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Amparo em meio à dor: o apoio das doulas na gestação

Por Da Redação

08/03/2022 às 17:05:30 - Atualizado há

Para a profissional, o trabalho está envolto em vários períodos significativos. São diferentes fases que ela vive com as famílias, que vão desde a gestação até o pós-parto. Mas em todos esses momentos, Niti vê que o papel fundamental da doula está na parceria. 

“O objetivo é a família e a mulher se sentirem acolhidos. Como doula, busco o amparo para cada família sem partir das minhas escolhas, parto das minhas vivências. Vejo meu trabalho como um grande guia. É estar ao lado, não só para correr para o parto, mas para estar junto naquela jornada. Esse é meu lugar como doula: de escuta, afeto e amparo”, relata.

Foto: Vanessa Maritza

E com 11 anos vivendo experiências, a profissional tem muitas histórias para contar. Um desses relatos aconteceu em 2019. Nitiananda acompanhava uma família, na qual a mulher estava grávida de 38 semanas. Nesse período, em uma ecografia de rotina, eles descobriram que o bebê estava morto.

“Essa história me marcou muito profundamente. Foi um divisor de águas na minha caminhada como doula. Já era uma gestação difícil, mas ninguém esperava por uma morte”, diz. 

Niti explica que quando recebeu a ligação dessa mulher, estava em um atendimento pós-parto. Quando atendeu o telefone, escutou que não havia mais bebê.

“Nesse momento eu e ela desabamos, não existe neutralidade diante disso. Eu ouvi e chorei com ela. Porque foi vivido junto aquela gestação, desde o começo acompanhando a família, então receber a notícia foi uma das histórias mais difíceis como doula”, relata emocionada. 

Ela acompanhou a família no hospital, para a retirada do bebê.

“Eu encontrei eles no hospital e nessas horas não têm palavras que aliviam uma dor como essa. O que eu fiz ali foi acolher, dar um abraço apertado e dizer que estávamos juntas”. 

A mulher passou por uma cesárea. A enfermeira entregou o bebê para Niti, que deu para o pai. Nesse momento, a equipe saiu do local e os pais puderam conhecer e se despedir do filho. 

“Foi um dos momentos mais bonitos que eu já vi, mesmo diante daquela dor.”

Mas a caminhada entre a doula e essa família não terminou assim. Eles mantiveram contato e Niti conta com muita felicidade que o casal está esperando um bebê, em uma gestação saudável e muito feliz. “Estamos desejando todo o amor e saúde, com todo o respeito por aquele bebê que fez sua passagem pelo mundo”.

E após esse relato, é fácil concordar com Niti que ser doula “é muito mais do que uma profissão que entrega informação e um suporte no momento do parto”. 

Mãe de quatro crianças, que têm entre 10 e 4 anos, ela conta que eles e o companheiro são apoio. Com um trabalho que exige emocional, ela relata que divide as dores, o cansaço e as histórias boas com a família.

Foto: Arquivo pessoal

Nitiananda também conta com outras duas mulheres, que também são doulas. O trio compartilha as vivências dos partos, relatando o que gostaram e o que poderia ter sido diferente.

“São formas de eu guardar essas histórias dentro do meu coração de maneira que elas não fiquem o tempo todo chamando a atenção, me distraindo das coisas que preciso na vida”.

Foto: Arquivo pessoal

E com terapia, meditação e yoga, Niti trabalha em si e se descobre cada dia mais, com o objetivo de ser inteira.

A cada dia eu decido cuidar mais de mim, de quem eu sou por completo. Estar presente na minha família e me dedicar às famílias que atendo. É buscar o equilíbrio”. 

Dia da Mulher

E como o Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta terça-feira (8), se conecta ao trabalho de Nitiananda? Simples: pela vontade de viver. Para ela, o Dia da Mulher representa a lembrança do que é ser mulher, que é sutileza e luta ao mesmo tempo. 

A simbologia da rosa combina. Parece romântico, mas a rosa tem uma beleza indiscutível e uma força gigante, ela traz uma imponência. Tem os espinhos, assim como nós, que estamos prontas para ir para a batalha. São braços de luta que querem conquistar aquilo que nos pertence, que nada mais é do que a própria vida. Lutamos pela vida, é isso que queremos”, diz. 

