Com o recuo da água acumulada nas ruas dos municípios gaúchos, o problema mais visível que a população enfrenta agora é o acúmulo de lixo, móveis destruídos, eletrodomésticos irrecuperáveis e tantos outros pertences.
Com o recuo da água acumulada nas ruas dos municípios gaúchos, o problema mais visível que a população enfrenta agora é o acúmulo de lixo, móveis destruídos, eletrodomésticos irrecuperáveis e tantos outros pertences.
É preciso que seja aberto espaço para a limpeza, o primeiro passo do longo processo de reconstrução. E é agora que Rodrigo Clemente quer entrar em ação, ajudando com o que faz de melhor: recolher e reciclar o lixo, ou ressignificar, como gosta de dizer.
Rodrigo é CEO da Blzera, uma empresa de reciclagem paulista que está mobilizando caminhões e carretas para levar 18 mil toneladas de lixo do Rio Grande do Sul para separar e vender em São Paulo. O lucro da operação será usado para comprar eletrodomésticos que serão doados aos que perderam tudo com o desastre climático.
"Esperamos levantar R$ 15 milhões de reais com essa ação", disse ao ICL Notícias. Ele acredita que vai ser possível mobilizar pelo menos 600 carretas e quer aproveitar as que já estão no Rio Grande do Sul, onde deixaram toneladas de donativos. Elas não precisam voltar a São Paulo vazias, podem transportar o lixo que os gaúchos tanto precisam retirar do estado.
Um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com o Instituto MoxDebris, estima que o estado terá que lidar com um total de mais de 46 milhões de toneladas de resíduos. A pesquisa leva em consideração todo o estrago provocado em casas e escritórios, nas estruturas, nos móveis e nos equipamentos urbanos e industriais.
Fez também um levantamento para cada uma das sub-bacias do estado afetadas pelas chuvas: Gravataí, Sinos, Guaíba, Caí, Pardo, Jacuí e outras. Segundo o estudo, 400 mil estruturas foram total ou parcialmente inundadas no estado. Os técnicos lembram que essa é uma primeira avaliação que precisa ser refinada com uma confirmação nos locais.
Talvez fosse melhor reciclar tudo isso por lá mesmo. Mas não seria nada fácil. Segundo Rodrigo, 5 dos 7 pontos de reciclagem que existem em Porto Alegre, por exemplo, estão debaixo d"água.
Nos demais municípios, ainda não se tem uma conta mais precisa a respeito da situação da rede de coleta, separação e reuso dos recicláveis. Rodrigo está convencido de que a dimensão do problema que o Rio Grande do Sul enfrenta ainda não ficou clara para a maior parte do país.
Mais de 400 municípios sofreram com a enchente e vão precisar retirar o que se acumulou nas ruas e nas casas para poder pensar em retomar a vida. Rodrigo viu de perto a enchente de fevereiro do ano passado em São Sebastião. Sabe bem que o pior vem agora, quando vai dando lugar à verdadeira dimensão da catástrofe tornando o problema mais palpável e visível.
"Até o mês passado ainda tinha lixo da enchente de mais de um ano nas rodovias", conta. Ou seja, o problema não vai se resolver de uma hora para outra. Por isso ele está agregando outros parceiros no projeto: uma fundação do Rio Grande do Sul e uma grande empresa de varejo, por exemplo. E também vai entrar em contato com as cooperativas de catadores, que precisam trabalhar e podem contribuir com o processo.
Por Heloísa Villela