Geral economia

Baianos apostam em moda evangélica e assessoria para influencer da periferia

Por Da Redação

21/10/2021 às 06:01:38 - Atualizado há

Empreendedorismo e inovação são dois conceitos diferentes que, apesar disso, andam lado a lado, sem se desgrudar. Se você pergunta a um empreendedor qual é a chave para o sucesso no trabalho, a resposta chega a ser  previsível: a capacidade de oferecer um serviço de qualidade que não se encontra em todo lugar. O que até é verdade, mas não garante um investimento rentável por si só. 

Para Fátima Ferreira, analista de negócios inovadores do Sebrae, um empreendimento precisa unir o caráter inovador ao conhecimento sobre quem é o seu público-alvo e quais são as suas demandas. "O exercício certo que precisa ser feito é partir da observação para entender qual a demanda para aquela região e público onde o negócio está. Esse é o caminho porque não adianta criar um produto mirabolante que ninguém quer", explica a analista. 

Fátima fala sobre o que é preciso ter em mente para empreender

(Foto: Divulgação)

Ainda segundo ela, fazer essa associação não é fácil, mas é possível, principalmente, quando as pessoas estão preparadas para isso. O que deve ser o caso de 30 empreendedores de  Campinas de Pirajá e dos bairros de seu entorno, onde o Instituto Camargo Corrêa começou a desenvolver um programa de capacitação desses empresários. 

No projeto, que tem duração de seis meses e já realizou uma das suas três etapas, os selecionados aprenderão sobre cultura, gestão financeira, elaboração de projetos, pitchs de vendas e todas as circunstâncias fazem parte de um novo negócio.

Barbara Galvão, diretora-executiva do instituto, afirma que o programa quer entregar as ferramentas certas para impulsionar a economia local. "O objetivo é aprimorar o desenvolvimento econômico da região com o empreendedorismo como pilar, que é uma forma perene e sustentável da gente apoiar a comunidade para que, quando o programa não estiver mais lá, esse desenvolvimento persista. É mais do que mero assistencialismo", garante a diretora. 

Barbara vê empreendedorismo como forma de apoio perene para população

(Foto: Divulgação)

Entre todos os selecionados para participar do projeto, uma coisa em comum: negócios que preencheram lacunas de serviços e são desenhados sob medida, de acordo o que os consumidores precisam. Característica que  faz a diferença entre um empreendimento que não vai para a frente e outro que é capaz de alinhar seus produtos às necessidades do consumidor alvo e comercializá-los.

Moda evangélica

Assim como a empresária Marta Almeida, 41 anos, de Campinas de Pirajá, foi capaz de fazer. Ela, que trabalhou boa parte da vida com vendas e acredita ter nascido para atuar no ramo, ficou desempregada na pandemia, precisando garantir sustento para uma casa que tem ainda suas três filhas. Necessidade que a fez dar o pulo do gato nos negócios e, de quebra, voltar a fazer o que ama com um público-alvo nada convencional. 

É seguro dizer que, em Salvador, tem loja de roupas em todo lugar, seja ela com um foco mais casual, esportiva ou formal. O que não se vê todo dia é um estabelecimento voltado apenas para mulheres evangélicas. Justamente o que a Rosa Formosa, loja criada há seis meses por Marta, que também é evangélica, se propõe a ser. Uma ideia que surgiu de demandas que a própria empresária tinha, apesar das muitas lojas de roupa existentes no seu bairro.

Roupas de Marta fazem sucesso com mulheres evangélicas

(Foto: Paula Fróes/CORREIO)

"Percebi que tinha muita loja, mas nenhuma com um foco para as evangélicas e capaz de dar a certeza de que elas vão sempre encontrar saia, vestido ou conjunto do estilo que gostam. Aí pensei: esse é o negócio! Comecei a olhar na internet, procurar fornecedores, pesquisar como estava o ramo de vendas, vi que precisava de Instagram e até criar uma loja virtual eu criei", lembra ela, que foi vítima de um golpe logo na primeira compra com fornecedor, que recebeu o pagamento, mas não enviou os produtos.

Um baque forte, mas não o suficiente para a fazer desistir. "Meus pais disseram que todo mundo precisa de uma história pra contar lá na frente. Pois bem, essa é a minha", brinca ela aos risos. Gargalhada de quem fez a segunda compra - essa sem problemas - e virou sensação entre as crentes de Campinas. 

"Caiu no gosto delas e foi dando muito certo. Hoje, ganho duas ou três vezes mais do que qualquer empreendimento com comida, cama, mesa e banho ou lingerie que já fiz. Ainda não tenho condição de ter loja física, mas na minha casa tem um espaço com provador, carpete e uma decoração bacana pra receber o povo", fala Marta, que tem as redes como principal trunfo para encantar as clientes que as seguem por lá e acabam aparecendo em sua porta quando algo as interessa pela tela do celular. 

