Boa parte dos manifestantes do ato Fora Bolsonaro deste sĂĄbado, 3 de julho, em Recife, jĂĄ tinha passado em tranquilidade pela ponte Duarte Coelho quando, pouco antes do meio-dia, uma sequĂȘncia de estrondos assustou os manifestantes. Houve quem imaginasse a repetição do ataque da PolĂcia Militar durante o protesto de 29 de maio.
Nada disso, tudo continuava em paz. O barulho assustador vinha da apresentação de um grupo de bacamarteiros do Cabo de Santo Agostinho na esquina da rua da Aurora com a Conde da Boa Vista, em frente ao cinema São Luiz. O local não foi escolhido por acaso, afinal a ponte Duarte Coelho se tornou o sĂmbolo da violĂȘncia policial por ter sido o local em que o adesivador Daniel Campelo da Silva foi atingido por uma bala de borracha e perdeu um dos olhos.
João Artur, de 46 anos, coordenador do grupo Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo, entidade fundada em 1966, explicou que o barulho dos bacamartes representava "a cultura popular em favor da vida e contra esse governo corrupto e genocida".
Não foram só eles. Desta vez, a presença de grupos de artistas populares foi bem mais visĂvel, dividindo o espaço com as tradicionais bandeiras e faixas dos partidos polĂticos e organizações do movimento social.
Ainda na concentração, antes das 9h, o som das alfaias do maracatu faziam uma mistura surreal com bandeiras da Palestina, esquentando os militantes num dia que começou frio e debaixo de muita chuva. Durante a caminhada pela avenida Conde da Boa Vista, quem roubou a cena foi a percussão dos indĂgenas da Associação IndĂgena em Contexto Urbano Karaxuwanassu (Assicuka).
Representantes do grupo populacional que talvez tenha sido o mais negligenciado pelos governos durante a pandemia, os indĂgenas marcaram presença para em protesto contra a falta barreiras sanitĂĄrias no acesso às suas terras, apoio na segurança alimentar e até vacinação. Ziel Mendes, um dos fundadores da entidade, lembrou que, nesse momento seu povo ainda luta contra a aprovação do Projeto de Lei 490, que estabelece o marco temporal para a demarcação das terras indĂgenas.
A Conde da Boa Vista foi aberta para o trĂĄfego às 12h20min, mas a manifestação prolongou-se por mais tempo, pois ainda havia bastante gente na praça da IndependĂȘncia, ponto final do trajeto, local onde também deveria ter sido encerrada o protesto de 29 de maio, se não tivesse sido interrompido pelas balas de borracha do Batalhão de Choque.
Na praça, mais conhecida como pracinha do DiĂĄrio, o diretor do Sindicato dos Petroleiros de Pernambuco e ParaĂba, Diego Liberalino, lembrou que a luta contra o governo Bolsonaro se confunde também com a defesa da Petrobras: "Estamos nas ruas para reverter uma polĂtica que vinculou o preço do gĂĄs de cozinha e dos combustĂveis ao dólar, que faz trabalhadores que ganham salĂĄrio em reais pagarem em dólar pelo botijão de gĂĄs".
Stephannye Vilela, presidenta da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP), registrou a participação cada vez maior de estudantes "não organizados que vieram ao ato, ou seja, gente que não é ligada às organizações, mas que estĂĄ se mobilizando para protestar contra a polĂtica de um governo estĂĄ atingindo as universidades pĂșblicas. A CPI da pandemia estĂĄ ampliando a participação dos atos"