PolĂ­cia FeminicĂ­dio

A cada 17 horas, ao menos uma mulher foi vítima de feminicídio em 2024

A cada 17 horas, uma mulher morreu em razão do gênero em 2024 em nove estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança: Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.

Por Agência Brasil

13/03/2025 às 11:36:47 - Atualizado hĂĄ

A cada 17 horas, uma mulher morreu em razão do gĂȘnero em 2024 em nove estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança: Amazonas, Bahia, CearĂĄ, Maranhão, ParĂĄ, Pernambuco, PiauĂ­, Rio de Janeiro e São Paulo. Os dados apontaram um total de 531 vĂ­timas de feminicĂ­dios no ano passado.

Em 75,3% dos casos, os crimes foram cometidos por pessoas próximas. Se considerados somente parceiros e ex-parceiros, o Ă­ndice é de 70%.

O novo boletim Elas Vivem: um caminho de luta, divulgado nesta quinta-feira (13), foi produzido pela Rede de Observatórios da Segurança, uma iniciativa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) dedicada a acompanhar polĂ­ticas pĂșblicas de segurança, fenômenos de violĂȘncia e criminalidade em nove estados.

Segundo o estudo, a cada 24 horas ao menos 13 mulheres foram vĂ­timas de violĂȘncia em 2024 nos nove estados. Ao todo, foram registradas 4.181 mulheres vitimadas, representando um aumento de 12,4% em relação a 2023, quando o estado do Amazonas ainda não fazia parte deste monitoramento. O estado juntou-se à Rede em janeiro do ano seguinte.

"Continuamos chamando atenção, ano após ano, para um fenômeno muito maior do que essa amostragem, que foi normalizado pela sociedade e pelo poder pĂșblico como apenas mais uma pauta social. E por isso os nĂșmeros seguem aumentando, enquanto as polĂ­ticas de assistĂȘncia estão sendo fragilizadas", observa a organização.

"Apesar de importantes avanços ao longo dos anos com a institucionalização dos mecanismos de proteção às mulheres, como as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), a Lei Maria da Penha e a tipificação do feminicĂ­dio como crime – que deveriam estar mais consolidados e dotados de melhores condições de funcionamento –, a violĂȘncia contra mulheres e o feminicĂ­dio continuam sendo uma realidade alarmante em nosso paĂ­s", disse a pesquisadora Edna JatobĂĄ, que assina o principal texto desta edição do relatório.

Confira o nĂșmero de vĂ­timas de violĂȘncia e de feminicĂ­dios em cada estado em 2024:

Estado VĂ­timas de violĂȘncia FeminicĂ­dios
Amazonas 604 33
Bahia 257 46
CearĂĄ 207 45
Maranhão 365 54
ParĂĄ 388 41
Pernambuco 312 69
PiauĂ­ 238 36
Rio de Janeiro 633 63
São Paulo 1.177 144
Total 4.181 531

BrasĂ­lia (DF) 11/02/2025 – Foto: Joédson Alves/AgĂȘncia Brasil - Joédson Alves/AgĂȘncia Brasil

Veja a situação em cada estado monitorado, segundo o boletim Elas Vivem

Amazonas

O estado aparece pela primeira vez no monitoramento da Rede de Observatórios. Com 604 casos, fica atrĂĄs apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro em nĂșmeros de violĂȘncia, superando estados mais populosos, como Bahia e Pernambuco. Foram registrados 33 feminicĂ­dios no estado, 15 deles por parceiros ou ex-parceiros.

No Amazonas, 84,2% das vĂ­timas de violĂȘncia sexual em 2024 tinha de 0 a 17 anos. Além disso, 97,5% não tiveram identificação de raça/cor. O estado registrou dois casos de transfeminicĂ­dio.

