite que isso aconteça através do nosso corpo, da nossa música e da palavra”, enfatiza.

Os quatro atores em cena são indígenas

Divulgação/Brigiti Bandini

Leia também:

Acessibilidade: Festival de Curitiba tem peças com audiodescrição e intérprete de libras; veja programação

Guritiba: Festival de Curitiba tem programação dedicada às crianças; saiba como aproveitar espetáculo com os pequenos

Assim como o livro, o espetáculo é uma reinvenção dos dias que antecedem a chegada das caravelas portuguesas ao Brasil e sobre os quais não há registro.

Na história, um grande sábio, conhecido como Karaíba, tem um sonho premonitório de que a terra onde vive será invadida por grandes monstros que destruirão tudo e todos.

O diretor do espetáculo, Rafael Bacelar, explica que a encenação se dá a partir da possibilidade da imaginação.

“A experiência mais latente, mais viva do espetáculo, é o encontro entre artistas e público para reimaginarmos essas experiências. É um convite para criar esse campo do passado, ligado ao presente para uma reescrita do futuro”, diz.

Karaíba traz para a cena o canto, a poesia, a música, a oralidade, a sonoridade e a dança dos corpos indígenas.

De acordo com Rafael o espetáculo é uma narrativa, uma contação de histórias feita na forma de um musical ancestral brasileiro.

“Não é uma obra simples, fala de morte, de luto, dor, guerra, desse fantasma [o colonizador] que virá. Convoca o público a ouvir, abrir os olhos, o coração e a escutar uma história. A ação política desse espetáculo é ouvir."

Para o ator Yumo Apuriña, a montagem traz o recado "da existência anterior dessa ficção de Brasil que nos foi narrado, fala também da resistência ao longo de todos esses anos de genocídio, da imaginação de um futuro melhor, desse presente que queremos mudar".

Os atores contam que o projeto possibilitou o encontro e criou uma rede de conexão entre pessoas indígenas, que se sentem gratos pela forma como a peça também tem atraído muitos deles para a plateia.

Espetáculo também tem atraído indígenas para a plateia

Divulgação/Brigiti Bandini

“O teatro nem sempre é um lugar democrático do ponto de vista do acesso. Esse trabalho também tem a função de demarcar território, é uma forma de explodir essa bolha burguesa e predominantemente branca que se impõe no teatro”, desabafa o diretor.

Rafael conta que estão muito felizes com a participação no Festival de Curitiba, em levar o espetáculo para outro território, encontrar novos parentes, outro público, um novo teatro. De se fazer ouvir em um outro contexto político social.

“O Karaíba vai fazer um rasgo na trajetória do festival e abrir um campo possível para que mais vezes se tornem presentes em outros festivais do país, pessoas indígenas, pretas, pessoas com experiência de luta e de apagamento. Poder realizar esse espetáculo é uma ação concreta de luta”, conclui.

Serviço

Karaíba: um musical originário (Mostra Lucia Camargo)

Dias: 28 e 29 de março, às 20h30

Local: Sesc da Esquina (Rua Visconde do Rio Branco, 969 – Mercês)

Classificação: Livre

Duração: 50 minutos

Valores: Ingressos R$ 40,00 e R$80,00 (mais taxas administrativas).

Ingressos: www.festivaldecuritiba.com.br e na bilheteria física exclusiva do Shopping Mueller (piso L3), de segunda-feira a sábado, das 10h às 22h; domingos e feriados, das 14h às 20h.

Os vídeos mais assistidos do g1 PR:

Mais notícias do estado em g1 Paraná.
Fonte: G1
Comunicar erro

Comentários Comunicar erro

Jornalista Luciana Pombo

© 2024 Blog da Luciana Pombo é do Grupo Ventura Comunicação & Marketing Digital
Ajude financeiramente a mantermos nosso Portal independente. Doe qualquer quantia por PIX: 42.872.330/0001-17

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

Jornalista Luciana Pombo
Acompanhantes GoianiaDeusas Do Luxo