Apesar de crĂticas de que o Itamaraty estĂĄ "dĂșbio" e passa sinais trocados na reação à crise RĂșssia-Ucrânia, por não condenar a invasão ao mesmo tempo em que, no Conselho de Segurança da ONU, vota contra a RĂșssia, o comando polĂtico da campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL) é só elogios ao chanceler Carlos França.
Mais: avalia a reação como pragmĂĄtica e aprova o tom das notas do Itamaraty, avalizadas pelo presidente da RepĂșblica. Um dos mais próximos aliados polĂticos de Bolsonaro confirma ao blog: o governo é todo apoio aos posicionamentos de França. Até as entrevistas que ele concede só ocorrem após autorização do presidente.
"É ingĂȘnuo acreditar que França é uma coisa e, Bolsonaro, outra", diz o aliado.
O próprio França, em declaração ao blog na quinta, deixou claro que "não existe divórcio" entre ideias dele e do presidente. E mais: a polĂtica externa do Itamaraty é a polĂtica que foi eleita em 2018, com a vitória de Jair Bolsonaro.
Na visão de assessores polĂticos de Bolsonaro, o presidente estĂĄ mais preocupado com a questão eleitoral do que a geopolĂtica. Esses assessores avaliam que Bolsonaro, que é ideológico, adota o pragmatismo quando se trata da sua sobrevivĂȘncia polĂtica.
Foi o que ocorreu quando o presidente fechou com o Centrão para evitar um impeachment, no auge da crise entre Poderes; quando parou de falar contra vacina nas Ășltimas semanas, por causa das pesquisas eleitorais; e, agora, na reação à crise RĂșssia-Ucrânia.
Bolsonaro não entregou apenas a relação do governo e do Congresso ao Centrão: a diplomacia, hoje, até aqui, tem sido classificada no governo e entre diplomatas ouvidos pelo blog como "pragmĂĄtica e com toque da polĂtica".
Na semana passada, Ciro Nogueira, ministro-chefe da Casa Civil, disse que a posição do Brasil não era de neutralidade mas, sim, de equilĂbrio.
Dois dias depois, o chefe do Itamaraty foi na mesma linha, em entrevista à GloboNews.
Por ora, Bolsonaro é só elogios à condução de "malabarista retórico" do Itamaraty.
A ala polĂtica do Planalto diz que não hĂĄ ninguém contestando França também, entre ministros, a não ser a ala ideológica – como Filipe Martins, assessor internacional da PresidĂȘncia, e também Ernesto Araujo, ex-chanceler que tem influĂȘncia entre setores do Itamaraty e entre filhos do presidente.
"Mas a ala ideológica perdeu muito espaço com essa recuperação do presidente nas pesquisas, porque Bolsonaro estĂĄ vendo que, quando para de ouvir essa turma, suas chances eleitorais aumentam: e é disso que se trata o projeto pragmĂĄtico", diz um ministro do governo ao blog.
Um dos argumentos usados por aliados que participam da campanha de reeleição de Bolsonaro é de que o presidente e o Itamaraty não condenem enfaticamente a RĂșssia – caso contrĂĄrio, acreditam que não terão como justificar a narrativa de que Bolsonaro tentou ir à RĂșssia em busca de paz – o que não passa de um discurso, claro, pois, como explicam exaustivamente especialistas, o presidente, se estivesse nessa missão, teria feito uma escala na Ucrânia, por exemplo.
Mas o governo vive de narrativas, de imagens e explora ao mĂĄximo, em canais bolsonaristas, essa versão e a foto com Putin, Ășnico lĂder mundial com relevância que convidou o presidente para uma viagem internacional em meio à repercussão do giro ao exterior do ex-presidente Lula, que também usarĂĄ as viagens para mostrar prestĂgio internacional durante a campanha eleitoral.
Diante do diagnóstico eleitoral, se se posicionar contra RĂșssia, Bolsonaro acha que não conseguirĂĄ explorar eleitoralmente esse discurso.
Também pesa para a ala polĂtica o efeito econômico da invasão.
Bolsonaro tem ouvido polĂticos, como a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a respeito da questão econômica e o cenĂĄrio da importação de fertilizantes, vindos da RĂșssia, preocupa. Até diplomatas crĂticos a França ouvidos pelo blog afirmam que o Itamaraty tem conseguido se preservar nessa questão.
Afinal de contas, a RĂșssia é um parceiro comercial importante do Brasil.
Por isso, por ora, a reação do Itamaraty tem sido considerada suficiente para a estratégia eleitoral do PalĂĄcio do Planalto e, entre diplomatas, não é condenada totalmente pois, no Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, condena a RĂșssia e segue o Ocidente.