Saúde Vacinação

Mortes pela Covid no Paraná caem 65% após avanço da vacinação no 1° ano da campanha: 'Foi nosso salvo conduto para chegar até aqui', diz secretário

No primeiro semestre do ano passado, estado registrou 20,5 mil óbitos; no segundo, foram 7 mil mortes. Mais de 81% da população acima dos 12 anos está vacinada com uma dose ou dose única no Paraná; Sesa afirma que cerca de 800 mil não tomaram a segunda dose.

Por Natalia Filippin, g1 PR

24/01/2022 às 09:03:26 - Atualizado há
Mortes pela Covid caem 65% após avanço da vacinação no 1° ano da campanha no Paraná Â- Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Há exatamente um ano, em 18 de janeiro de 2021, a dose tão esperada chegou pelos ares. O avião com as primeiras doses da vacina contra a Covid-19 pousou em solo paranaense, no Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

Doze meses depois, foram dezenas de viagens até atingir a marca de quase 21 milhões de doses recebidas. Destas, 19.045.464 foram aplicadas no Paraná – entre primeira e segunda doses, doses de reforço, doses únicas e doses adicionais –, com base no sistemas de dados do Ministério da Saúde, o DataSUS.

No primeiro semestre do ano passado, o Paraná registrou 20,5 mil mortes. No segundo, foram 7 mil mortes – o que representa 65% a menos depois do avanço da vacinação pelo estado. As mortes registradas no segundo semestre de 2021 representam apenas um terço do total do primeiro semestre.

A primeira aplicação da vacina contra o coronavírus no Paraná ocorreu um dia depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar, por unanimidade, o uso emergencial das vacinas CoronaVac e da Universidade de Oxford.

A enfermeira Lucimar Josiane de Oliveira, que atua no Complexo Hospitalar do Trabalhador (CHT) em Curitiba, foi a primeira das 9,3 milhões de pessoas que foram vacinadas, com pelo menos uma dose ou a dose única, contra o novo coronavírus no Paraná, até o momento.

Levando em conta que a população total do estado é de mais de 11 milhões de pessoas, o número de vacinados com pelo menos uma dose chega a mais de 81%.

"A vacina foi determinante. É a vacina da esperança. Veja só 2021 e faça um contraponto com 2020. Nós tivemos a população inteira exposta a todos os riscos, os trabalhadores de saúde fizeram todo o seu enfrentamento à Covid sem vacina, somente com EPIs. Nós tivemos, sim, a vacina como nosso salvo conduto para chegar até aqui", afirma o secretário de Estado da Saúde Beto Preto.


Os gráficos a seguir mostram que, conforme mais doses da vacina foram aplicadas na população, o número de óbitos reduziu.


De maio a junho, por exemplo, quando a vacinação estava avançando, mas ainda para poucos grupos, foram 4.794 óbitos em um mês.

Já de novembro a dezembro, com toda a população acima de 12 anos podendo ser vacinada com pelo menos uma dose, foram registradas 114 mortes em um mês.

"A vacina foi o diferencial, mesmo com a vacina chegando a conta-gotas, mas chegando. É aquele sentimento de trocar o pneu do carro com o carro andando. Nós tivemos a terceira onda no mês de abril, maio e junho que foi avassaladora. Se dividirmos em três partes os óbitos no Paraná, dois terços foram no ano de 2021, mesmo com a vacina", comenta Beto Preto.

Casos e leitos

Em relação ao casos ativos da doença, com potencial de transmissão da Covid-19, o auge ocorreu em julho do ano passado, seis meses depois da chegada das vacinas – quando foram registrados 338.617 casos ativos.

Contudo, foi neste mesmo mês que, pela primeira vez desde janeiro de 2021, quando foi iniciada a campanha, mais de dois milhões de imunizantes foram aplicados em 31 dias. Além do número absoluto, julho também teve, até aquele momento, a melhor média de aplicação de doses por dia: 72.431.

E dessa ação surtiu resultados. De julho a agosto, o número de casos ativos caiu para 61.265 em todo estado. Dali em diante, por todos os meses seguintes, o número foi diminuindo ainda mais - exceto neste mês de janeiro de 2022 com a chegada da variante ômicron.

