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Morre Margot Benacerraf, pioneira do cinema venezuelano que fez sucesso entre "montanhas de sal"

Margot Benacerraf chegou ao festival de Cannes acompanhada da mãe e de uma lata com a sua obra-prima, “Araya”, debaixo do braço.

Por Da Redação

29/05/2024 às 18:58:02 - Atualizado há
Foto: Brasil de Fato MG

Margot Benacerraf chegou ao festival de Cannes acompanhada da mãe e de uma lata com a sua obra-prima, “Araya”, debaixo do braço. Era 1959, ano do início da sua cruzada para promover o cinema venezuelano, objetivo pelo qual lutou até a morte, nesta quarta-feira (29), aos 97 anos.

A família de Benacerraf relatou a morte em Caracas da premiada cineasta, fundadora da Cinemateca Nacional da Venezuela (1966), viveiro de novas gerações de cineastas e promotora de festivais de cinema no país.

“la era uma mulher absolutamente avançada e vanguardista”, disse à AFP Alexandra Cariani, diretora da Fundação Margot Benacerraf, que trabalhou com a cineasta durante nove anos.

Benacerraf fez dois filmes: “Reverón” (1952), curta-metragem em homenagem ao pintor venezuelano Armando Reverón, considerado um dos artistas mais importantes do século XX na América, com quem foi a Cannes em 1953, e depois ” Araya” (1958), uma docuficção poética sobre a vida dos trabalhadores das minas de sal do nordeste do país, que foi indicada à Palma de Ouro no ano seguinte.

“Orfeu Negro” foi o vencedor, mas “Araya” recebeu o prêmio da crítica internacional, FIPRESCI, e lançou Benacerraf à fama. “Ela chega sem apoio de nenhuma distribuidora, chega com o filme debaixo do braço”, diz Cariani.

“Estava com sua mãe quando recebeu o prêmio.” “É uma façanha, uma façanha do cinema latino-americano, venezuelano e tudo mais. Margot é uma pioneira em todos os sentidos”, acrescenta.

– ‘Epopeia’ –

Benacerraf rebelou-se contra o estereótipo da mulher judia da alta sociedade que deveria se casar com um empresário e ter filhos. Na verdade, ele nunca se casou, nem teve filhos.

Depois de estudar Filosofia e Letras na Venezuela, ganhou uma bolsa de três meses para estudar no Departamento de Teatro da Universidade de Columbia, em Nova York, onde teve seu primeiro contato com o set cinematográfico.

Seu fascínio a levou a continuar seus estudos na França. “Um formação extremamente exigente”, afirma Cariani.

“Seu modus operandi era rigoroso”, continua. “Ela mergulhava 100% no assunto que iria abordar.”

E foi o que fez com “Reverón”, instalando-se na residência do pintor, e depois com “Araya”, cujo nome vem da remota península onde estão localizadas gigantescas minas de sal na Venezuela.

A pré-produção durou dois anos, entre pesquisas em arquivos da Europa e visitas aos locais que viviam do sal. Benacerraf então filmou por mais de duas semanas.

“Não via o que havia filmado até que o filme viajou para a França para ser revelado”, diz Milvia Villamizar, chefe do acervo da fundação. “A pós-produção foi uma epopeia, titânica”, acrescenta Cariani.

A primeira versão tinha três horas de duração, mas Cannes mandou reduzir porque era muito longa.

– Picasso e García Márquez –

Após a premiação, Benacerraf levou seu filme para outros festivais internacionais, embora só tenha sido lançado em seu país em 1977.

Para as distribuidoras “parecia um risco, era muito estranho, muito autoral”, diz Cariani. Benacerraf não lançou outro filme.

Tinha roteiros prontos que não se concretizaram, como o de “La cándida Eréndira”, inspirado no livro de Gabriel García Márquez, que acabou lhe tirando os direitos.

“Ela demorou muito e García Márquez estava com pressa para fazer o filme”, lamenta Cariani. “Foi um episódio muito incômodo na vida dela, muito triste, muito injusto.”

O outro grande golpe em sua carreira foi com Pablo Picasso, que “a procurou para filmá-lo, não como pintor, e sim em seu cotidiano”. Mas depois de se separar da artista francesa Françoise Gilot, Picasso “afundou na depressão e foi o fim do projeto”, acrescenta Villamizar. Ela nunca mais teve acesso ao pintor e o material foi perdido.

Benacerraf permaneceu ativa até pouco antes de sua morte, sempre apostando com grande intensidade no cinema venezuelano. E “Araya” continua sendo um clássico, seu legado.

“É um filme que cresce com o tempo, que continua fascinando”, destaca Cariani.

Fonte: Isto É
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