PolĂ­tica Distrito Federal

Mulheres ganham em média 8% a menos que homens no Distrito Federal

Por Brasil de Fato

27/03/2024 às 09:38:24 - Atualizado hĂĄ

Em geral, os salĂĄrios das mulheres são menores que os homens em todo o Brasil, mas essa desigualdade salarial é maior em alguns estados como no EspĂ­rito Santo e ParanĂĄ e apresenta a menor taxa no Distrito Federal, em que as trabalhadoras ganham em média 8%. Os dados são do 1Âș Relatório Nacional de TransparĂȘncia Salarial e de Critérios Remuneratórios e apontou que as mulheres brasileiras ganham em média 19% menos que os homens.

Apesar de bem menor que a média nacional, diferença salarial entre homens e mulheres no DF também é considerada alta pela professora Hayeska Costa Barroso, pesquisadora do NĂșcleo de Estudos e Pesquisa sobre Mulher da Universidade de BrasĂ­lia. "Aqui no DF nós temos uma grande parcela da população que trabalha no serviço pĂșblico, com estabilidade e o processo de seleção por meio de concurso pĂșblico, estabilidade e salĂĄrios maiores que a grande massa da classe trabalhadora", afirmou Hayeska, ressaltando que a diferença salarial no DF ainda é alta.

Na avaliação da pesquisadora, questões históricas e estruturais da sociedade servem para explicar essa desigualdade. "Só encontrar a justificativa dessa diferença salarial na realidade da predominÃÂąncia do serviço pĂșblico no DF pode nos levar a um engano. No sentido de que a gente veja só a ponta do iceberg, sem entender as camadas históricas e sociais que o encobre", enfatizou Hayeska rechaçando um discurso da meritocracia. "Nós até temos homens e mulheres concorrendo as mesmas vagas, mas serĂĄ que realmente são as mesmas condições históricas e sociais de acesso", indagou a pesquisadora, questionando ainda se as mulheres tĂȘm as mesmas condições que um homem para passar o dia inteiro para passar num concurso e lembrando das tarefas domésticas, que são historicamente atribuĂ­das às mulheres.

"O que acontece é que mesmo ocupando as mesmas posições, nós vamos ter mulheres recebendo salĂĄrios inferiores aos salĂĄrios pagos para homens que ocupam essa mesma posição" destacou a pesquisadora da UnB ao falar sobre a diferença salarial em geral. "Porque dentro da divisão sexual do trabalho, o lugar que a mulher ocupa, que é uma divisão social patriarcal do trabalho, e subalternizado, inferiorizado, desprestigiado, por nenhum outro motivo aparente, apenas pelo fato de que o processo de dominação masculina também se expressa aĂ­", acrescentou.

Mulheres negras

O estudo mostra que no Brasil as mulheres negras são o grupo com menor remuneração, enquanto os homens brancos recebem os menores salĂĄrios. Na média nacional, uma mulher negra recebe em média 47% a menos que um homem branco. Diferente do que acontece com os nĂșmeros gerais, a pesquisa aponta uma relação muito parecida da comparação nacional em relação a remuneração de mulheres negras no DF. Em média, as mulheres negras do DF recebem 45% a menos que os homens brancos.

A pesquisadora Hayeska lembrou que os dados do DF apontam que concurso pĂșblico, que muitas vezes é visto como um caminho para tentar diminuir essa desigualdade salarial. "Como é que a gente pensa quem são as pessoas que fazem concurso pĂșblico e são aprovadas? Quem são essas pessoas? Quando a gente pensa quem são os sujeitos que ocupam majoritariamente a chamada classe média no Distrito Federal?", questionou a professora.

O governo do Distrito Federal e o Governo Federal contam atualmente com polĂ­ticas de cotas no serviço pĂșblico, mas os efeitos ainda são limitados, tendo em vista o tempo da implementação e o histórico de desigualdades de gĂȘnero e racial em todo o Brasil, incluindo a capital. "Por mais que a gente tenha hoje em dia uma polĂ­tica de cotas nos concursos pĂșblicos, uma polĂ­tica de cotas raciais, hĂĄ que se considerar que a gente vem de uma tradição histórica em que as cotas são muito recentes", acrescentou Hayeska.

Governo Federal e do DF

Após a divulgação do relatório a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, destacou que os dados não apenas lançam luz às desigualdades salariais, mas representa um chamado à ação coletiva e mudança cultural para enfrentar desafios persistentes e garantir direito e dignidade para mulheres trabalhadoras. "A lei da igualdade salarial é determinação do presidente Lula, mas é exigĂȘncia mundial, não podemos conviver com esses nĂșmeros como estão colocados", destacou a ministra das Mulheres.


Cida: "não podemos conviver com esses nĂșmeros como estão colocados" / Juliana Eliziario/Ministério das Mulheres

O Brasil de Fato DF entrou em contato com a Secretaria da Mulher do Distrito Federal, para comentar os dados, mas até o fechamento dessa matéria a Pasta ainda não havia respondido.


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