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Mais que um teto: Casa Betânia oferece recomeço para pessoas em situação de rua em Guaratuba

Idealizada pelo Padre Antônio, a casa não se limita a oferecer abrigo; é um símbolo de acolhimento e transformação para dezenas de indivíduos em busca de uma nova chance na vida.

Por Da Redação

04/07/2024 às 11:50:57 - Atualizado há
– Idealizada pelo Padre Antônio, a casa não se limita a oferecer abrigo; é um símbolo de acolhimento e transformação para dezenas de indivíduos em busca de uma nova chance na vida. Foto: Juan Lima/JB Litoral
Idealizada pelo Padre Antônio, a casa não se limita a oferecer abrigo; é um símbolo de acolhimento e transformação para dezenas de indivíduos em busca de uma nova chance na vida. Foto: Juan Lima/JB Litoral

O Brasil enfrenta uma realidade alarmante: segundo a Câmara dos Deputados, o número de pessoas em situação de rua cresceu 935% em uma década, totalizando 227 mil pessoas. Por trás desses dados estão histórias de famílias desfeitas, crianças desamparadas, mulheres sozinhas e idosos sem um teto seguro para chamar de lar.

Em Guaratuba, aproximadamente 400 pessoas vivem nas ruas, conforme relata ao JB Litoral o Padre Antônio Carlos da Silva. Diante desse cenário, ele não apenas abriu suas portas, mas criou um refúgio de esperança e oportunidades. A Casa Betânia (Avenida Visconde do Rio Branco, n° 4.224 – Balneário Nereidas), idealizada pelo padre, não se limita a oferecer abrigo; é um símbolo de acolhimento e transformação para dezenas de indivíduos em busca de uma nova chance na vida.

A história do espaço começou em 2020, durante a pandemia da Covid-19. O Padre Antônio, sempre engajado em ações sociais, percebeu a necessidade de ajudar os moradores de rua, que se viam ainda mais vulneráveis em um momento de isolamento. “Começamos a distribuir marmitas. Dávamos 50, 60 marmitas todos os dias, almoço e janta. Só que chegou um momento em que eles queriam tomar banho, queriam um lugar para poder se trocar, queriam roupa“, relembra.

Casa Betânia


A urgência em proporcionar um lar e um suporte completo às pessoas em situação de rua motivou o Padre Antônio a iniciar seu projeto alugando uma modesta casa de cinco cômodos. À medida que a demanda crescia, ele decidiu abrir mão de seus próprios recursos, adquirindo um imóvel que antes funcionava como pousada. Assim nasceu a Casa Betânia, hoje lar e esperança para 42 pessoas vulneráveis da comunidade.

Para ele, que também mora no local, a segurança é uma prioridade. “A residência é completamente monitorada por câmeras, pois geralmente quem vive nas ruas são usuários de drogas. Para entrar, é obrigatório passar pelo bafômetro e não é permitido consumo de álcool. A pessoa precisa estar disposta a abandonar o vício, a se comprometer e a mudar de vida“, detalha o padre.

O acolhimento na Casa Betânia vai além de um teto e comida. “Todo dia é uma luta. Temos crianças de seis anos com os pais que estavam na rua e que acolhemos“, conta.

Reintegração e recomeço


A missão do projeto é reintegrar as pessoas em situação de rua à sociedade. Para isso, é desenvolvido um plano estruturado, dividido em três etapas. “Das 42 pessoas que vivem aqui hoje, 36 trabalham, as outras, são muito idosas e não conseguem uma recolocação profissional. Auxiliamos no processo de obtenção dos documentos, e já providenciando um jeito deles se reconciliarem com a família, porque boa parte deles vem para cá porque brigou com a esposa, brigou com a mãe, saiu, colocou uma sacola nas costas e chegou aqui. Nosso primeiro objetivo é devolvê-los para a família”, explica Padre Antônio.

Em casos de rejeição familiar, a Casa Betânia oferece alternativas. “Quando tentamos entrar em contato com a família e ela não quer mais, aqui nós acolhemos e encaminhamos para uma casa de recuperação, se necessário“, revela.

A segunda etapa do projeto é a busca por emprego. “Eles podem ficar três meses. No primeiro mês é para fazer documentos. Feitos os documentos, vamos para a segunda parte, que é conseguir emprego. Corremos atrás de firmas, empreiteiras“, detalha.

A terceira etapa é a reinserção na sociedade. “No terceiro mês, eles têm que deixar a casa e alugar um lugar para morar. Continuamos acompanhando“, afirma.

Desde 2020, mais de 800 pessoas passaram pela instituição, tendo a oportunidade de recomeçar suas vidas. A média de idade dos moradores atuais varia entre 19 e 40 anos, mas também há pessoas de 50 a 70 anos.

Desde 2020, mais de 800 pessoas passaram pela instituição, tendo a oportunidade de recomeçar suas vidas. Foto: Juan Lima/JB Litoral
Desde 2020, mais de 800 pessoas passaram pela instituição, tendo a oportunidade de recomeçar suas vidas. Foto: Juan Lima/JB Litoral

Compromisso coletivo


Para Padre Antônio, na casa, a participação ativa dos moradores é fundamental. “Claro que eles não ficam aqui sem fazer nada. São eles que fazem a limpeza, a comida, lavam suas roupas. Então, são os próprios moradores que contribuem para a organização e para os serviços“, enfatiza.

