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Mãe se desesperou ao saber de chacina no Uruguai: 'Já achei meu filho caído'

Por Da Redação

14/10/2021 às 06:04:31 - Atualizado há

A autônoma Alcione Pereira dos Santos, 40 anos, estava trêmula e com os olhos inchados de tanto chorar. À medida que recebia palavras de conforto dos vizinhos, ela recusava o fato de que nunca mais veria o único filho Alexsandro Santos Seixas, de 16 anos, a quem o chamava de 'meu bebê'. “Saí desesperada, fui com tudo, mas quando cheguei ele já estava morto", declarou Alcione, ao relatar o momento em que soube que o adolescente era um dos mortos na chacina do Uruguai.

O crime aconteceu na madrugada dessa quarta-feira (13), deixando um saldo de 12 feridos e seis mortos, entre eles Alexsandro. Todos estavam no paredão que acontecia na Travessa Oito de Dezembro, na localidade conhecida como Pistão. Moradores contaram que os tiros começaram já no final da festa, após uma discussão entre os participantes. Os tiros duraram menos de cinco minutos, mas como a festa estava cheia, muitas pessoas foram atingidas - a maioria com menos de 30 anos. 

Alcione disse que o tipo da festa sempre terminou em confusão no bairro e que por isso não gostava que o filho participasse. Sabendo que a mãe não permitiria a ida, Alexsandro esperou a mãe dormir para ir ao paredão. "Ele saiu escondido", contou ela, enquanto era amparada também por parentes. A autônoma foi acordada pelos vizinhos. “Acordei com muita gente gritando, chorando e batendo em minha porta”, relatou. 

Alcione afirmou que não pensou duas vezes e saiu com a roupa do corpo - uma camisola - atrás de Alexsandro, na esperança de que ele tivesse sido ao menos socorrido. “Corri e, quando cheguei, achei meu filho caído e sozinho. Pelas características, ele morreu na hora", disse ela. 

Segundo familiares, Alexsandro era aluno da Escola Estadual Professora Ocridalina Madureira, em Massaranduba. 

Outros mortos 
Os demais mortos na ação foram identificados como Adriane Oliveira Santos, Brenda Buri da Silva, Deivison da Conceição Santos, Jailton Sales dos Santos e Kadson dos Santos Passos. "Algumas pessoas foram levadas pelos colegas. Outras foram colocadas dentro dos carros que foram parados na hora pela população", detalhou um morador sobre o socorro das vítimas. 

Adriane Oliveira Santos, 20 anos, não estava participando da festa. “Ela foi apenas levar um primo no ponto de ônibus e precisava passar por essa rua onde rolava o paredão. O tiroteio aconteceu quando ela voltava do ponto”, conta um familiar da vítima que não terá o nome revelado. 

Adriane também foi morta no tiroteio (Foto: Reprodução)

A estudante estava acompanhada de uma irmã, que não foi atingida pelos disparos. “A irmã me contou que começou uma briga enquanto passavam e, quando os tiros começaram, ela foi para o chão. Nesse momento, uma moça, que também morreu, foi baleada e caiu por cima dela. Ela então levantou para procurar Adriane e, quando viu, ela também estava no chão baleada”, diz.  

Adriane recebeu um tiro na cabeça e outro na costela. Ela chegou a ser levada para um hospital, onde foi feita uma cirurgia, mas não resistiu. Adriane estava cursando Enfermagem e foi a primeira da família a entrar na faculdade.

“Ela estava vivendo o sonho dela, fazendo faculdade... Está sendo muito difícil encarar isso, viu?”, lamentou o familiar.  

Outra vítima do tiroteio foi Deivison da Conceição Santos Santana, que fez 18 anos no dia 21 de setembro. “Ele morava com os avós e saiu de casa pouco antes de tudo ter acontecido. A avó ainda pediu para ele não ir por causa do horário, mas por ser maior, ele saiu. Eu estava dormindo na hora e só acordei com o som dos tiros. Nossa casa fica a 100 metros de onde a festa acontecia”, conta a mãe do garoto.  

Deivison da Conceição Santos Santana tinha feito 18 anos no último dia 21 (Foto: Reprodução)

Segundo ela, Deivison, que era seu filho mais velho, fazia supletivo e trabalhava em uma oficina. Logo após ter acordado com o som dos tiros, a mãe recebeu a notícia de que seu filho tinha sido baleado. “Quando eu cheguei na praça, ele já estava morto. A polícia já estava lá também. Eles me trataram super bem. Os policiais me deram palavras de apoio e incentivo”, relata.  

A mãe ainda conta que Deivison era vizinho e amigo de Alexsandro. “Foram garotos que nunca se envolveram em nenhuma situação de desrespeito. Infelizmente, eles estavam na hora errada, no lugar errado. É complicado, mas quem nos sustenta é Jesus. Quando a gente pensa que não vai aguentar, é ele quem ampara”, disse.

Tiros
O tiroteio assustou quem mora no bairro. "Todo mundo que foi baleado não mora aqui. Essa rua é super tranquila. Agora, as pessoas estão com medo de vir aqui por causa disso", disse outro morador da rua, que é rodeada de casas e de alguns estabelecimentos comerciais, como bares, lojas de roupas, vidraçarias e oficinas mecânicas. "A maioria dos baleados tinha 30 (anos) para baixo. Na festa havia muito adolescentes", contou uma moradora.

Segundo informações da Polícia Civil, testemunhas relataram que um grupo armado chegou ao local onde acontecia uma festa do tipo “paredão” e efetuou vários disparos. 

De acordo com a Polícia Militar, equipes da 17ª Companhia da PM (CIPM/ Uruguai) faziam rondas no local quando moradores relataram o tiroteio.

Depois, testemunhas disseram que 8 pessoas também haviam sido baleadas e levadas para a UPA de Santo Antônio. Outras cinco pessoas foram socorridas ao Hospital Geral do Estado (HGE), duas ao Hospital do Subúrbio e uma à UPA de San Martin.

Ainda de acordo com a PM, a 17ª CIPM intensificou o policiamento no bairro. O crime está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Dois suspeitos de envolvimento foram presos e estão custodiados em uma unidade de saúde. Eles também foram baleados.


*Colaborou Daniel Aloísio e Carolina Cerqueira, com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro

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