"A vacinação em massa, agora que está atingindo um grau muito grande da população vacinada, foi fantástica, mas também demonstra que o vírus, nesse mundo invisível que a gente está travando essa guerra, é um mundo que se renova, dinâmico, com mutações, mudanças, sempre novas variantes, mudanças genômicas. Isso tudo nos leva a ter que procurar outros caminhos, sempre. Por isso que, nesse momento, com a ômicron, estamos tendo uma explosão de casos. O que seria de nós todos se não tivéssemos a vacinação em massa? Nós teríamos muitos casos novamente nos hospitais, cidadãos perdendo a vida. Então, temos que continuar o trabalho, continuar vacinando e se protegendo", pontua o secretário.

O avanço da vacinação no Paraná também influenciou nas taxas de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria exclusivos para pacientes adultos suspeitos ou confirmados de Covid.

A taxa de ocupação mais alta desde o início da pandemia foi em março de 2021, com 97% das 1.639 UTIs adultas das quatro macrorregiões ocupadas.

Em julho, essas taxas começaram a baixar: das 1.949 UTIs adultas disponíveis, 72% estavam ocupadas. O que demonstra que com a vacinação os casos confirmados da doença se apresentam menos graves, necessitando cada vez menos internamento.

Em dezembro do ano passado, a taxa de ocupação das UTIs adultas foi de somente 26% das 752 disponíveis, o menor número desde o começo da campanha de vacinação no estado.

No estado, a Sesa trabalha com todas as vacinas que foram aprovadas pela Anvisa: Coronavac, Janssen, Pfizer e AstraZeneca.

Dificuldades e problemas

Junto à grande expectativa de imunização em massa para controle da doença e esperança de vida mais próxima do normal, a chegada das vacinas reacendeu o debate sobre a importância de se pensar coletivamente e também trouxe o desafio de combater notícias falsas.

"Nós temos trabalhado muito com o convencimento da população em orientar o que é preciso fazer em cada fase da pandemia, de restrições a cuidados. Mas, veja só o que nós passamos com as fake news, as contra orientações, toda essa questão política em cima do tema da saúde, da vacinação. Nós tivemos e ainda temos que combater isso, a desinformação. Tivemos dificuldades, problemas, muitas vezes tivemos até falta de medicamentos, falta de ventilador, mas não faltou vontade de acertar, fizemos contas dentro da legalidade, nada que desabonasse o Estado", diz Beto Preto.

O secretário ainda lembra que além dos problemas enfrentados em relação às pontuais faltas de insumos, superlotação de leitos e pressão como um todo no sistema de saúde, a secretaria ainda precisou lidar frente à negativa de uma parcela da população quanto a imunização.

"Tem um ditado popular antigo: 'água mole em pedra dura tanto bate até que fura'. A gente repete esse nosso mantra da vacina, da vacina, da vacina. Mas, ainda temos 2% ou 3% de paranaenses, que equivale a umas 250 mil pessoas, que não tomaram nenhuma dose. Nós temos que falar, repetir, apelar e, por isso, a necessidade de continuar celebrando a vitória da vacinação. A vacina é a vida, né? É importante para combater o coronavírus e se mostrou importante para combater a gripe também".

O secretário afirma que, conforme último levantamento realizado pela Sesa, cerca de 800 mil paranaenses estão com a segunda dose da vacina contra a Covid-19 em atraso.

"Claro que é preocupante. Nós precisamos de todos os cidadãos paranaenses vacinados. Porém, mesmo com essa falha, a nossa vacinação é muito significativa, é organizada, tem estratégias. Na retaguarda, logística, planejamento estratégico, conseguimos montar uma boa estrutura", avalia.

Além dessas dificuldades, o Paraná registrou durante este primeiro ano de campanha de vacinação situações de pessoas furando a fila para tomar a dose e também algumas exigindo escolher qual marca do imunizante iria receber – os chamados "sommeliers da vacina".

Beto Preto afirma que desde o início da vacinação no estado, a perda vacinal foi de apenas 0,12%.

"Nossa perda vacinal é das menores possíveis. Em toda campanha de vacinação, você trabalha normalmente de 5% a 10% de perda vacinal. Na campanha de vacinação contra a Covid, nossa perda foi de 0,12%. Dois terços dessa perda se deram por intempéries climáticas, como freezer que descongelou e perdeu, ou que deu algum raio, coisas assim, e perdemos um terço por validade mesmo. Foram poucas doses, de 30 mil a 40 mil doses no total".

