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Contra crise ambiental: MST conclui lançamento aéreo de 12 toneladas de sementes de árvores ameaças de extinção no Paraná

O acampamento Fernando de Lara, em Quedas do Iguaçu, foi uma das comunidades do Paraná beneficiadas com o lançamento aéreo de sementes de palmeira-juçara no primeiro dia da Jornada da Natureza, na segunda-feira (3).

Por Da Redação

08/06/2024 às 09:41:15 - Atualizado há

O acampamento Fernando de Lara, em Quedas do Iguaçu, foi uma das comunidades do Paraná beneficiadas com o lançamento aéreo de sementes de palmeira-juçara no primeiro dia da Jornada da Natureza, na segunda-feira (3). Raquel Viana de Araújo mora no acampamento e ficou emocionada por poder contribuir com a semeadura de dentro do helicóptero da Polícia Rodoviária Federal.

"Foi um dia marcante pra mim no sentido de estar semeando a palmeira na reserva. É uma emoção a gente estar lá fazendo parte do momento histórico com tantos desastres ambientais acontecendo, sendo parte do processo para contribuir com o melhoramento do meio ambiente", celebra Raquel.

Veja como foi o lançamento aéreo de sementes na reportagem em vídeo:

Só nas áreas de reserva legal do Assentamento Celso Furtados e comunidades próximas, como a de Raquel, foram lançados 4 mil quilos de sementes da juçara, considerada o açaí da Mata Atlântica. A espécie, ameaçada de extinção, foi um dos motivos para o movimento de criar a Jornada da Natureza no ano passado, no Paraná.

"Eu, como fui contemplado com um lote onde a gente ainda tem uma certa quantidade legal, me senti na obrigação de fazer algo em prol dessa espécie. Então, a partir do primeiro ano que a gente começou a colher o fruto da palmeira-juçara para extrair a polpa, a gente já começou a disseminar as sementes para vizinhos, amigos, que começaram a levar e fazer esse semeio", conta Josué Evaristo Gomes, do pré-assentamento Dom Tomás Balduíno.

"A gente identificou que passando por este processo de despolpa, há o processo de quebra de dormência. Com duas semanas, as sementes já estão todas germinando. Isso facilita que o pessoal leve e semeie porque você consegue ver um resultado logo."


Entrada do pré-assentamento Dom Tomás Balduíno / Foto: Kaique Santos

Plano Nacional do MST

A jornada também se expandiu para outras localidades do Brasil, mas o estado paranaense realizou a segunda edição nesta semana do Meio Ambiente com o lema "Semeando vida para enfrentar a crise ambiental". Bruna Zimpel, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), destaca a importância do evento.

"A gente compreende que o que está acontecendo no nosso país tanto em períodos sem chuva e de muita chuva, até com as enchentes que tem acontecido, são resultados da crise ambiental causada pelo sistema capitalista, que explora e destrói a natureza. E que aí vem gerar essa crise climática que a gente está vivenciando. Então, a gente entende que é necessário acontecer esse tipo de ações e não só nesta semana, mas durante o ano todo", pontua Zimpel.

A iniciativa é parte do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis. O projeto foi lançado pelo MST em 2020 com o objetivo de plantar 100 milhões de árvores até 2030. Nesta edição da jornada, houve visita à área de 67 hectares contemplada pela semeadura aérea de juçara feita em 2023.

As mudas estão, em média, com 14 centímetros de altura, segundo pesquisadores da Universidade Federal da Fronteira Sul que analisam os primeiros resultados do plantio. "Onde a gente viu que caiu semente, ela germinou, ela nasceu, está numa grande densidade", diz Julian Perez-Cassarino, professor da instituição.

"Se a gente ficar com 10% dessas mudas que estão presentes hoje na mata, a gente teria em média 5 toneladas de polpa por hectare. Isso a um preço de R$ 20, preço que a gente vem trabalhando, daria R$ 100 mil por hectare. Com a gente enriquecendo a mata, atraindo fauna, permitindo a regeneração de outras espécies florestais e colhendo somente o fruto", diz, sorridente, Perez-Cassarino.

