PolĂ­cia Mulheres Negras

Violência contra mulher negra: maioria dos casos começa na juventude

Por Agência Brasil

28/11/2024 às 08:24:29 - Atualizado hĂĄ
Foto: Gazeta de Rio Preto

A maioria das mulheres negras no Brasil (53%) que sofreram algum tipo de violĂȘncia doméstica passou pela primeira experiĂȘncia de agressão ainda jovem, antes dos 25 anos de idade. Os dados são da Pesquisa Nacional de ViolĂȘncia contra a Mulher Negra feita pelo DataSenado e pela Nexus - Pesquisa e InteligĂȘncia de Dados, em parceria com o Observatório da Mulher contra a ViolĂȘncia.

Quando se analisa o tipo de violĂȘncia doméstica sofrida por mulheres negras, 87% relatam agressões psicológicas, 78% fĂ­sicas, 33% patrimoniais e 25% sexuais. Entre as que passaram por algum episódio desses nos Ășltimos 12 anos, 18% sofreram com falsas acusações, 17% se sentiram assustadas por episódios de gritaria ou quebra de objetos, 16% foram insultadas, 16% humilhadas e 10% ameaçadas.

Os pesquisadores ouviram 13.977 brasileiras negras de 16 anos ou mais, entre 21 de agosto a 25 de setembro de 2023, em todas as unidades da Federação. Foram consideradas negras aquelas que autodeclaram ter a cor de pele preta ou parda. O nĂ­vel de confiança nos resultados é indicado como de 95%.

O levantamento considerou o recorte especĂ­fico com mulheres negras, por esse grupo ser o mais vulnerĂĄvel à violĂȘncia no paĂ­s. Dados do Sistema Nacional de Segurança PĂșblica (Sinesp) mostram que, entre as mulheres vĂ­timas de violĂȘncia sexual cujas ocorrĂȘncias policiais incluĂ­am o registro de cor/raça, 62% eram pretas ou pardas. E dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) indicam que entre as 3.373 mulheres assassinadas em 2022, cujas informações de raça e cor foram registradas, 67% eram negras (2.276).

Outros dados

A Pesquisa Nacional de ViolĂȘncia contra a Mulher Negra também considerou o tipo de acolhimento buscado pelas vĂ­timas. Segundo o levantamento, 60% das mulheres pretas e pardas agredidas recorreram à famĂ­lia, 45% buscaram acolhimento na igreja, 41% pediram ajuda a amigos, 32% buscaram atendimento em uma delegacia comum e 23% foram até a Delegacia da Mulher.

Chamam atenção os nĂșmeros de quem recorre à polĂ­cia. Embora 55% das mulheres negras vĂ­timas de violĂȘncia busquem essa ajuda, apenas 28% solicitam proteção. Em 48% dos casos em que hĂĄ essa solicitação, a medida protetiva é descumprida pelo agressor.

A analista Milene Tomoike, do Observatório da Mulher Contra a ViolĂȘncia, diz que os nĂșmeros revelam uma dinâmica de silenciamento das vĂ­timas e uma dificuldade de ruptura do ciclo de violĂȘncia.

"Esses dados reforçam a importância de iniciativas preventivas e de proteção ampliada. Embora muitas vĂ­timas busquem apoio em suas redes sociais, como famĂ­lia e amigos, é fundamental fortalecer polĂ­ticas pĂșblicas e ampliar o acesso a serviços especializados, garantindo acolhimento, segurança e caminhos reais para reconstrução", afirma Milene.

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