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Soja não-transgênica em assentamentos da reforma agrária avança após parceria entre Embrapa, MST e UFSCar

Uma festa em Buri, no interior de São Paulo, neste sábado (2) marcou a experiência do uso de sementes de soja não-transgênica em assentamentos da reforma agrária localizados nas regiões Sul e Sudeste do país.

Por Da Redação

03/03/2024 às 19:15:11 - Atualizado há
Foto: Reprodução internet

Uma festa em Buri, no interior de São Paulo, neste sábado (2) marcou a experiência do uso de sementes de soja não-transgênica em assentamentos da reforma agrária localizados nas regiões Sul e Sudeste do país. Iniciado há três anos, o projeto envolve a variedade BRS 284, desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A celebração foi realizada no campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), localizado em Buri, onde a iniciativa foi 'semeada' em 2021. Na época, representantes da Cooperativa da Terra visitaram a instituição de ensino com o propósito de firmar laços pela autonomia camponesa e disponibilização de alimentos saudáveis.

"A semente é a base fundamental da agricultura. Se o produtor não tem a semente, ele não tem controle do que vai produzir. Além disso, temos discutido com a universidade a disseminação do uso de insumos biológicos", destaca Adalberto de Oliveira, presidente da Cooperativa da Terra, que ressalta também a efetivação de políticas públicas, formando um tripé entre a agricultura familiar e as instituições de ensino.

A atividade contou com a presença de João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Paulo Teixeira, ministro do MDA; Ana Beatriz de Oliveira, reitora da UFSCar; e Silvia Massruhá, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Resultados

Na primeira safra do projeto, foram plantados 29 hectares e colhidas 1.400 sacas de soja não-transgênica. Após os testes de germinação e vigor, seguindo os padrões de certificação do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), 1.000 sacas de sementes foram destinadas para o plantio em assentamentos no Pontal do Paranapanema, além do sudoeste paulista, norte do Paraná e regiões do Rio Grande Do Sul.

A utilização de sementes não-transgênicas possibilita dispensar uma série de insumos que fazem parte dos 'pacotes' transgênicos, como fertilizantes e agrotóxicos. Assim, as famílias camponesas ganham em autonomia para desenvolver um agroecossistema mais sustentável em aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais.

"É um passo fundamental para a transição do modelo de produção [agrícola]. Ter o controle das sementes é ter a condição 'número um' para dar autonomia aos agricultores, para planejar a produção e não ficar refém do 'pacote do veneno' oferecido pelas empresas do agronegócio", destaca Adalberto de Oliveira, que também é da direção estadual do MST em São Paulo.

De acordo com a organização do projeto, a experiência com a semente BRS 284 em assentamentos da reforma agrária revelou uma variedade com boa resposta aos insumos biológicos e maior resistência ao clima e ao bioma dos territórios. No sentido contrário, a utilização de espécies transgênicas condicionam o 'ciclo vicioso' de pagar insumos que podem contaminar o meio ambiente, gerar dependência financeira e produzir alimentos menos confiáveis para o consumo humano ou animal.

O diretor do Campus Lagoa do Sino da UFSCar, Alberto Luciano Carmassi, aponta que a relação estabelecida com o Movimento nos últimos três anos permitiu à universidade um maior contato com a realidade dos assentamentos e das famílias que produzem nessas áreas. "Essa parceria com as cooperativas nos ajudou a entender um pouco mais essa forma de organização. Esse processo está sendo muito interessante para nos sensibilizar e entender o quanto as cooperativas são importantes, não apenas do ponto de vista dos cooperados, mas o quanto elas são importantes para o fornecimento de alimentação saudável, como por exemplo a alimentação escolar. Então é uma parceria que vem se fortalecendo na produção de semente e dessa produção de semente a gente já quer ampliar também para o manejo. A gente entrega a semente, faz uma capacitação, um aprendizado conjunto nos assentamentos sobre o manejo por meio de insumos biológicos para desenvolver essas culturas, principalmente da soja e do feijão", explica Carmassi.

A soja é uma das principais commodities do mercado brasileiro e está sob controle das grandes transnacionais. Importante fonte de proteína, o grão não transgênico aponta o sentido da transição agroecológica e da mudança da matriz produtiva, menos predatória, mais sustentável, em consonância com a preservação do meio ambiente e enfrentamento às mudanças climáticas.

A produção de semente de soja não-transgênica é a mais consolidada até o momento na parceria, mas já existem experimentos em variedades de feijão. A experiência espera também avançar para milho não-transgênico e sorgo. Além da Cooperativa da Terra, a parceria inclui a Rede de Sementes Agroecológicas Bionatur.

"Essa iniciativa na produção de sementes de soja não-transgênica, simbolicamente, é muito importante, para fazer frente ao modelo do agronegócio e também pelo fato de disponibilizar mais sementes às nossas cooperativas e ao nosso povo", destacou Alcemar Adílio, presidente da Bionatur, que há mais de 25 anos dedica-se à produção de sementes para a transição agroecológica.

Parcerias

A Festa da Colheita neste sábado (2) também marcou a retomada do Programa Mais Gestão, iniciativa do Governo Federal para o fortalecimento da agricultura familiar. Na ocasião, foi oficializada a parceria entre a UFSCar e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).

O foco da ação é apoiar e qualificar a gestão de empreendimentos da agricultura familiar através de atividades de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater). Especificamente, serão desenvolvidos suportes às cooperativas para otimizar a comercialização dos alimentos produzidos. O Mais Gestão atua diretamente no apoio técnico para a participação coletiva no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Além disso, a ocasião também firmou as intenções entre a UFSCar, MDA e Embrapa para a criação do Polo de Inovação e Transferência de Tecnologia Sustentável para a Agricultura Familiar, voltado para o desenvolvimento de tecnologia para o setor.

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