"O pessoal conhecia a juçara pelo palmito. Para extrair, cada palmito é de uma árvore. Quando a gente extrai o fruto, a gente não derruba a árvore e daquele fruto, a gente aproveita a semente e semeia mais", compara o professor.

Ainda numa parte da área onde foram lançadas sementes há um ano, a palmeira-juçara cresce dividindo espaço com pinus, mostra comentando o agricultor do MST, Itacir Gonçalves Helminski. Ele chama atenção para a preservação da biodiversidade, muitas vezes afetada pela prática de monocultura.


Parte da área onde houve semeadura no ano passado: palmeira-juçara cresce em meio a pinus / Foto: Kaique Santos

"Tem esse contraste muito importante pra gente. Saber que é uma nova era, uma nova etapa que a gente tem, do monocultivo para uma biodiversidade. Em cada fitinha vermelha dessa, só nesse 1m², a gente tem três, quatro, cinco plantas ou mais da palmeira juçara", exalta o agricultor.

"Logo, logo essa palha do pinus vai se acabar e vai dar espaço pra essa planta tão rica que é a palmeira-juçara, que serve de alimentos para mais de 100 espécies de aves e de animais aqui da nossa Mata Atlântica. E também para nós seres humanos."

Pinhão e Juçara em Terra Indígena

Assim como em Quedas do Iguaçu (PR), o helicóptero da PRF foi utilizado para ação de semeadura das sementes de pinhão e da palmeira-juçara em Nova Laranjeiras (PR). As sementes foram lançadas na Terra Indígena Rio das Cobras.

Ao todo, na Jornada da Natureza, a PRF contribuiu com o lançamento de 12 toneladas de sementes. Os custos com o combustível dos voos, foram pagos graças a um patrocínio da Caixa Econômica Federal.

"Eu me sinto muito honrado, orgulhoso de estar aqui numa atividade diferente da nossa, do dia a dia. Essa aeronave foi adquirida com recursos que são voltados para isso, do Fundo de Direitos Difusos do Ministério da Justiça. E aí a gente poder aplicar ela nesta atividade deixa a gente satisfeito e feliz", afirma o comandante da PRF, Juliano Kunen, que tem família de agricultores.


Indígenas pousam com comandante em frente ao helicóptero da Polícia Rodoviária Federal / Foto: Kaique Santos

Ele interagiu com as crianças da Terra Indígena depois de outro agente da corporação explicar como funcionava a aeronave. Ainda na TI, as lideranças aproveitaram a presença de ministros como Sônia Guajajara, que participou da semeadura aérea e do plantio de mudas, para entregar uma carta com reivindicações ao governo federal.

"Várias dificuldades a gente tem nas pontas. Na educação, na saúde, na agricultura, em vários sentidos. Então, foi colocado no papel para a ministra levar e dar uma estudada pra ver o que pode ser feito pelo Paraná. Então, não foi feito só pela Terra Indígena Rio das Cobras, mas com caciques do Paraná inteiro, com muitas demandas para ela", diz o cacique Ângelo Rufino.

Últimos dias da Jornada

Em Guarapuava (PR), mais de 3 mil quilos de sementes de araucária foram despejados no Assentamento Nova Geração, na última quarta-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente. Uma marcha de camponeses do MST antecedeu o início da ação e atividades também foram feitas na cidade paranaense Pinhão. Nesta sexta-feira (7), a Jornada terminou em Antonina, no Litoral Norte. Ao todo, a iniciativa previu o plantio de 17 mil mudas de árvores nos 4 dias de programação.

Além da PRF, representantes de diferentes órgãos como Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) acompanharam os dias de Jornada da Natureza no Paraná.

"Eu acho que o lema dessa jornada tem tudo a ver: semear a vida para enfrentar a crise ambiental. Nós estamos semeando milhões de sementes, dezenas de toneladas e acho que é esse o caminho", analisa Ralph Albuquerque, superintendente do Ibama no estado.

"Os movimentos nos mostrando, mais uma vez com suas bandeiras, caminho de possibilidades para essas crises, que não é só uma crise climática, é uma crise civilizacional, é mais uma crise do capital", conclui Albuquerque.


Bandeira do MST estendida durante marcha antes de semeadura na cidade de Guarapuava (PR) / Foto: Kaique Santos

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