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Com 1,4 milhão de vacinas paradas da Pfizer, Bahia pede suspensão temporária de envio

Por Da Redação

23/12/2021 às 15:21:37 - Atualizado há

Mais de 1,4 milhão de doses de vacina paradas. Esse é o estoque de imunizantes da Pfizer na Bahia, que foi um dos estados que solicitaram essa semana que o Ministério da Saúde suspendesse temporariamente o envio de doses da farmacêutica. O pedido foi feito por pelo menos 13 estados, incluindo Minas Gerais e Rio de Janeiro, e pelo Distrito Federal. Além desses, Alagoas, Pará e Paraná pediram uma redução do quantitativo enviado.

Por trás desse pedido, na Bahia, estão duas razões principais: a logística dessas semanas de feriados de Natal e Réveillon, quando o movimento esperado já é menor, e o alto número de faltosos. De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), das quase 1,5 milhão de pessoas com a segunda dose atrasada, no mínimo 959 mil são indivíduos que não completaram o esquema da Pfizer. Há, ainda, cerca de 320 mil que não finalizaram a AstraZeneca e 145 mil que não tomaram a segunda dose da Coronavac. 

Por isso, a medida da Sesab visa a cautela na liberação, para atender as demandas de cada um dos territórios - que, por vezes, são heterogêneas e distintas entre si. Além disso, o imunizante da Pfizer tem especificidades: o armazenamento ideal, que preserva a validade por mais tempo, é em temperaturas que chegam a -70ºC. 

"Após retirar a vacina dos ultrafreezers, que têm temperaturas muito negativas, a validade dela passa a ser de 31 dias a partir da retirada. Se a gente mantiver no ultrafreezer, consegue ficar no prazo de validade do fabricante, que chega a nove meses", explica o técnico da coordenação estadual de Imunização da Sesab Ramon Saavedra, também pesquisador do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (Ufba). 

A pasta fez, então, um planejamento operacional com projeções que estimam as demandas que podem surgir nas próximas duas semanas, prazo da suspensão temporária. Ainda segundo Saavedra, a Sesab também pediu aos municípios que façam pedidos pelas doses da Pfizer também projetando como será a saída dos imunizantes - ou seja, como anda o movimento da vacinação na cidade, para não correr o risco de perder as doses. 

Nas últimas semanas, com o avanço da vacinação entre as faixas etárias, a demanda também ficou menor. "Todos os municípios da Bahia já recebem Pfizer, mas a gente não consegue garantir que as vacinas cheguem lá em temperatura de ultrafreezer. Ela já chega para eles nesse prazo de 31 dias, por isso o planejamento é importante". 

Temperatura
Não há previsão de fazer isso com as outras vacinas até porque a estocagem delas é diferente. Elas podem ser armazenadas em refrigeradores comuns durante todo o tempo, por exemplo. Além disso, Saavedra adianta que a Sesab tem estoque desses imunizantes não apenas na Central Estadual que fica em Simões Filho, como nas 30 centrais regionais. 

"Temos uma expertise reconhecida nessa capilaridade da rede de frio. Assim, temos a certeza de que, desde o momento em que o produto sai do laboratório até o momento em que a agulha chega no braço do paciente, ele não sofre nenhuma variação de temperatura fora do padrão orientado pelo fabricante", garante. 

O governador Rui Costa enfatizou que o pedido ao ministério, na verdade, se trata de uma solicitação para “escalonar” o envio de vacinas, o que é diferente de não enviar mais, justamente pelo prazo de validade. De acordo com ele, somando os faltosos da segunda dose com os que ainda não tomaram a terceira dose, o número de atrasados passa de 2,4 milhões no estado. 

“Estamos reiteradamente insistindo, apelando aos prefeitos para montar vacinação itinerante, móvel, fazer decretos que restrinjam o acesso a ambientes exclusivos para vacinados, para fazer com que as pessoas se vacinem. Infelizmente, temos uma lentidão muito grande nessa fase da vacinação”, afirmou, durante a inauguração da emergência ampliada do Hospital Geral Roberto Santos, na manhã desta quinta-feira (23). 

Estoque estável
Em Salvador, há mais de 150 mil doses de Pfizer no estoque, segundo a subcoordenadora de Doenças Imunopreveníveis, Doiane Lemos. No entanto, 103 mil pessoas que tomaram a primeira dose da farmacêutica estão estão com a segunda em atraso. Os lotes têm validade até fevereiro de 2022. 