Bahia

O estado apresentou redução de 30,2% nos eventos de violĂȘncia em um ano (de 368 para 257). Em 73,9% dos casos as vĂ­timas não tiveram raça ou cor identificada. Entre os 46 feminicĂ­dios, 34 não tiveram essa informação.

A capital baiana, Salvador, foi a que mais registrou eventos, com 68 no total. A Bahia também teve 96 mortes de mulheres (feminicĂ­dio e homicĂ­dio). Nenhum transfeminicĂ­dio foi registrado.

CearĂĄ

Os 207 casos registrados fizeram de 2024 o pior perĂ­odo em sete anos com relação à violĂȘncia contra mulheres no CearĂĄ. Em comparação com 2023, o aumento foi de 21,1%. Os feminicĂ­dios também aumentaram: de 42 para 45.

A maioria dos casos ocorreu com mulheres entre 18 a 39 anos. Parceiros e ex-parceiros cometeram 56 das violĂȘncias. O estado também registrou um caso de transfeminicĂ­dio.

Maranhão

O Maranhão cresceu quase 90% na violĂȘncia de gĂȘnero. O estado passou de 195 para 365 eventos violentos, sendo 151 cometidos por parceiros e ex-parceiros. Foram 54 assassinatos, sendo que 31 delas tinham entre 18 e 39 anos.

Quase 100% dos crimes não tiveram identificadas raça e cor (93,7% das ocorrĂȘncias).

ParĂĄ

O ParĂĄ também registrou um crescimento alarmante sobre os eventos de violĂȘncia: alta de 73,2% (de 224 para 388). A motivação dos casos majoritariamente não teve registro (81,3%), mas 63,4% dos crimes foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros.

As agressões registradas com uso de arma de fogo somaram 96 e com facas e objetos cortantes foram 95.

Pernambuco

O estado teve uma redução de 2,2% (de 319 para 312) nos casos de violĂȘncia contra as mulheres. No entanto, Pernambuco ficou atrĂĄs apenas de São Paulo nas mortes de mulheres (feminicĂ­dio, transfeminicĂ­dio e homicĂ­dio), com 167 eventos.

Foi o segundo estado, entre os nove, com mais casos de feminicĂ­dio: 69 casos.

PiauĂ­

O estado registrou crescimento de 17,8% nos crimes ligados a gĂȘnero (de 202 casos para 237). Teresina teve, disparadamente, o maior nĂșmero de casos (101), seguida por ParnaĂ­ba (14). Foram 57 tentativas de feminicĂ­dios e 36 feminicĂ­dios.

A exemplo de outras regiões, o PiauĂ­ também teve problemas de transparĂȘncia dos dados: 52,7% dos casos ficaram sem registro de motivações e 97,2% sem os marcadores social e étnico-racial, informações necessĂĄrias à compreensão do fenômeno e para o direcionamento de polĂ­ticas pĂșblicas.

Rio de Janeiro

No Rio, os casos de violĂȘncia de gĂȘnero cresceram de 621 para 633 em um ano – aumento de 1,9%. Do total, 197 crimes foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros. FeminicĂ­dios e tentativas também registraram altos nĂșmeros: 63 e 261, respectivamente.

Foram registrados 103 casos de violĂȘncia sexual/estupro. Do total de 64 eventos violentos, 13 foram cometidos por agentes da segurança pĂșblica.

São Paulo

São Paulo é a Ășnica região monitorada com mais de 1 mil eventos violentos contra mulheres em 2024. Foram 1.177 casos, um aumento de 12,4% em relação ao ano anterior.

A capital do estado teve os maiores nĂșmeros de casos: foram 149, seguida de São José do Rio Preto, com 66, e Sorocaba, com 42.

Entre as vĂ­timas de violĂȘncia com registro etĂĄrio, 378 mulheres tinham de 18 a 39 anos – 422 não tiveram essa informação disponibilizada.

Foram registrados 144 feminicĂ­dios no estado, sendo 125 cometidos por parceiros ou ex-parceiros.

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