Mesmo após a Petrobras anunciar um corte no preço dos combustíveis, abastecer deve ficar mais caro a partir desta quarta-feira (01). Pelo menos é o que defende o Sindicato dos Revendedores de Combustíveis e Lojas de Conveniências do Estado do Paraná (Paranapetro). A reportagem da Banda B flagrou filas em diversos postos de combustíveis em Curitiba com motoristas tentando se adiantar ao aumento nos preços, na noite desta terça-feira (28).
Fila em posto de combustíveis em Curitiba nesta terça-feira (28) (Foto: Cristiano Vaz/Banda B)
O frentista Mateus Ventura confirmou à Banda B que o movimento é grande.
"Está bem cheio, bastante fila, um atrás do outro. Como é final de mês tem gente até usando o cartão de crédito pra conseguir encher o tanque e aproveitar o preço. Pessoal não está muito animado com essa alta nos preços, por isso a maioria está completando o tanque", disse o frentista.
Uma motorista, dona Karmen, disse que passou em cinco postos e não conseguiu abastecer por conta das filas.
"A gente correu pros postos por conta desse aumento do imposto. Passei em cinco lugares e não consegui abastecer devido às filas", relatou a mulher.
Em comunicado, a Paranapetro disse que a expectativa no mercado é de um repasse de alta significativa das distribuidoras para os postos, devido ao retorno da cobrança dos impostos federais.
"Importante destacar que as refinarias da Petrobras não suprem todo o mercado brasileiro (suprem cerca de 70%), e produtos importados e de refinarias privadas têm cotação independente. Vale ressaltar, ainda, que as distribuidoras já estão realizando aumentos para os postos desde a semana passada, alegando questões de mercado", afirma o sindicato.
A retomada da cobrança de tributos federais sobre a gasolina deve levar o combustível novamente à casa dos R$ 5,50, patamar observado pela última vez em agosto de 2022, segundo projeção da Ativa Corretora.
A projeção considera o preço do combustível nas bombas mais a adição de R$ 0,34 por litro, impacto esperado pelo governo com o retorno dos tributos, que custarão R$ 0,47 por litro, descontando o corte de R$ 0,13 anunciado pela Petrobras nesta terça-feira (28).
O impacto final, porém, depende de diversos fatores, como a política comercial de distribuidoras e postos e a variação do etanol anidro, que representa 27% da mistura vendida nos postos.
A conta foi feita com base no preço médio da gasolina brasileira há duas semanas, R$ 5,07 por litro, segundo pesquisa feita pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis).
Nesta terça, a ANP divulgou a pesquisa da semana passada, com preço médio da gasolina de R$ 5,08 por litro, praticamente estável em relação à semana anterior.
O mercado esperava alta de até R$ 0,69 por litro, valor das alíquotas antes da desoneração promovida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em maio de 2022. Para garantir alíquotas mais baixas sem perda de receita, o governo decidiu taxar as exportações de petróleo brasileiras.
Segundo a Ativa Corretora, a alta tem impacto potencial de 0,39 pontos percentuais no IPCA, o índice oficial de inflação no país, com maior pressão em março e pressão residual em abril.
"Mediante a ação do governo, nossa perspectiva para o IPCA de 2023 saltará de 6,2% para 6,8%. Por inércia elevamos nossa perspectiva para 2024 de 3,7% para 4,0%", escreveu o economista-chefe da corretora, Étore Sanchez.
Sanchez acredita que a taxação das exportações não terá o efeito desejado pelo governo, já que o caráter temporário do imposto pode adiar operações de venda. "O imposto temporário gera uma postergação de negócios, ainda mais em commodities globalizadas", diz.
"Em outras palavras, o petróleo tem mais valor em estoque do que sendo exportado, tendo em vista a perspectiva de receita futura após a remoção do imposto em quatro meses."
A reoneração tem impacto também no preço do etanol hidratado, mas marginal, já que o governo definiu as alíquotas em R$ 0,02 por litro. Na semana passada, o combustível era vendido ao preço médio de R$ 3,79 por litro, segundo a ANP.
O preço do diesel deve manter tendência de queda, já que a estatal anunciou corte de 1,9% no valor de venda por suas refinarias. O combustível vem caindo há três semanas, com repasses de redução promovida pela estatal no início do mês.
Desde então, a queda acumulada é de 5,3%. Na semana passada, o produto era vendido a R$ 6,05, menor valor desde março de 2022. Esse produto permanecerá sem impostos federais até o fim do ano.
"[O diesel] tem um impacto muito grande na cadeia produtiva", disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista para detalhar a reoneração dos combustíveis nesta terça.