“Nós estamos com um estoque estável, utilizando o saldo de doses para as estratégias que estão sendo estabelecidas, como a repescagem da primeira dose, a oferta de segunda e terceira e também a oferta do ‘liberou geral”, diz, referindo-se aos dias de vacinação em que mesmo quem não mora em Salvador pode ser imunizado na cidade, como aconteceu nesta quinta-feira. 

Ainda assim, ela garante que não há problemas de capacidade de armazenamento das doses em Salvador, nem temor com relação à validade até o momento. O grande problema é o alto número de faltosos. Somando todos os imunizantes, o total de pessoas com o esquema vacinal atrasado e incompleto passa de 300 mil.

“É uma situação preocupante. Se as pessoas estivessem procurando, estaríamos com saldo menor, mas essa é uma realidade brasileira. Então, (o pedido) é porque temos disponível, porque estamos implementando as estratégias sem necessidade de reposição”, acrescenta Doiane. 

Segundo Doiane, a prefeitura tem convocado os faltosos através de mensagens de texto, assim como com a busca ativa feita pelos agentes de saúde, nas casas dessas pessoas. 

“É uma questão de consciência. A gente não tem como amarrar ninguém e trazer para o ponto de vacinação, mas é importante que a população faça sua parte, especialmente nesse período de final de ano, que tem muitas confraternizações, ceia de Natal e muito trânsito de pessoas”, enfatiza. 

Campanha diferente
Uma situação como essa pode acontecer porque trata-se de uma campanha de vacinação completamente diferente de outras que o Brasil promoveu, como lembra a médica epidemiologista Glória Teixeira, professora do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba. Sem contar que tudo ainda acontece em um contexto em que existem grupos negacionistas. 

"É uma vacina que quem quer se vacinar corre e vai ao posto, ao mesmo tempo em que temos aqueles que hesitam", afirma. No caso da vacina da Pfizer, ela foi comprada em maior quantidade também por ser a mais indicada para a terceira dose. 

De acordo com o Ministério da Saúde, a terceira dose deve ser feita, preferencialmente, com o imunizante da Pfizer. Em segundo lugar, vêm as vacinas da Janssen e AstraZeneca. Na Bahia, para esse reforço, porém, só estão sendo disponibilizadas as da Pfizer porque, além da recomendação do órgão federal, há uma oferta maior. 

Para a epidemiologista, a decisão dos estados onde que há um estoque considerável foi acertada. "O governo do estado tem uma boa câmara, mas tem seu limite. Muitos municípios não têm essa rede de frio ou não tem uma rede grande, dependendo do porte. Sem contar que muita gente não quer se vacinar nessa época, nesse curso de festas. A gente não pode esquecer disso", pondera. 

Ainda assim, ela acredita que é possível que alguns estados tenham que rever essas medidas. Santa Catarina,  por exemplo, foi um dos que pediu a suspensão temporária dos envios. No entanto, alguns municípios como Blumenau e Joinville informaram falta do imunizante esta semana. 

"Não é fácil fazer uma campanha como essa, que pega um contingente grande da população, com vários tipos de imunobiológicos. Ainda bem que temos o SUS (Sistema Único de Saúde) e estamos avançando. Poderíamos ter avançado mais se tivéssemos começado antes e não estaríamos agora nesse sufoco, vacinando no Natal", diz. 

Quando muitas pessoas deixam de completar o esquema vacinal, o vírus continua circulando e, por consequência, sofrendo mutações e formando novas cepas. Nas últimas semanas, porém, os cientistas conseguiram confirmar que a terceira dose das vacinas produz imunidade também para a variante Ômicron. Até então, ela poderia escapar da proteção de apenas duas doses.  

"As vacinas estão cumprindo sua função, que é reduzir óbitos, reduzir casos graves. Por isso, estamos fazendo todo o movimento possível para vacinar nossas crianças também. Elas têm um quadro clínico menos grave, mas a covid-19 também mata crianças", completa. 

Através da assessoria, o Ministério da Saúde confirmou a solicitação dos estados e reforçou a importância da segunda e da terceira doses contra as novas variantes. "A orientação é completar o esquema vacinal da covid-19 para que o caráter pandêmico da doença seja superado no país. O ministério continua com sua campanha massiva de incentivo à imunização nacional e a importância da segunda dose e da dose de reforço e recomenda aos estados e municípios que também façam uma busca ativa da população-alvo", dizem, em nota. O órgão federal informou, ainda, que distribuiu mais de 386 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 no país, sendo que mais de 315 milhões já foram aplicadas.

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