Em novembro do ano passado, o Governo do Paraná não renovou o decreto que prevê medidas contra a Covid e, com isso, suspendeu as restrições de combate à pandemia. Somente a obrigatoriedade do uso de máscaras continua valendo, por estar prevista em lei estadual, com determinação de multa que varia entre R$ 106,60 e R$ 533 para pessoas físicas, em caso do descumprimento.

"A cada dia nós vamos montando estratégias, verificando os números, orientando as pessoas, pedindo a colaboração de todos para a utilização das máscaras, lavagem das mãos, usar álcool gel. Tudo isso a gente vem repetindo incidentemente há dois anos e, ao mesmo tempo, também dizendo que a vida deve continuar, vem pedindo passagem, e que nós queremos ter o máximo de atividades possíveis nesse momento desde que com todos os cuidados tomados".

De acordo com o secretário, se, por ventura, a pandemia piorar, o governo vai tomar medidas mais restritivas. Contudo, neste momento, pretendem aguardar a tomada de decisão de outros estados.

"Nós estamos avaliando os números. Um dos números importantes é a taxa de transmissão, que está elevadíssima, porém, nós continuamos com nossos leitos hospitalares em baixa utilização. Óbitos também estão em número pequeno. Então, nós continuamos fazendo a abordagem técnica, epidemiológica e científica", explica.

Vacinação na capital

Em Curitiba, a maior parte da população também aderiu à vacinação. Até esta terça-feira, conforme dados da prefeitura, foram aplicadas mais de 3,5 milhões de doses contra a Covid.

81,2% da população total estimada foi imunizada com pelo menos uma dose ou dose única. Se considerar a população acima de 12 anos, a cobertura vacinal é de 95%.

"Com essa vacinação aqui em Curitiba, a gente teve uma grande adesão, inicialmente, todo mundo ávido pela vacina, vieram de todos os cantos possíveis, surgiram pessoas, profissionais de todas as áreas. Com a vacina da Covid toda a população estava muito esperançosa, e essa esperança foi correspondida pelas vacinas", afirma a infectologista da Secretaria Municipal de Saúde, Marion Burger.

O município informou que 6,5% da população elegível para tomar a segunda dose, que foi inclusive convocada, não retornou aos postos de saúde.

"Nós tivemos, aqui em Curitiba, um pequeno número de pessoas que não fizeram a segunda dose. O ideal é que essas pessoas recebam essa dose, afinal está ali disponível para ela. Agora, com a entrada dessa terceira grande variante de importância, a ômicron, é ainda mais importante a atualização do esquema vacinal. As vacinas se mostraram a grande arma de prevenção no sentido de complicações e óbitos por Covid. É por isso que nós estamos vendo esse foguete de aumento de número de casos mas, ao mesmo tempo, não temos a repercussão sobre internamentos e óbitos", explica Marion.

De acordo com a prefeitura, no total de doses recebidas, os municípios têm um percentual de até 5% de reserva técnica – que é uma medida de segurança que faz parte dos protocolos da logística e é necessária para evitar problemas no fluxo de imunização que possam ser causados por imprevistos eventuais, como a quebra acidental de frascos.

Durante este primeiro ano da campanha de vacinação, a prefeitura informou que Curitiba tem uma capacidade de uso das doses que fica abaixo do máximo permitido na reserva técnica, que atualmente está em 2,2%.

Na semana passada, a prefeitura publicou um novo decreto reduzindo, por "cautela sanitária", para até 70% a capacidade de ocupação de estabelecimentos comerciais que atuam no município, além de eventos realizados na capital.

A decisão de diminuir a ocupação de estabelecimentos e eventos foi tomada, segundo a prefeitura, devido justamente ao aumento dos casos de Covid, confirmação da variante ômicron no Paraná, além da epidemia da gripe Influenza A (H3N2).

"O conjunto que leva às medidas restritivas ou não também tem relação à capacidade do sistema de saúde de atender, absorver, internar e tratar os indivíduos doentes. Atualmente, a capacidade continua boa. Estamos com 65 leitos disponíveis no SUS para UTI de casos suspeitos ou confirmados de Covid. No auge da pandemia, nós tínhamos quase 550 leitos disponíveis. Então, a gente sabe da elasticidade do sistema de saúde na ampliação de leitos caso seja necessário. Não houve, ainda, qualquer esgotamento em relação à capacidade de atendimento", conclui Marion.

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