Para ajudar na participação de indĂgenas no Concurso Nacional Unificado, sobretudo para as vagas na Fundação Nacional dos Povos IndĂgenas (FUNAI), a Indigenistas Associados (INA) e a Associação Nacional dos Servidores da Funai (ANSEF) abriram uma vaquinha para arrecadar fundos e custear o deslocamento para a realização das provas. A campanha, que se encerra na próxima sexta-feira (19), foi intitulada como "Indigenizar a Funai".
No entanto, até o momento só foi arrecadado R$ 11.349,60, cerca de um quinto dos R$ 50.000,00 necessĂĄrios, o que não é suficiente para os custos. A iniciativa apoia cerca de 1500 indĂgenas que realizarão o concurso no próximo dia 5 de maio.
Neste ano, pela primeira vez, os indĂgenas tĂȘm uma reserva de 30% de vagas no concurso da Funai, de um total de 502 vagas disponĂveis para entrada no órgão via CNU. O Ministério da Gestão e Inovação no Serviço PĂșblico (MGI) divulgou que foram recebidas 9.339 inscrições de candidatos autodeclarados indĂgenas.
"Nós estamos buscando recursos para ajudar os que mais tĂȘm dificuldades financeiras a se deslocar para poder chegar ao local de prova. A gente fez a vaquinha, conseguimos uma arrecadação inicialmente com o pessoal que estava no nosso entorno, os servidores e as pessoas que acompanham a pauta indigenista", explica João Kafã, da Indigenistas Associados.
O deslocamento dos indĂgenas das aldeias até as cidades onde as provas serão realizadas é uma das principais dificuldades para a participação no concurso. Alguns, que residem em regiões mais isoladas, precisam se deslocar de avião, com custo de aproximadamente R$ 1.400 pelos trajetos de ida e volta. Outros precisam se deslocar de ônibus, com custo médio de R$ 200, e hĂĄ também os que irão aos locais de prova de barco.
"A prova é em perĂodo integral, o portão fecha às 8h30, o exame começa às 9h e tem um intervalo no meio do dia que vai até 18h. Isso implica gastos para muitos deles chegarem pelo menos um dia antes da prova, com custo de hospedagem e alimentação", acrescentou João Kafã.
Além da ajuda no deslocamento, a campanha, em sua primeira etapa, também ajudou os indĂgenas a realizar a inscrição no Concurso PĂșblico Nacional Unificado. Também foram oferecidos cursos de apoio e material para estudo para as provas. O ICL apoiou o projeto.
A Indigenistas Associados é uma entidade formada principalmente por servidores da carreira indigenista, sobretudo da Funai. O órgão historicamente possui indĂgenas em seus quadros de funcionĂĄrios, sobretudo como monitores bilĂngues, que falam portuguĂȘs e lĂnguas nativas. A entrada dos indĂgenas na Funai, no entanto, tem sido mais difĂcil nos Ășltimos anos.
"A maioria desse grupo entrou sem concurso. A partir de 1988, começou a ter concurso pĂșblico, o que dificultou muito para os indĂgenas entrarem porque é uma outra cultura, um outro jeito de aprendizado e de estudos. É fundamental que se tenha essas pessoas na Funai, que consigam fazer a tradução não só da lĂngua, mas também a tradução cultural", explica João Kafã.
"Teve um concurso em 2010 que muitos indĂgenas participaram, porém não existiam cotas. Pelo que me lembro, somente cinco indĂgenas passaram das mais de 400 vagas. No entanto, para chegar ao local de prova, a Funai teve condições financeiras de bancar vĂĄrios indĂgenas. Mas passamos por um governo [Bolsonaro] que onerou muito a Funai em orçamento. O primeiro ano de orçamento do governo Lula é agora este ano. Ou seja, não deu tempo de levantar os recursos para ajudar os indĂgenas a realizarem a prova", completou.
As contribuições para a campanha "Indigenizar a Funai" podem ser feitas através do site da vaquinha. Até o momento, na manhã desta quarta-feira (17), a campanha havia arrecadado R$ 11.349,60, com a contribuição de 137 apoiadores.
*Gabriel Gomes é estagiĂĄrio, sob supervisão de Chico Alves
Por Gabriel Gomes*