Com quase 50 anos de tradição, Prova Rústica Tiradentes é referência no atletismo brasileiro; conheça a história

Com o passar dos anos, Maringá se tornou referência para a promoção e a realização de diversos eventos esportivos, seja pelo elevado número de equipamentos públicos construídos nos bairros a partir da década de 1960, seja pela estrutura que foi ganhando forma na Vila Olímpica. Mas esse estímulo também veio com a realização de eventos de relevância nacional que se tornaram tradição, como é o caso da Prova Rústica Tiradentes, que ocorre em Maringá desde a década de 1970.

Maringá tem tradição na realização de corridas de rua. O primeiro evento do gênero que se tem notícia data de 31 de dezembro de 1954, quando a primeira edição da prova de atletismo São Silvestre de Maringá foi realizada. Essa prova local ocorreu 30 anos depois que São Paulo sediou a sua etapa, a qual se tornou a mais tradicional São Silvestre do país. Em 1954, os atletas percorreram sete mil metros, passando por algumas vias de Maringá. Iniciando às 23h, a corrida teve um percurso que cruzou as avenidas Quinze de Novembro, Herval, Brasil e a então Ipiranga, hoje Avenida Getúlio Vargas. Aquela edição contou com a iniciativa da empresa Jubilei Limitada e a parceria da Rádio Cultura. Ao que tudo indica, a São Silvestre de Maringá não contou com realização periódica. Por essa razão, a sua quinta edição aconteceu em 3 de janeiro de 1963.

Promovida pela rádio cultura e pelo O Jornal de Maringá, tendo patrocínio do Hospital Regional de Maringá, a prova rústica era pra ter acontecido no dia 31 de dezembro de 1962, mas, devido ao mau tempo, o evento teve que ser adiado. A multidão de corredores se reuniu para a largada em frente a sede do impresso, localizado na Rua Neo Alves Martins, número 2210. O percurso foi finalizado no prédio da Rádio Cultura, que ficava na esquina das avenidas Quinze de Novembro e Herval.

O primeiro colocado daquela edição foi Sussumo Itami, que foi identificado pelo número 39 em sua camiseta. Natural de Rondon, Itami correu pela equipe de Paranavaí, fazendo o percurso em 15 minutos, 21 segundos e 16 décimos. Em segundo chegou o atleta de número 28, Fukuya Yoshizaki, de Maringá. Ao todo foram 79 competidores naquela edição de 1963.

Com um futuro promissor no atletismo, infelizmente Sussumo Itami faleceu aos 26 anos de forma trágica em novembro daquele mesmo ano. Shiniti Ueta, amigo do atleta, comenta como foi o acidente que matou o atleta: “Foi na Fazenda Nova União, que fica entre as cidades de Rondon e Paraíso do Norte. Acontecia um casamento e no dia seguinte toda a comunidade da fazenda foi desmontar a barraca feita para o casamento. O Sussumo estava sobre uma viga, presa por um prego. Ele tirou o prego, pendurou na viga e pulou para o chão. Nesse momento, a viga balançou, saiu de onde estava presa e caiu em cima da cabeça dele. Infelizmente, tive que assistir tudo. Ele morreu nos braços de um ancião. […] Foi bastante triste e está gravado na minha memória para sempre”, lamenta.

Com isso, em novembro de 1971, o prefeito Adriano José Valente criou a prova rústica Sussumo Itami, em homenagem ao corredor de destaque. Sua realização permaneceu no último dia do ano, assim como a São Silvestre. 

Vale lembrar que aquela foi uma justa homenagem a Sussumo Itami, personagem que também havia integrado a equipe de atletismo de Maringá. Em 1963, Itami também venceu a 28 de janeiro, tradicional corrida de Apucarana. O corredor era conhecido como “o foguete”, ou “japonês voador”, segundo o jornalista esportivo Antônio Roberto de Paula.

Em 1975 surgiu uma nova prova em Maringá, que foi realizada pela prefeitura juntamente do Quarto Batalhão de Polícia Militar, com o apoio da TV Cultura, hoje RPC. Foi quando o seu nome foi alterado, passando a ser conhecido como Prova Rústica Tiradentes, em reconhecimento ao patrono dos policiais militares do Brasil e mártir da independência, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Ocorrendo sempre no fim do mês de abril, o trajeto tem em média 10 mil metros e percorre algumas das principais vias da cidade, passando pelo entorno do Parque do Ingá. O vencedor da primeira e da segunda edição foi Vicente Dias Pimentel, atleta que já havia sido tricampeão da prova rústica precursora, a Sussumo Itami. Em 1975, Pimentel cravou a marca de 14 minutos e 22 segundos e, em 1976, garantiu o bicampeonato com quase o mesmo tempo do ano anterior. “Eu treinava, treinava pra ganhar. Eu estava muito bem preparado, porque nós tínhamos uma competição importante em São Paulo, então no dia da corrida nós fizemos treinamento. Não muito forte, porque era de noite, e fomos para a Tiradentes”, diz Pimentel.

Maria Aparecida Dias, atleta pioneira, comenta que: “Não é divulgado até hoje, porque na verdade nós treinamos junto com os homens. O nosso técnico era muito incentivador e eu tinha o objetivo de ser campeã paranaense, mas eu fui além disso, fui campeã brasileira e fui recordista sul americana”. 

Realizada anualmente, a Prova Rústica Tiradentes, além de campeões brasileiros, já contou com atletas vencedores provenientes do Quênia, da Etiópia, da Tanzânia. Esse avanço só foi possível graças à profissionalização da competição, que passou, dentre outras ações, a realizar exames antidoping, frente ao elevado número de atletas participantes. Em 2012, a prova passou a integrar a categoria ouro da confederação brasileira de atletismo.

A Prova Rústica Tiradentes só deixou de acontecer em 2020 e 2021 por causa da pandemia de covid-19.

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