Saúde Destaque

Caixões chegam a faltar em meio ao aumento das mortes em áreas rurais da China

Por A Referência

28/01/2023 às 15:47:24 - Atualizado há

No sábado (21), Wu Zunyou, epidemiologista chefe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) da China, afirmou que cerca de 80% da população do país já havia sido contaminada pelo novo coronavírus. O mais recente balanço do governo, divulgado no final de semana, aponta 73 mil mortes relacionadas à Covid-19 desde dezembro, quando foram abruptamente suspensas as radicais medidas de combate à doença. Agora, reportagem da rede BBC indica que as regiões rurais têm sido particularmente afetadas pelo surto, inclusive com relatos de que faltam caixões para enterrar os mortos. Uma situação que reforça as suspeitas que os números oficiais sejam imprecisos.

Na semana passada, mediante críticas inclusive da OMS (Organização Mundial de Saúde), o governo chinês decidiu mudar seus critérios de divulgação e anunciou um total de 60 mil mortes entre os dias 8 de dezembro de 2022 e 12 de janeiro de 2023. Para se ter ideia do que a mudança de abordagem significa, o país relatava, antes disso, pouco mais de cinco mil mortes por Covid ao longo de toda a pandemia. No último final de semana, os dados foram atualizados, com um acréscimo de mais 13 mil mortes registradas somente nos sete dias anteriores.

Porém, há quem conteste até esses números atualizados. Em seu mais recente balanço sobre o atual surto, a empresa britânica de análise de dados de saúde Airfinity afirmou que os dados relatados pela China escondem a dura realidade da situação. Relatório divulgado na semana passada estima que 608 mil pessoas morreram em virtude da doença na China entre 1º de dezembro de 2022 e 17 de janeiro de 2023.

Equipe de controle de Covid em uma estação de metrô de Beijing, na China (Foto: WikiCommons)


O que pode explicar essa discrepância é a falta de estrutura no interior da China. Afinal, as mortes que constam do relatório do governo foram todas contabilizadas em hospitais, situação que não se observa nas áreas rurais. Lá, muitas pessoas adoecem e morrem em casa, sendo assim excluídas das estatísticas oficiais.

Os indícios de que a Covid atinge duramente as aldeias chinesas se acumulam. Na província de Shanxi, a reportagem da BBC diz que visitou crematórios cheios de pessoas com pequenas urnas que possivelmente guardavam os restos mortais de parentes. Em uma funerária, um cidadão disse que as empresas do setor têm "ganhado uma pequena fortuna" com o aumento súbito das mortes, enquanto os artesãos que esculpem caixões trabalham sem parar, a ponto de não darem conta da demanda.

Um fazendeiro criador de cabras confirma que, no vilarejo onde vive, cerca de 40 pessoas morreram em meio ao atual surto. Questionado sobre uma área onde havia vários montes de terra, cada um com uma bandeira vermelha no topo, o homem confirmou a suspeita: são sepulturas. "As famílias enterram os idosos aqui depois que eles morrem. São muitos", afirmou ele.

Os trabalhadores do setor funerário também confirmam que o número de mortes aumentou e são quase unânimes em atribuir a situação à Covid. Um problema que pode até aumentar nos próximos meses devido às celebrações do Ano Novo Lunar, que tiveram início no final de semana.

Devido às festividades, o deslocamento de pessoas em todo o país aumenta consideravelmente, vez que muitos chineses deixam as grandes cidades rumo a áreas rurais para visitar parentes. Como os festejos se estendem por 40 dias, a expectativa do governo é de que até dois bilhões de viagens ocorram na China nesse período, segundo a rede CNN.

Dong Yongming, médico que cuida de uma clínica em um pequeno vilarejo de Shanxi, diz que por lá as estatísticas são iguais às divulgadas pelo governo, com cerca de 80% da população local contaminada. A maioria das vítimas, segundo ele, tinha doenças pré-existentes, critério que antes levava Beijing a excluir tais pessoas da contagem de vítimas da Covid.

Agora, porém, Dong diz que o surto parece ter diminuído. "Não tivemos nenhum paciente nos últimos dias", afirma ele, mais uma vez acompanhando o relato otimista do governo para depois das festividades. "Nos próximos dois a três meses, a possibilidade de uma retomada em larga escala da Covid-19 ou de uma segunda onda de infecções em todo o país é muito pequena", havia dito o epidemiologista-chefe do CDC.

Por que isso importa?

O atual surto de Covid na China começou no final de novembro e piorou a partir de 7 de dezembro, quando o governo suspendeu subitamente os radicais bloqueios antes impostos à população para controlar a propagação da doença, a política Zero Covid.

Entre as medidas de flexibilização, doentes assintomáticos ou com sintomas leves são autorizados a se isolar em casa, não mais em instalações do governo. Testes de PCR e o aplicativo de monitoramento de saúde deixaram de ser obrigatórios para acessar locais públicos. Já os bloqueios de rua, que antes atingiam distritos inteiros, agora são menores, concentrados em andares ou edifícios específicos.

Um dos problemas do afrouxamento das medidas é o fato de que os cidadãos ficaram trancados durante muito tempo, o que reduziu entre os chineses a imunidade natural encontrada em outros países. Aumenta a preocupação a baixa taxa de vacinação entre os idosos, sendo que apenas 40% das pessoas a partir dos 80 anos receberam a terceira dose da vacina.

O governo chinês também não aprovou o uso no país de nenhuma vacina produzida no exterior, limitando seus cidadãos à inoculação com os imunizantes da Sinovac e da Sinopharm. Para especialistas, porém, o nível de imunidade fornecida pelas vacinas da China é mais baixo que o das ocidentais, que usam a tecnologia de RNA mensageiro, mais moderna.

Um estudo publicado em dezembro pela revista de medicina Lancet em Singapura mostra que as vacinas chinesas, que usam a tecnologia do vírus inativado, mais antiga que a do RNA mensageiro, levam a uma probabilidade quase duas vezes maior de o indivíduo inoculado desenvolver Covid-19 grave.

Fonte: A Referência
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