Desabafo de integrante da Rede no Paraná
Faltam palavras, quando acreditamos num sonho e somos frustrados pelas artimanhas dos poderosos. Manter a dignidade é também sofrer com a falta de recursos, com o boicote e com a trapaça alheia. Hoje venho a público contar que tentaram fazer com que minha candidatura a deputada federal fosse laranja. Ofereceram dar uma soma substancial de recursos em troca de nota fiscal de agência de publicidade para que os valores fossem repassados para terceiros. Não aceitei e o boicote começou.
Os recursos vieram menos do que a metade do que foi prometido e algumas outras candidaturas suspeitas receberam recursos substanciais. Candidaturas inclusive que ficaram sub-júdice. Sinto-me entristecida porque reforça a condição das mulheres de serem usadas como laranja nas eleições. Pior do que isso: fico pensativa sobre o que poderá ocorrer com a prestação de contas – uma vez que toda a equipe foi contratada pela Executiva do partido e fomos obrigados a pagar somas vultuosas em materiais horrorosos, sem qualidade e em quantidade mínima e que não serviam a necessidade dos candidatos que queriam realmente fazer campanha.
Fomos tratados como mercadorias, quando deveríamos ter sido exaltados por estarmos fazendo campanha num partido com a chancela nacional de honestidade, de legalidade. A ideia era que fôssemos escada para alimentar duas candidaturas, que não chegaram ao objetivo que o partido queria.
Sinto-me entristecida porque não consigo imaginar que haja uma forma verdadeira de se fazer política no Paraná, se não for com os conchavos pré-estabelecidos por dirigentes corrompidos. Ainda me sinto uma guerreira solitária, mas acredito na moralidade e na ética. Coisas esquecidas pela maioria dos políticos brasileiros.
Não sei se continuarei na peleja, na luta dentro da política. Talvez volte apenas para os bastidores. Mas quero deixar a marca de uma pessoa que lutou até o fim para fazer uma campanha limpa, mesmo com poucos recursos e tendo que demitir pessoas após promessas que não se cumpriram.
Agradeço aos eleitores, aos amigos verdadeiros, aos familiares. Agradeço até mesmo aqueles que acreditaram no projeto, mas na última hora abandonaram o barco por uma proposta financeira irrecusável de outro candidato. Agradeço a oportunidade de ver de dentro o jogo e de ver os erros cometidos. Mas não vou me calar diante da corrupção, dos desmandos e das mentiras que cercam os que manipulam aqueles que acreditam numa perspectiva de política séria.
Talvez a maioria dos candidatos nem saibam o que aconteceu na pré-campanha. A maioria nem debateu os desvios ou percebeu que os materiais nunca chegavam, enquanto outros podiam patrocinar seus cards e vídeos que eram entregues pelos que eram pagos com o dinheiro de todos. A indignação ainda bate a minha porta. A indignação é o que me move. E mesmo indignada, sigo em busca da honestidade de Marina Silva e da perseverança de Heloísa Helena. Existem mulheres valorosas num partido que, no Paraná, usa mulheres como laranja até mesmo na Executiva – sem que elas participem de reuniões, decisões ou mostrem quem são em reuniões online e presenciais.
Sim, meus caros. Existem mulheres que nasceram para a política. Mas existem muito mais homens que querem as calar dentro dos partidos brasileiros do que os que querem trabalhar lado a lado, em busca de um País melhor.
Decepcionada, sigo em frente. Com a cabeça erguida por ter feito o que era possível, com o que nos foi ofertado. Errei. Tropecei. Mas como disse o poeta, levantei e dei a volta por cima. A batalha ainda é longa e quero estar na linha de frente, ao lado dos que sonham e lutam por uma política séria.