Pilates para idosas de baixa renda

Outro exemplo de sucesso, agora no Conjunto Pirajá, é a clínica da fisioterapeuta Larissa Dias, 35, profissional especializada em pilates que sempre quis fazer seu trabalho onde nasceu e foi criada, mesmo que não lhe rendesse muito dinheiro. Tanto é que ela começou atuar no bairro através do conselho de moradores, dando aulas para idosas de baixa renda, seu público-alvo, em troca de ajuda de custo. E o negócio deu tão certo que as alunas, que na época - há seis anos - eram 25, quiseram ir além das atividades na associação, fazendo questão de aulas particulares com Larissa. 

"As alunas gostaram tanto que eu consegui abrir duas turmas cheias de 20 pessoas, que continuam comigo até hoje. Elas não podiam pagar os preços comuns de clínicas de pilates e nem sabiam o que era porque não tinha aqui. Eu fui a primeira para trazer isso aqui para o bairro em um preço possível, o que agradou o povo demais", conta a fisioterapeuta, que chegou a ter 30 alunas, mas voltou para 20 por conta da pandemia e a necessidade das alunas, que fazem parte do grupo de risco, se manterem em distanciamento social. 

Sonho de Larissa era trabalhar em seu bairro

(Foto: Paula Fróes/CORREIO)

O crescimento anterior a covid-19, no entanto, foi capaz de fazer Larissa sair de um espaço emprestado na associação para uma clínica própria. "Eu montei um estúdio independente de 20m² no começo. Logo ficou pequeno e tive que alugar uma outra sala. Cresceu mais e, no ano passado, comprei um terreno e fiz uma clínica com 100m². Uma clínica mesmo porque, além do pilates, tem fonoaudiologia, nutricionista e psicólogo também", fala Larissa, ressaltando que cada serviço tem seu valor separado.

Na clínica, quem quiser fazer pilates duas vezes por semana paga R$ 130 por mês, enquanto quem faz três vezes desembolsa R$ 147. Valores que dão um retorno financeiro para lá positivo segundo a profissional, mas não se comparam com o ganho pessoal que é a realização do sonho. "Me sinto muito realizada e produtiva para o meu bairro. Empreender em um bairro periférico é complicado, mas você vê a necessidade das pessoas e a valorização que elas dão ao projeto, que faz dar tudo certo nessa iniciativa que fico com toda a alegria do mundo", conclui Larissa. 

Assessoria de jovens influenciadores

Johnny Olliver, 31, é um publicitário cria do bairro de Mata Escura e tem a mesma vontade de Larissa para usar seu trabalho onde vive. O que muda mesmo são os clientes. Ao invés de idosas, ele lida com jovens influenciadores que querem ganhar visibilidade através da Olliver Influencer, sua empresa de assessoria que cuida de, pelo menos, oito talentos do bairros. Entre eles, tem modelo, cantora, compositor e até quem produz conteúdo motivacional. 

Diferente do que se vê por aí, o conceito de Oliver é que dá para produzir conteúdo sem fazer pose de luxo, como ele mesmo explica. "A  ideia é que eles podem produzir conteúdo sem a ilusão de uma vida perfeita. Eles começaram entender essa proposta e a produzir do nosso jeito, com a nossa cultura, cotidiano e as roupas possíveis para nós. Tanto é que começamos a fazer links com empresas daqui do ramo de alimentação, de roupa e outros seguimentos", conta o publicitário.

Olliver assessora jovens influenciadores de Mata Escura

(Foto: Paula Fróes/CORREIO)

O contato com as empresas é feito, principalmente, em reuniões patrocinadas feitas pelos influenciadores, onde ganham produtos de empresários do bairro e divulgam nas redes. "Na última reunião, por exemplo, foi uma empresa de açaí que mandou o produto. Nós fizemos as postagens direcionando para eles e o povo gostou bastante. Outros empresários até entraram em contato para enviar seus produtos da próxima vez", lembra Olliver.

A assessoria com os influenciadores ainda não dá retorno financeiro, só visibilidade para o trabalho do publicitário, que faz dinheiro mesmo com design gráfico e marketing digital que aprendeu ao longo de anos de trabalhos em empresas do ramo. Foi dessa experiência ao lado de assessorias de influenciadores maiores que saiu a ideia de cuidar dos influenciadores de Mata Escura, realização pessoal de Olliver. "Sempre tive a ideia de fazer um trabalho aqui em Mata Escura e fiz muitos antes em outros modelos. Agora, com os influenciadores, tá sendo muito bacana. Gerenciar pessoas é complicado, mas é prazeroso ajudar eles, orientar e vê eles crescendo como produtores de conteúdo", salienta.

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro

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