Segundo ele, a filosofia de envolver os acolhidos nas tarefas diárias, como limpeza, preparação das refeições e cuidados com a roupa, não apenas mantém a residência organizada, mas também promove um senso de responsabilidade e contribuição entre todos.

Além do acolhimento, a Casa Betânia oferece suporte médico, jurídico e psicológico, com a ajuda de profissionais voluntários. O acompanhamento espiritual também é realizado pelo Padre Antônio.

O espaço é mantido por doações de pessoas e empresas da região, além do apoio do Poder Municipal. “Nunca faltou comida em nossa casa; as pessoas chegam a todo momento com doações, as empresas da cidade também, assim como o Poder Municipal", conta o padre.


Transformação e esperança


Cristiano Ribeiro de Oliveira Santos, 30 anos, nascido em Curitiba, encontrou na instituição não apenas abrigo, mas uma chance de reconstruir sua vida. “Vim para Guaratuba para celebrar, como muitos. Infelizmente, meu carro foi roubado e acabei preso na cidade. Passei dois dias nas ruas e recorri ao CRAS em busca de ajuda para retornar, mas não obtive sucesso“, relembra.

Em meio a dificuldades também em Curitiba, enfrentando momentos de depressão, Cristiano ouviu falar da Casa Betânia. “Decidi vir para cá e desde então, Padre Antônio tem sido como um pai para todos nós. Se eu conseguir ser apenas 10% do que ele é por nós, considerarei isso uma grande conquista na minha vida“, afirma, emocionado.

Residindo na casa há dois anos, atualmente Cristiano contribui de maneira voluntária, monitorando as atividades no local. Seus planos futuros incluem obter a carteira de habilitação e ingressar na faculdade de Serviço Social. “Aqui é meu refúgio. O padre faz por nós muito mais do que nossa própria família faria. Às vezes, ele nos dá oportunidades que nem mesmo nossos familiares dariam“, compartilha, destacando a importância do apoio recebido para sua transformação pessoal e profissional.

Cristiano Ribeiro de Oliveira Santos, 30 anos, nascido em Curitiba, encontrou na instituição não apenas abrigo, mas uma chance de reconstruir sua vida. Ele está há dois anos no local e atualmente é voluntário na casa. Foto: Juan Lima/JB Litoral
Cristiano Ribeiro de Oliveira Santos, 30 anos, nascido em Curitiba, encontrou na instituição não apenas abrigo, mas uma chance de reconstruir sua vida. Ele está há dois anos no local e atualmente é voluntário na casa. Foto: Juan Lima/JB Litoral

Leandro José Bender, 40 anos, também encontrou na Casa Betânia a oportunidade de recomeçar sua vida. “Estou aqui há cerca de um mês. Sou natural de Pontal do Paraná, mas acabei brigando com minha família e decidi buscar um novo começo. Passei três dias nas ruas até descobrir a Casa Betânia. Vim até aqui, conversei com o padre e pedi essa oportunidade de recomeço. E é isso que o padre está fazendo, me ajudando a me reerguer“, conta.

Leandro, que trabalha como mecânico eletricista, sente gratidão pelo acolhimento e pelas oportunidades oferecidas pelo padre. “Aqui na casa, faço o que posso para ajudar. Às vezes, quando o padre precisa de mim, eu o ajudo dirigindo, cuido da manutenção do carro. Como sou mecânico eletricista, faço essa parte. Também faço bicos fora. Esse lugar é maravilhoso para quem quer sair das ruas e precisa de uma oportunidade. Basta querer!“, conclui.

Leandro José Bender, 40 anos, também encontrou na Casa Betânia a oportunidade de recomeçar. Vindo de Pontal do Paraná, ele está há um mês morando no local. Foto: Juan Lima/JB Litoral
Leandro José Bender, 40 anos, também encontrou na Casa Betânia a oportunidade de recomeçar. Vindo de Pontal do Paraná, ele está há um mês morando no local. Foto: Juan Lima/JB Litoral

Uma vida dedicada ao amor e à solidariedade


Padre Antônio, reconhecido por seu trabalho social, foi homenageado com o título de Cidadão Honorário de Guaratuba em maio deste ano, conforme a Lei Municipal nº 2061. Anteriormente, em 2018, recebeu a mesma honraria em Paranaguá, onde também deixou sua marca.

Natural de São João do Caiuá (PR), o padre, hoje com 53 anos, decidiu seguir a vida sacerdotal aos 15 anos, após um acidente que o deixou paraplégico por três anos. “Prometi a Deus que, se voltasse a andar, me dedicaria à sua obra. E assim aconteceu“, relata.

Ao longo de sua trajetória, Padre Antônio sempre se dedicou aos mais necessitados. Em Sarandi (PR), fundou uma creche que atualmente é mantida pela Prefeitura. Em Maringá (PR), estabeleceu uma casa para estudantes, proporcionando abrigo e apoio a jovens em situação de vulnerabilidade. Em Paranaguá, de 2016 a 2020, liderou a construção da paróquia Santa Josefina Bakhita. Desde 2020, está dedicado a iniciativas sociais em Guaratuba, onde continua seu trabalho de acolhimento e transformação com a Casa Betânia.

A Casa Betânia fica localizada na Avenida Visconde do Rio Branco, n° 4.224 - Balneário Nereidas. Foto: Juan Lima/JB Litoral
A Casa Betânia fica localizada na Avenida Visconde do Rio Branco, n° 4.224 – Balneário Nereidas. Foto: Juan Lima/JB Litoral

Fonte: JB Litoral
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