Política Conselho de Direitos Humanos da ONU

Muitos países falham em investigar casos de tortura, diz especialista da ONU

Por Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

16/03/2023 às 12:56:22 - Atualizado há

Os Estados devem ser os "responsáveis primários" em casos de tortura, para acabar com a impunidade e fazer justiça em nome das vítimas. Quem afirma é Alice Edwards, relatora especial da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre tortura e outros tratamentos ou punições cruéis, desumanos ou degradantes.

Em depoimento ao Conselho de Direitos Humanos, na terça-feira (14), ela afirmou que o "dever nacional de investigar a tortura" é "universalmente subexecutado", classificando tal constatação como "alarmante".

"Apesar do crescimento impressionante dos tribunais penais internacionais e do nosso compromisso coletivo com essas entidades, sua capacidade de lidar com a escala e o alcance dos crimes de tortura perpetrados hoje nunca será suficiente", afirmou Edwards, enfatizando a importância dos processos nacionais .

Ela instou as autoridades a "assumirem a responsabilidade pelos processos judiciais" e buscarem a justiça "em casa" para crimes de tortura, a fim de obter responsabilização, cura e reconciliação significativas.

O relatório destaca os principais obstáculos que impedem investigações completas e imediatas sobre denúncias de tortura, incluindo desafios institucionais, regulatórios, políticos e práticos. Também observa práticas estatais promissoras para encorajar a investigação, incluindo a documentação de que pelo menos 105 países adotaram o crime explícito de tortura.

A relatora especial aponta ainda uma "lacuna flagrante" entre a promessa e a realidade da proibição internacional da tortura. Cada Estado tem o dever de criminalizar e investigar crimes de tortura na legislação nacional, processar ou extraditar suspeitos e sentenciar os infratores com penas que reflitam a gravidade do crime, disse ela.

Alice Edwards: dever nacional de investigar a tortura é "universalmente subexecutado (Foto: ONU News)
Papel oficial

Poucos incidentes de tortura e outros maus-tratos são oficialmente relatados. E, daqueles que vêm à tona, os casos geralmente fracassam ou são arquivados antes de uma conclusão satisfatória, disse ela.

"A diferença entre um crime de tortura e um crime comum é que a tortura é antes de tudo um crime cometido ou possibilitado por funcionários públicos", explicou ela. "Essa assimetria de poder entre o acusador e o acusado coloca a suposta vítima em uma situação de particular precariedade."

O relatório documentou como as vítimas são frequentemente ameaçadas e intimidadas a retirar suas alegações, arriscando contra-alegações vexatórias e danos à reputação associados ou desconfiando das "rodas da justiça".

"As apostas são altas"

"Os queixosos ainda podem estar sob custódia ou sob o controle das próprias autoridades contra as quais estão fazendo as acusações", disse ela. "Os riscos de retaliação e violência, incluindo mais tortura ou "desaparecimento" são reais. As apostas são altas."

A relatora pediu aos Estados que tomem uma série de medidas, incluindo o estabelecimento de órgãos de investigação independentes que assegurem que as vítimas e sobreviventes tenham plenos poderes e possam participar ativamente de qualquer processo legal envolvendo tortura. Ainda instou os Estados a tratar os denunciantes com o devido respeito e a oferecer medidas apropriadas de reabilitação e proteção.

"O acesso precoce ao aconselhamento de trauma e outras formas de reabilitação não são apenas do interesse da saúde mental do reclamante, mas também os ajuda a se tornarem testemunhas mais confiáveis ??nos processos judiciais", disse ela.

Edwards destacou que "os julgamentos nacionais por tortura não são uma ameaça à autoridade do Estado". Ao contrário, o que "ameaça a legitimidade de um governo é torturar pessoas, recusar-se a investigar e julgar os perpetradores e permitir que os torturadores fiquem impunes. A legitimidade de um Estado será reforçada se eles de fato defenderem a verdade e a justiça, em vez de serem vistos como cúmplices do crime de tortura".


Fonte: A Referência
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