PolĂ­tica

Ala do PSDB rebate discurso de xeque-mate de Doria e mantém plano com Eduardo Leite

Por ARTUR RODRIGUES E CAROLINA LINHARES

01/04/2022 às 09:42:52 - Atualizado hĂĄ

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto aliados de João Doria (PSDB) diziam que seu recuo eleitoral com a intenção de obter apoio explĂ­cito de seu partido foi um xeque-mate, o grupo ligado ao ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) mantém o plano de alçĂĄ-lo candidato à PresidĂȘncia.

Parte do PSDB considera ainda que a candidatura de Doria sai fragilizada do vaivém desta quinta (31), quando ele desistiu de um plano anunciado horas antes a aliados, renunciou ao Governo de São Paulo e manteve seu nome na disputa ao Planalto. O agora ex-governador disse a jornalistas que tudo se tratou apenas de "estratégia".

Ao anunciar na quarta-feira (30) a seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), que não iria renunciar ao governo nem disputar a eleição presidencial, Doria mobilizou uma série de aliados, que buscaram demovĂȘ-lo da desistĂȘncia.

O governador do estado de SP, João Dória. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress)


O principal gesto veio do presidente do PSDB, Bruno AraĂșjo, que reafirmou em carta que Doria, como vencedor das prévias, é o Ășnico candidato do partido. Doria afirmou que o texto foi decisivo para que ele mantivesse a candidatura e renunciasse ao PalĂĄcio dos Bandeirantes.

LĂ­deres do partido, no entanto, minimizam o que aliados de Doria tentam difundir como uma vitória polĂ­tica. A carta, ressaltam, não vai além das garantias que o tucano jĂĄ tinha -de que venceu as prévias e é o indicado do partido.

Na avaliação de parte dos tucanos, em vez de barrar de vez as pretensões presidenciĂĄveis de Eduardo Leite, Doria esteve a ponto de jogar a candidatura no colo do rival e, assim, o favoreceu, diante da instabilidade provocada com seu vaivém.

O gaĂșcho também renunciou para se liberar para o Planalto e disse se ver em condições de alcançĂĄ-lo.

O entorno de Leite afirma que nada mudou e que o gaĂșcho vai a BrasĂ­lia buscar apoio dentro e fora do partido para sua empreitada. O próprio ex-governador gaĂșcho afirmou o mesmo a jornalistas nesta quinta.


"Eu não tenho nenhum movimento de deslegitimação das prévias, sempre disse que as prévias tĂȘm legitimidades, isso não muda absolutamente nada. Os episódios que aconteceram hoje, as especulações feitas, não mudam absolutamente nada."

Deputados e dirigentes do PSDB que apoiam Doria, por outro lado, dizem que a carta liquidou os planos de Leite, perdedor das prévias, de passar por cima da disputa interna e virar o candidato do partido na convenção, em julho ou agosto.

Para tucanos de fora de São Paulo, a jogada teve mĂșltiplos efeitos negativos. Primeiro, Doria deixou o governo diminuĂ­do. A desistĂȘncia seria um sinal pĂșblico da sua inviabilidade eleitoral, uma admissão do receio de que não fosse escolhido candidato da terceira via.

Em segundo lugar, colocou em situação de incerteza e caos vĂĄrios polĂ­ticos de siglas aliadas, que costuravam acordos e palanques contando com a candidatura de Doria. Isso vale para Rodrigo Garcia, braço direito de Doria no governo, que viu o recuo como traição.

A desistĂȘncia poderia implodir o PSDB, uma vez que Rodrigo ficaria sem a mĂĄquina para disputar o governo, arriscando que a sigla perdesse sua principal fortaleza, o estado de São Paulo.

Tucanos paulistas mais próximos de Rodrigo do que de Doria afirmam que o ex-governador conseguiu o que queria ao ameaçar ficar no PalĂĄcio dos Bandeirantes.

No entanto, afirmam que o gesto deixarĂĄ cicatrizes, uma vez que o movimento unilateral de Doria reflete em todo seu nĂșcleo polĂ­tico. Apesar dos possĂ­veis rancores, eles dizem que é preciso aparar as arestas e que disso depende o futuro do PSDB hoje.

Pode haver marcas sobretudo na relação entre Doria e Rodrigo. Para o ex-governador não é bom comprar briga com seu sucessor, de quem depende para ter palanque em São Paulo.

Ainda de acordo com tucanos que falam de forma reservada, Doria esperava que MDB e União Brasil endossassem a carta de AraĂșjo, o que não aconteceu.

"Sim. Serei candidato à PresidĂȘncia da RepĂșblica pelo PSDB", diz Doria

A questão ainda respingou em AraĂșjo, que, segundo integrantes do PSDB, perdeu apoio na sigla e se tornou alvo de crĂ­ticas por ter cedido a Doria e escrito a carta. A justificativa é a de que a posição de presidente exigia o compromisso pĂșblico com as prévias.

Mas aliados de Leite lembraram que foi a ala ligada ao gaĂșcho que reconduziu AraĂșjo à presidĂȘncia quando Doria tentou tomĂĄ-la para si num jantar, em fevereiro de 2021, que jĂĄ entrou para a história do partido.

Nesta quinta, após o evento em que se despediu do governo, Doria afirmou que "não houve desistĂȘncia".

"Houve sim um planejamento para que pudéssemos ter aquilo que conseguimos, o apoio explĂ­cito do PSDB através do seu presidente Bruno AraĂșjo. A carta que ele assinou hoje não deixa nenhuma dĂșvida. Nem agora nem depois",

disse.

"Hoje ficou claro através dessa carta que não hĂĄ golpe, não hĂĄ nenhuma forma de vocĂȘ negar a existĂȘncia de prévias e do resultado das prévias. Isso seria admitir que o PSDB se tornou um partido golpista", acrescentou.

Tucanos fechados com Leite subiram o tom contra Doria, chamando a desistĂȘncia de forjada. Nada de bom poderia surgir de um movimento de recuo e tensão, dizem eles, alertando para o fato de que Doria ampliou seu desgaste e deu munição a rivais.

Pré-candidato ao Governo de São Paulo, TarcĂ­sio de Freitas (Republicanos) disse que a então possĂ­vel desistĂȘncia de Doria da disputa a presidente mostra desorganização, exaurimento e falta de liderança no PSDB.

"Mostra exaurimento de um partido, de um grupo. Mostra que não hĂĄ uma liderança nessa corrente. HĂĄ um vĂĄcuo, claramente hĂĄ um vĂĄcuo",

disse Freitas.

O ex-governador MĂĄrcio França (PSB), também pré-candidato ao Governo de São Paulo, comparou João Doria ao ex-presidente Jânio Quadros, que renunciou em 1961 acreditando que a renĂșncia não seria aceita pelo povo, o que não ocorreu.

O ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato à PresidĂȘncia pelo PDT, aproveitou a onda de desistĂȘncias, que incluiu Sergio Moro (União Brasil), e afirmou que não irĂĄ desistir de sua candidatura.

Fonte: Banda B
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