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Contra "breques", iFood oferece R$ 5 a mais por corrida para desmobilizar entregadores

Por Da Redação

25/10/2021 às 19:35:38 - Atualizado há

Em Atibaia (SP), os entregadores de aplicativo completavam oito dias de paralisação por melhores condições de trabalho quando, na sexta-feira (22), receberam a notificação de que o iFood - ineditamente - estava oferecendo R$ 5 a mais por entrega para quem trabalhasse.

Esse foi um dos fatores, conjugado a outros, que fez com que os grevistas de Atibaia encerrassem o breque. "A gente vai voltar a trabalhar hoje", afirmou Márcio Pereira*, um dos entregadores, na própria sexta-feira (22). "Mas se o aplicativo não continuar com a promoção no decorrer dos dias, a gente vai brecar de novo", anunciou.

Atibaia foi a sétima cidade, só no mês de outubro, a ter paralisação de entregadores contra os apps de delivery. Junto com Paulínia (SP), os dois municípios tiveram os breques de maior duração da categoria no Brasil. Houve greves também nas cidades de Jundiaí (SP), Maceió (AL), São Carlos (SP), Bauru (SP) e Niterói (RJ).

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As mobilizações tiveram todas as empresas de entrega por aplicativo como alvo, com especial pressão no iFood, a maior do ramo no país. Entre as demandas estão o aumento da taxa mínima por corrida (hoje no valor de R$ 5,31), o fim dos desligamentos da plataforma sem justificativa e também o fim de duas entregas feitas na mesma corrida.

Nenhuma empresa fez qualquer contato com os grevistas, tampouco atendeu suas demandas.

Durante as greves, iFood lança promoção de R$5 a mais por corrida

Ao menos em Paulínia, Jundiaí e Atibaia um padrão se repetiu por parte do iFood. Depois de alguns dias de greve, a empresa soltou uma promoção, que durou apenas algumas horas, oferecendo um extra de R$ 5 por entrega.


No oitavo dia de paralisação de entregadores em Atibaia, iFood lança promoção de R$5 a mais por corrida durante o horário do jantar / Print - Arquivo

Para Guilherme Moraes*, entregador de Atibaia que está se recuperando de um acidente que sofreu em serviço, "o iFood não agiu certo".

"Lançou essa promoção para que entregadores que não estavam de acordo com a paralisação trabalhassem contra a gente. Para ter um confronto, uma inimizade", aponta Moraes. "E depois que teve essa promoção, não teve mais nenhuma. Voltou tudo a ser como era antes, entendeu? Não mudou em nada", descreve.

:: Entregadores de apps de Niterói (RJ) realizam paralisação por melhores condições de trabalho ::

Em Jundiaí, o movimento dos entregadores enviou uma petição ao Ministério Público do Trabalho (MPT) denunciando as promoções lançadas pelo iFood como atos antissindicais. A argumentação se baseou no Manual de Atuação de Atos Antissindicais do próprio MPT, que faz essa caracterização a qualquer ato que busque "cercear ou dificultar a adesão e o livre exercício do direito de greve".

O documento, no entanto, foi arquivado, sob o argumento de que já existe uma Ação Civil Pública com abrangência nacional em trâmite, que visa criar a obrigatoriedade do reconhecimento do vínculo empregatício entre o iFood e seus trabalhadores.

Eduardo Zamboni, advogado trabalhista que assinou a petição, afirma que mesmo se o vínculo não for caracterizado como de emprego, "cabe ainda a atuação do MPT por se tratarem de trabalhadores e por terem comando constitucional. Todas as disposições desses atos antissindicais dizem respeito a trabalhadores, e não empregados".

Sem fazer contato, iFood disse ter chegado a um "consenso" com grevistas

Na sexta-feira (22), mesmo dia em que a promoção foi lançada em Atibaia, o iFood enviou uma mensagem aos comerciantes da cidade informando que a empresa "em conjunto com os entregadores parceiros da região de Atibaia chegaram a um consenso e a greve será suspensa".

Os entregadores, no entanto, afirmam que não houve contato com eles por parte do iFood e que, portanto, jamais entraram em qualquer tipo de consenso com a empresa.


Em mensagem a donos de estabelecimentos de Atibaia, iFood anuncia a suspensão da greve após suposto consenso entre a empresa e entregadores / Print - Arquivo

"Pura mentira. Não entraram em acordo, não ligaram para nós, linha de frente que estávamos lá", conta o entregador Altemício Nascimento.

"Eles não têm nem peito para vir fazer uma negociação, conversar, escutar", opina Moraes: "É uma empresa que realmente joga sujo, eles só pensam neles mesmos".

O Brasil de Fato tentou contato com o iFood e não teve respostas até o fechamento da matéria.

Douglas Firmino* é dono de um restaurante em Atibaia e foi um dos que recebeu a mensagem do iFood. Ele conta que, apesar do prejuízo dos dias em que ficou sem entregas, apoia a mobilização dos trabalhadores.

:: Entregadores exaustos, restaurantes “amarrados”: cresce insatisfação contra apps de delivery ::

"Não adianta nada a gente ter os motoboys trabalhando insatisfeitos. A pessoa não vai ficar até 23h da noite num domingo de chuva e de frio para fazer uma corrida de 9 km por R$ 6", exemplifica Firmino. "Para mim, eu sou mais eles trabalhando satisfeitos", resume.

"As taxas não acompanham a inflação e está tudo caro: gasolina, pneu, tudo. Está muito complicado para trabalhar no dia a dia. E o iFood está ganhando muito dinheiro e não repassa para a gente", descreve Nascimento, que ressalta: "Agora a gente está se mobilizando para fazer uma greve nacional novamente. Vai parar o Brasil inteiro".

* Os nomes foram alterados para preservar as fontes.

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