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Visão e imersão na Salvador dos evangélicos

Por Da Redação

10/04/2022 às 07:08:42 - Atualizado há

No caminho para a casa de sua mãe, em Lauro de Freitas, o fotógrafo Eduardo Mafra se impressionou tanto com a quantidade de igrejas que avistava, enquanto passava de carro, que um dia resolveu parar e contar exatamente quantas eram. Só numa rua, notou que havia nove igrejas evangélicas e apenas uma católica. E pôs-se a refletir sobre aquilo.

Fora das ruas, da porta para dentro, o cenário religioso também já vinha mudando faz tempo. “A primeira ligação que eu tive com o público evangélico foi uma experiência que é muito comum entre os brasileiros, sobretudo nos anos 90, que foi a conversão de uma tia. Foi uma revolução dentro da família, como se fosse uma coisa terrível”, relembra.

Entre junho de 2021 e fevereiro desse ano, Eduardo Mafra decidiu mergulhar no assunto e se dedicou a fotografar cultos em igrejas evangélicas, em Salvador, e a fazer entrevistas com alguns fiéis. O resultado do trabalho está no livro documental “Evangélicos - Uma conversa que não pode ser adiada”, lançado na última quarta-feira no bar Velho Espanha, nos Barris. 

“Eu notei que existia uma certa ausência de trabalhos documentais que investiguem mais a fundo esse grupo social. (...) Achei importante trazer esse debate, até porque um livro não vai encerrar isso de modo algum, só vai iniciar o processo”, propõe ele.

Diverso
Combinando fotos e textos do autor, o livro tem o cuidado de desfazer a ideia de que os evangélicos formam um só grupo. “O ponto principal do livro é que ele é muito diverso: são muitos grupos, são muitas linhas, não é uma coisa una”, explica Mafra.

No capítulo “Evangélico: um termo guarda-chuva”, Mafra explica um pouco da miríade de divisões e sub-divisões do que chamamos genericamente de evangélicos. 

São grupos que, muitas vezes, não se identificam e divergem entre si. “São quatro linhas básicas”, explica. Resumidamente: as igrejas Protestantes tradicionais, as Pentecostais, as Neopentecostais e as Renovadas.

Foto: Eduardo Mafra/Divulgação

O prefácio, assinado pelo jornalista e doutor em Comunicação e Cultura Marco Antonio Cruz, destaca os desafios do autor em apresentar a parte do público não evangélico esse universo. “Nem sempre é possível nos fazer conscientes das limitações da nossa observação, e nos despir de expectativas e preconceitos, boas e más vontades, que podem embaçar o entendimento. O trabalho de Mafra tenta encarar essas dificuldades com um gesto criativo que é em si mesmo um ato de fé”, comenta.

O preconceito sofrido pelos fiéis ficou evidente para Mafra ao encontrar dificuldade para conseguir entrevistados para o livro. “Eu busquei algumas pessoas, e realmente foi um processo difícil até encontrar personagens que estivessem dispostos a conversar. A maioria ficava meio desconfiada”, diz o autor, que acredita que isso tenha relação com a imagem negativa criada sobre parte dos evangélicos, associada a escândalos políticos, por exemplo.

“A gente não pode cair na solução fácil de dizer que os membros da bancada evangélica representam todos os evangélicos”, pontua. “Nas conversas em off, eu senti muito afastamento dos entrevistados com os políticos que fazem parte dessa bancada”, complementa.

Conversas
Eduardo Mafra começou a ter mais interesse por essa vertente cristã em 2018, a partir do papel importante que o grupo religioso teve durante a campanha eleitoral. “É um tema que ficou no meu radar”, explica. Ele tratou de política com os fiéis, e ouviu deles o mesmo posicionamento. “Com todos os entrevistados, a resposta foi unificada: na igreja deles não se falava de política do altar para os fiéis”. No entanto, todos também disseram que sabem de casos em que isso aconteceu, em outras igrejas, com a indicação aos fiéis para votarem em determinados candidatos a diversos cargos.

Entre os fiéis entrevistados para o livro, um deles passou pela mesma conversão que a tia de Mafra, deixando de ser católico. Outro, um baixista que anima cultos, desafia estereótipos. “Visualmente, ele não se encaixa no padrão do que a gente espera de um evangélico tradicional: aquele cara todo engravatado, com a Bíblia no braço. O cara é roqueiro, todo tatuado, passou por várias igrejas”, descreve. “O que reflete um pouco dessa busca pela igreja que mais se adapte ao que você quer, e não você se adaptar para a igreja”, completa Mafra, que fotografou um culto para jovens bem animado.

Foto: Eduardo Mafra/Divulgação

Segundo pesquisa Datafolha, publicada em 2020, os evangélicos equivalem a cerca de 31% da população brasileira, atrás apenas dos católicos declarados, que são 50% da população.

Eduardo Mafra não se diz um religioso praticante, embora venha de família católica. “No censo de 2000, me declarei católico”, conta o autor, que hoje se diz um “católico com simpatia pelo budismo”, ressaltando que vê o budismo como uma forma de vida, e não uma religião. O livro já está disponível na versão digital na Amazon - gratuito para quem tem Kindle Unlimited, e R$ 10 para outros leitores.

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