Uma família negra de São Sebstião do Alto, na região serrana do Rio de Janeiro, saiu feliz naquela manhã para batizar a linda bebê Jhullie, toda bem produzida para o dia especial em seu pequeno vestido branco.
Uma família negra de São Sebstião do Alto, na região serrana do Rio de Janeiro, saiu feliz naquela manhã para batizar a linda bebê Jhullie, toda bem produzida para o dia especial em seu pequeno vestido branco. O que a mãe da criança, Juliane; a tia, Symone, demais familiares e convidados do evento não poderiam imaginar é que a ocasião de festa se transformaria em um caso de polícia com imagens "viralizadas" na internet.
O padre Ricardo Pinheiro da Silva Schueller, impaciente com a criança que chorava e se agitava sem permitir que sua cabeça se inclinasse na pia batismal, não hesita meio segundo em puxar com violência o bebê para receber a água benta ⦠puxar pelo pescoço. Um "mata-leão" santo, um estrangulamento pelo bem da fé.
Nada mais simbólico para um país em que uma parcela significativa de seu povo não enxerga, ainda no século 21, humanidade e infância para crianças pretas. Há dois meses, em Duque de Caxias, também no Rio de Janeiro, mesmo em trabalho de parto, Queli Santos Adorno, de 35 anos, teve atendimento recusado na maternidade Santa Cruz da Serra. Ela deu à luz um menino, Azafe, no chão frio e sujo da recepção.
Tudo é permitido com estes corpos e com estas famílias e são muitos os casos de desrespeito, negligência médica, abandono, maus tratos com mães, crianças e suas famílias. O padre Ricardo é mais um a enxergar crianças e mulheres negras como "qualquer coisa". .
A água do batismo católico cai pesada na fronte negra e indígena há muitos séculos. Muito braço forte inclinou cabeças forçando este mergulho. No entanto, a família alvo de tanta brutalidade foi livremente ter com a sua criança aquilo que acreditava ser um momento especial de união, crença e paz. Afinal, os tempos são outros, assim dizem.
Segundo o catolicismo, ao receber o batismo, a criança inicia a sua vida religiosa, tornando-se um filho de Deus, um discípulo de Cristo, um membro da Igreja e abre seu caminho para a salvação. O padre Ricardo, o sacerdote responsável por abrir os caminhos de Jhullie na base da pancadaria, pediu desculpas pela violência no momento em que ministrava o primeiro dos sete sacramentos da fé católica (ver no final o texto divulgado), foi retirado da Paróquia e partiu para um retiro espiritual. A família, inconformada, registrou queixa. "Acabou com o nosso dia", disse a tia Symone.
No entanto, nem o pedido de desculpas do padre e nem as providências policiais tomadas pela família são capazes de apagar a dura imagem tão simbólica do bebê negro choroso sendo estrangulado pelas mãos do padre branco. Esta imagem foi gravada há poucos dias, mas ela já aconteceu antes e não estragou apenas o dia da família do bebê de São Sebastião do Alto, mas a vida de muita gente ao longo de muitos séculos, dos "pagãos" que aqui já estavam ou que para cá vieram sequestrados.
No tocante a religião, a história do Brasil é a mesma do bebê Jhullie no dia de seu batizado.
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"Caríssimos irmãos! Movido pelo espírito de Concórdia e de paz, quero pedir perdão a todos os que se sentiram entristecidos por minha atitude no dia de ontem, 25/05, na paróquia de São Sebastião. Reconheço minha falta de caridade com a família, a criança e os convidados. Ao término do batismo a família entrou em contato comigo na sacristia. Pude pedir perdão pelo ocorrido, embora não tenha sido intencional. Dom Luiz, nosso bispo, conversou comigo e passou suas orientações e correções. Conto com a compreensão e orações de todos! A vida é um aprendizado e em todas as ocasiões Deus quer nos santificar e nos purificar. O zelo pelos sacramentos deve estar acompanhado pelo espírito da caridade fraterna e solidária. Que Deus nos abençoe!
Pe. Ricardo Pinheiro da Silva Schueller, administrador paroquial”.