Política

Corpos negros que balançam na corporeidade

Se há uma imagem que mexe com meus pensamentos é ver corpos não estáticos, e as imagens de corpos negros e suas culturas subvertendo ordens eu fico deslumbrado! Nas culturas de matrizes africanas os corpos não são somente pedaços de carnes, músculos, veias e ossos, são muito além destas representações puramente físicas.

Por Da Redação

08/03/2024 às 01:48:30 - Atualizado há
Foto: Reprodução internet

Se há uma imagem que mexe com meus pensamentos é ver corpos não estáticos, e as imagens de corpos negros e suas culturas subvertendo ordens eu fico deslumbrado!

Nas culturas de matrizes africanas os corpos não são somente pedaços de carnes, músculos, veias e ossos, são muito além destas representações puramente físicas.

Nossos corpos são ferramentas de interação e interligação social, cultural, espiritual e política, pois envolvem muitas formas de se comunicar com seus diversos órgãos que se transformam em um organismo que se faz em um todo interrelacional.

Nas tradições de matrizes africana (candomblé), estes órgãos são verdadeiros emissores de significados e sentidos, pois contém Axé (potência vital), não confundi com Axé Music, um ritmo baiano que enriqueceu muita gente branca, menos a sua gente negra!

Há um desabrochar de uma corporeidade sensível por parte dos adeptos destas tradições, seus membros (órgãos), não tem somente utilidades físicas, lógicas e racionais de forma utilitária, muito ao contrário, eles vão nos dando sentidos e códigos que se mostram conforme os sentidos são provocados ao longo da vida.

Eles dizem, se comunicam muitas vezes em uma maneira própria destes corpos e órgãos que são negros, mediante suas histórias e culturas.

Não dá pra encapsular estas formas de comunicação conforme os conceitos de comunicação que fomos adestrados/domados a pensar, as comunicações destes corpos nem sempre aconteceram a partir de sons, mas de outros jeitos e formas muitas vezes inaudíveis aos surdos coloniais, Exu que o diga!

Seja a partir do olhar, expressões faciais, trejeitos do corpo, os códigos nas vestimentas e adornos, suas pinturas rituais, os sonhos que vem como mensagem das dimensões de nossos ancestrais e divindades, estas comunicações só serão percebidas pelos que pertencem e vivenciam estas tradições e seus sentidos.

Algumas vezes ouvi dos mais velhos dizer que “o corpo fala” e que “hum hum – quer dizer é coisa!” seja de aprovação ou de negação.

Estar dentro destes contextos significacionais é fruto de um aprendizado vivencial de observação e muita paciência, em outro texto nesta coluna já falei sobre “Suru” a paciência, e de como é importante que absorvamos ela para que não sejamos apressados, “pois apressado come cru”.

Trazer estas questões dos corpos e sua corporeidade negra somente no âmbito religioso, é no mínimo reducionista colocando a discussão de forma rasa, pois o que se tornou religiosidade de matriz africana, foi fruto das ressignificações históricas entre trocas dos povos africanos e outras tradições, algumas colonizadoras, que tem em seu cerne a institucionalização religiosa cristã dominante enquanto referencial religioso para todos.

Pronto nos ferramos!

Ressignificação sincrética, não houve alteridade, só apagamento!

Tais trocas, foram nefastas para estes corpos, pois fez com que perdêssemos muitas características culturais africanas de suma importância no que concerne a uma linguagem comunicacional própria de nossos corpos e povos.

Voltando aos povos de candomblé, destes corpos que se tornam corporeidade, falam e se abrem a outras experiências que permite que se reencantem, seja na vinda de suas divindades ancestrais neste corpos que estão abertos e ligados neste mundo perceptivo na espiritualidade afrobrasileira, seja em uma identidade própria que muitos não conseguirão interpretá-las e dirão que não temos uma filosofia identitária de nossos corpos e corporeidade.

Estes corpos não são estáticos, imóveis sem funções distintas, desconectados dos outros órgãos que o faz parte conjunta.

Seja dançando, cantando, batucando, estas danças, cantos e batuques, permitem que histórias e memórias ancestrais se materializem neste corpo vivo atemporal e quântico, em que passado presente e futuro fogem a uma ordem cronológica de tempo e espaço determinado e estabelecido.

Balancem os seus corpos, remexam, se bulam, não fiquem imóveis frente aos diversos represamentos que somos atravessados nas negações de nossos corpos distintos.

Não deixem matarem suas corporeidades, não deixem de sentir, não deixem de se arrepiar ou arrupiar!

 

 

 

Fonte: ICL Notícias
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