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O poema de Cecília Meireles que é um chamado à vida

Nesta seção, o ICL Notícias resgata textos, imagens e sons que façam o leitor dar uma pausa na marcha imediata dos fatos para refletir com autores geniais do Brasil e outros países.

Por Da Redação

02/03/2024 às 21:07:00 - Atualizado há
Foto: Reprodução internet

Nesta seção, o ICL Notícias resgata textos, imagens e sons que façam o leitor dar uma pausa na marcha imediata dos fatos para refletir com autores geniais do Brasil e outros países. Hoje publicamos uma poesia de Cecília Meireles, a poeta que nasceu no bairro Rio Comprido, no Rio de Janeiro, em 1901, e viveu até os 63 anos, deixando um obra profundamente marcada por reflexões sobre a morte, um tema recorrente na obra da poeta que se tornou órfã aos três anos de idade. O poema Cântico VI é do livro Cânticos (1927), publicado quando Cecília tinha 26 anos.

 

Cântico VI

Tu tens um medo: acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo…
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos…
Enganados…
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor…
… E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que é eterno.

Fonte: ICL Notícias
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