Foto: Vanessa Maritza

E para esta terça, Niti deseja que as mulheres lembrem das lutas e conquistas, mas também de si mesmas, que às vezes, com todas as tarefas, esquecem de olhar para dentro. Inclusive as mães, que priorizam tanto os filhos e acabam esquecendo de si.

“Antes de sermos mães, somos mulheres e já somos inteiras”, deixa o recado.

Ser doula 

A doula é a profissional que pode acompanhar a família durante todas as etapas de uma gestação. Nitiananda explica que, geralmente, as mulheres a procuram no primeiro trimestre da gestação. 

Durante a gravidez acontecem os encontros individuais e, junto com as outras duas doulas, elas também fazem reuniões coletivas duas vezes por mês.

Foto: Vanessa Maritza

Além de acompanhar no momento do parto, também faz parte do trabalho explicar as fases do nascimento, mudanças no corpo da mulher, como são os principais cuidados com os bebês e a fase do puerpério.

“A doula representa o que é sagrado para a família, e também o que é prático”, afirma Nitiananda.

A profissional conta que os encontros entre mães e bebês, que ficaram suspensos com o início da pandemia do coronavírus, estão retornando. Nessas ocasiões, as mulheres podem conversar sobre as vivências, que acabam sendo parecidas.  

“As histórias que atravessam a vida de uma mulher também podem atravessar as nossas. As mães se fortalecem na presença uma das outras”, explica. 

Foto: Vanessa Maritza

A pandemia não mudou somente esses encontros. Nos hospitais, também houve um período em que as doulas foram impedidas de estar na sala de parto. De acordo com Nitiananda, as maternidades particulares já permitiram o retorno. No entanto, nas maternidades públicas, a presença das doulas ainda não é liberada.

“As pessoas estão entendendo mais o que a doula faz, não é uma competição com o médico ou com a enfermeira. É uma profissional que está ali para somar, para ajudar a família e trazer outras questões. O tempo ajudou na aceitação, em comparação com alguns anos atrás”.

Presença da doula garantida por lei

Em Curitiba, a presença de doulas em hospitais, maternidades ou casas de parto é garantida pela lei municipal nº 14.824/2016. A lei permite a presença das profissionais durante o trabalho de parto, o parto e o pós-parto, sempre que solicitadas pela parturiente. O cadastro das doulas deve seguir os critérios de cada hospital.

Foto: Vanessa Maritza

Associação de Doulas

A Associação de Doulas de Curitiba e Região Metropolitana (ADOUC) começou em 2017. Foi criada para as doulas da região se unirem e fortalecerem o trabalho. Algumas conquistas, como a negociação em hospitais, foi realizada por meio da ADOUC. 

“Sozinhas fazemos pouco, mas quando nos juntamos temos mais força. É sobre encorajamento e partilha de tudo o que precisa para que tenhamos um cenário melhor nos nascimentos em Curitiba e Região Metropolitana”, explica Nitiananda.

Violência obstétrica

Violência obstétrica é toda forma de agressão, física ou verbal, praticada às gestantes que estão em trabalho de parto ou no período de puerpério por médicos ou por equipes de hospital públicos e privados. 

“Na hora de fazer não gritou”. Essa frase é um exemplo de violência obstétrica, ouvida por diversas mulheres em trabalhos de parto.

Informações sobre violência obstétrica são garantidas às gestantes pela lei municipal nº 14.598/2015. A lei prevê a “implantação de medidas de informação à gestante e parturiente visando a proteção contra a violência obstétrica.” 

Como denunciar? 

A denúncia de violência obstétrica pode ser feita no próprio hospital em que a paciente foi atendida. Há também a possibilidade de fazer a denúncia pela secretaria de saúde responsável pelo hospital ou aos conselhos de classe, como o Conselho Regional de Medicina (CRM).

O atendimento telefônico pode ser feito pelo 180 (Central de Atendimento à Mulher) ou no 136 (Disque Saúde).

Caso haja o descumprimento das leis, o hospital, médico ou plano de saúde pagarão indenização à(s) vítima(s), além da possibilidade de responderem criminalmente.

Barbara Schiontek e Gustavo Barossi

Fonte: Massa News
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