O ex-CEO da Renault, Carlos Ghosn, disse em entrevista ao jornal francês Le Parisien que a montadora tornou-se uma “sombra do que já foi” no passado. Na longa conversa com a publicação, o executivo disse estar triste com a decadência do grupo, que vive grave crise desde 2019, embora tenha se isentado de qualquer responsabilidade parcial na queda — Ghosn era o mandatário da companhia no início do processo.
“Conduzi o crescimento da montadora durante 13 anos, obtive resultados excepcionais e agora alguns têm a indecência de dizer que os maus resultados de 2019, 2020 e 2021, são por causa de mim?”, questionou o ex-CEO da Renault, que tratou de atacar em seguida o atual chefão da marca, Luca de Meo. “Uma gestão que atribui todas as dificuldades a uma "corrida por volumes". Eles poderiam ter encontrado ataques mais finos. Francamente, acho indecente.”
O que Ghosn, um brasileiro de Guajará-Mirim (Rondônia), não quis mencionar na equação foi o recente crime com o qual se envolveu e, consequentemente, prejudicou a empresa. Em novembro de 2018, ele foi preso no Japão após ser acusado de subnotificação de renda e apropriação indébita dos fundos da Nissan, uma das marcas atreladas à Renault. O conglomerado demorou três dias para demiti-lo.
Meses depois, Ghosn foi libertado sob fiança, mas aproveitou a soltura provisória para fugir do país em um jato particular para Beirute, no Líbano — o executivo tem ascendência libanesa e o país não tem acordo de extradição com o Japão. A fuga teria se dado de forma burlesca, com o ex-CEO da Renault sendo escondido em um case de violoncelo para despistar as autoridades. Tudo isso o tornou um fugitivo internacional, sob mira da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal, na sigla em inglês).
Ghosn também se disse receoso sobre a estratégia “Renaulution”, anunciada pelo grupo Renault no ano passado. No novo processo, a companhia francesa mudou do foco em volume de vendas — como era gestão do executivo libanês — para o foco em rentabilidade. Isso desencadeou uma série de mudanças de posicionamento no mercado, como a transformação da Dacia em uma empresa de modelos híbridos e a Alpine no centro do projeto esportivo do grupo. Na avaliação do ex-CEO da Renault, contudo, a estratégia ainda não deu resultado, dado o fato de, pelo terceiro ano consecutivo, as vendas da montadora terem caído.
Ghosn ainda crê que a Nissan e as autoridades japonesas estão em uma caça às bruxas porque ele queria fundir as duas marcas. Nesse sentido, o ex-CEO da Renault acredita que a aliança técnica com Nissan e Mitsubishi não tem futuro. “A Renault não tem mais influência no conselho administrativo da Nissan”, explicou. “O senhor Senard [Jean-Dominique, presidente da aliança] tentou se tornar o presidente do conselho da Nissan, o que eu era, e eles disseram que não. E a [má] vontade de trabalhar juntos, francamente! As pessoas dentro da aliança mostram que nada mais está acontecendo.”
Via Le Figaro
Imagem: Frederic Legrand – Comeo/Shutterstock
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